15 maio 2013

O revés de Paris



Eu, que sou bem mais romântica do que gostaria e uma otimista incorrigível, achei difícil encontrar o lado bom de terem roubado o meu iphone novinho sem que eu me desse conta. Foi em Montmartre, enquanto eu subia o transporte fulicular. Ou na porta da igreja em Sacre Coeur. Ou tiraram à vontade, com tempo para escolher o que queriam enquanto eu posava para um artista local fazer o meu retrato. Pode também ter sido o artista, mas esta eu prefiro deixar para a última hipótese pelo tanto que eu adoro e respeito os aristas.
Fato é que em um momento ele estava na mochila e no outro não. Fiquei com cara de boba, ligando pro meu número de um telefone público, rodando pelos mesmos lugares, perguntando se alguém viu.
Demorou uma hora até cair a ficha do “já era”. E pela cara das pessoas para quem eu perguntava, parece que esses roubos são tão triviais quanto o encantamento das pessoas pela beleza da cidade.
Fiquei impressionada com a quantidade de pessoas nos pontos turísticos sendo que ainda não estamos na alta estação, que tem seu pico no mês de julho. Acho que a cada dez quadros no Louvre há uma placa nos advertindo para termos cuidado com a bolsa. No Castelo de Versalhes pulei uma meia dúzia de aposentos e fui para o jardim respirar de tão cheio que estava o lugar. Como apreciar a arte com centenas de pessoas à sua frente tirando fotos, conversando e disputando espaço?
Só de brasileiros na agência que contratei, chegaram novecentos no último sábado. O guia me explicou que não dá para limitar a quantidade de pessoas nos museus porque os turistas vêm do mundo inteiro para passar pouquíssimos dias e se não for assim não dá pra ver tudo. No que isso vai dar?
Como acontece no Pelourinho com as fitinhas do Bonfim, aqui também há pessoas nos oferecendo de maneira incisiva as miniaturas da torre Eiffel. Presenciamos uma manifestação que deveria ser de alegria pela vitória do Paris Saint Germain, mas que virou algazarra com gritaria e vandalismo pela Champs-Elysées. Tivemos que nos esquivar de latas no Bateau Mouche, jogadas por alguns torcedores da ponte. Na mesma noite desistimos de entrar no metrô porque a polícia entrou para pegar um grupo desses.
Enfim, nem tudo são tulipas por aqui. Vejo que a situação do lugar onde eu moro não é a única ruim. Os países mais estruturados também enfrentam crises financeiras e sofrem as consequências do desemprego e da pobreza, o que é péssimo, bom seria que as pessoas estivessem melhorando as coisas em todos os lugares.
Mas como defendo a ideia de que quem está no playground é para brincar, escolho a opção de seguir curtindo a viagem focando no lado bom das situações. A minha mãe, por exemplo, ganhou com este roubo mais várias horas de atenção, mas ela jura que não jogou praga. Ela reclama pra caramba da minha relação, digamos, intrínseca com o celular. É sério, hoje eu quase chorei duas vezes, uma quando fui arrumar a mala e vi o cabo branquinho tão bonitinho do bichinho e a outra quando ouvi o sinal de mensagem do gêmeo dele, da pessoa que estava ao meu lado, senti até uma pontada no coração.

Por essas e outras, foi melhor me roubarem sem que eu percebesse, pelo menos não me assustei e não sofri de ver levarem o meu queridinho. Voilà, vamos pensar positivo que isso deixa Paris mais bonita e a vida menos dura, e se for para nos roubarem, que pelo menos seja à francesa.



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