31 agosto 2011

Manhattan Beach, nice to meet you!


A chegada foi ótima. Também com um loirão me esperando com meu super Jeremy e um carro extra para as bagagens, como poderia ser ruim?. Ele nos levou para uma casa que ele alugou a 15 minutos do aeroporto em um lugar Incrível chamado Manhattan Beach dentro da grande LA. A idéia era me mostrar mais duas áreas, South Pasadena e Rancho Palos Verdes, mas uma vez aqui não há como sair.




Foi amor a primeira vista. MB é uma cidadezinha de praia que me lembra San Francisco pelas ladeiras que nos levam para o mar. Aqui todas as escolas são nota dez, o clima é nota onze, há um bom comércio local, vários restaurantes, lojas, salões e academias que dá para ir andando.





A ciclovia e a pista de cooper na praia é um algo mais, até quem não gosta de malhar se inspira. Tudo com muito charme, muitas crianças e pessoas sorridentes. Um sonho não?





Mas não um sonho barato. Eu que cheguei com um orçamento na cabeça para uma casa de quatro quartos que fosse perto do comércio, da escola e da praia, logo tive que ir baixando a bola e ficando mais e mais flexível, tudo por MB! Viemos parar em uma de três quartos, pagando mais do que pensei (tem nada não, economiza-se em outras coisas) não tão perto da praia nem tão perto da rua, mas pertinho da escola das meninas, que é o mais importante. Elas chegam andando em cinco minutos!

Quem não gostou muito do quarto foi o filho, achou pequeno. Mas é o que PIF bem falou; ele tem que estar muito feliz por ter um quarto só pra ele. Nos States (ou em qualquer lugar) ou se escolhe morar folgado em uma casa imensa sem ter nada a sua volta ou se escolhe viver apertado e ter um mundo de opções ao seu redor.



Letra b, please. Aqui está a família experimentando o estilo californiano de viver, onde as pessoas dividem quartos e fazem de garagens sala de estar, só para estar a alguns passos da praia.




O estilo das casas é bem interessante, chamam-se town houses. Como o preço do metro quadrado é caro, os terrenos são pequenos e as casas crescem para cima. Geralmente têm três andares, em baixo ficam os quartos, banheiros, lavanderia e garagem e em cima ficam a cozinha integrada com o living-room e a varanda para valorizar a vista pro mar. Várias ruas são fechadas (como esta da foto abaixo) para as crianças poderem brincar.



Finalmente está tudo em ordem. Em uma semana conseguimos encontrar a casa, trazer a mudança do depósito e nos instalar. Tudo já está arrumado, as crianças começaram a escola hoje e o pacote internet/cabo/telefone chega amanhã.

Parece que foi fácil, mas não. Encontrei pelo caminho corretores preguiçosos e desconfiados. Teve um que me pediu um ano de aluguel adiantado mais três meses de depósito caução para o caso de meus filhos ou meu Au estragarem alguma coisa. Vai catar! Teve casa esquisita e mal assombrada, com banheiros pretos e energia pesada. Imagine que em cinco minutos por lá a minha mãe caiu na entrada e Steve bateu o fundo de Jeremy no carro da corretora. Será que foi vingança? Haha! Tadinho...

Ele foi maravilhoso, tirou a semana sem ir ao escritório só para me levar de um lado pro outro, ligar para os tais dos corretores e me ajudar a negociar. Teve dia de andarmos por mais de duas horas de um lado pro outro anotando os números nas placas.

Mas tudo valeu a pena! Estamos muito felizes! Abrindo os dentes para todo mundo para facilitar o processo de produção de novos amigos. Amando sermos novos na área, brasileiros, curiosos e cada vez mais descolados.

Dá até medo de viciar nessa história de mudar. Virar uma família itinerante bem interessante, bem adaptados ao novo, candidatos à cidadãos no mundo. Só depende de eles concordarem porque por mim, já é! Quero sair por aí contando histórias, esse é o meu sonho. E para contar as histórias só preciso de alguns leitores Incríveis. Enquanto vocês continuarem aí sigo mudando, pensando e escrevendo.

Então cheguem mais! Sejam vocês queridinhos, muito bem vindos à super fase IF em Manhattan Beach!

26 agosto 2011

Cruzes e porquês


Saem Vitória e suas filhas Susie e Nanda para comprar mochilas para escola em um shopping. Param em uma praça de alimentação, cada uma escolhe um prato em um restaurante diferente; “V” vai de sanduíche light, “S” de comida chinesa e “N” de spaguetti.


Depois dos primeiros dez minutos de refeição, Susie diz:

- Puxa... Se eu pudesse voltar o tempo teria escolhido outra coisa, esse macarrão está com muita cebola!

A IF mãe V, que há uma semana não sentava pra comer com calma ou conversar com as crianças, decide aproveitar esse gancho pra puxar um assunto diferente com as duas, enquanto separa a cebola num canto do prato:

- E se fosse possível? Se vocês realmente pudessem voltar o tempo e passar uma hora no passado, o que fariam?

N, que há alguns minutos tinha jogado alguns pennies em uma máquina que segundo ela era uma fonte de desejos demonstra animação com o seu pensamento.

S – Eu voltaria no tempo pra ter uma conversa com meu pai e o mandaria pro médico.

N concorda: É mãe, ele não ia querer ir, mas eu iria falar; - Você tem que ir, você tem que ir...

A mãe suspira. E diz:

- Olha, cada pessoa pensa de um jeito sobre essa questão. Quando vocês crescerem vão ter os seus próprios pensamentos. Eu penso que nós já chegamos na terra com o dia marcado de voltar para o céu, com um tempo pré determinado para viver aqui. Daí não importa onde e de que jeito, no dia certo nós voltamos.

S – Mas mãe, porque Deus escolheu a gente pra passar por isso? A pequena Nanda só tinha dois anos...

Essa é a pergunta que mais foi feita de lá pra cá. Pude ver mais uma vez que as tentativas de resposta anteriores não funcionaram. De repente me lembrei de uma história que Lais, que é a minha guru na área de RH, me contou:

- Era uma vez um homem chamado João. Ele começou a achar que a sua cruz estava muito grande e pesada. Pediu uma audiência com Deus e foi fazer uma reclamação. Chegou perto Dele e disse:
- Senhor, me permita fazer um pedido; eu gostaria de trocar a minha cruz, esta daqui está muito difícil de carregar.
- Deus pacientemente respondeu:
- Pois não meu filho, o departamento de cruzes fica no final do corredor a direita, fique a vontade, você pode trocar por qualquer uma que encontrar por lá.
João seguiu animado. Ao chegar deparou-se com mais de um milhão de cruzes, todas diferentes. Daí olhou para uma que tinha escrito “José” e estava coberta de espinhos. Tentou a de Antônio, mas era feita de gelo, gelava e escorregava, não dava pra segurar. A de Maria estava pelando, a de Paulo era de chumbo e por aí vai. João tentou todas as cruzes até que voltou para Deus e disse:
- Obrigado Senhor, mas resolvi ficar com a minha mesmo, entendi. E assim saiu satisfeito.

Daí, lógico, ela imediatamente perguntou:

N - Mas porque temos que ter uma cruz?

V - Eu acho que é porque a vida é uma escola. E a cruz nos ajuda a aprender, a ficar fortes e a crescer. Cada um desses que você está vendo aqui tem uma. Um não tem o pai, outro não tem a mãe, uns não têm saúde, outros não têm paz.

S - Mãe, como você acha que é a minha cruz?

V - Ah, eu acho que é rosa e cheia de brilho, brinquei.

N - E a minha, mãe?

V - Eu acho que a sua acende quando aperta igual a agenda que você comprou.

N - E a de papai?

V - Ah, a dele é cheia de botões eletrônicos, tudo de última geração, rs.

Elas riam e iam perguntando sobre as cruzes de todos.

V – E quer saber? De tudo que vivi na minha cruz, o mais difícil foi perder o meu pai e ver vocês perderem o de vocês. Então, a boa notícia é que a pior parte nós já atravessamos, agora os problemas que vierem a gente tira de letra.

N - Assim, se a gente for roubada, é problema difícil?

V- É nada, esse é mole. Tudo a gente resolve, conserta, reconstrói.  Estamos juntos e somos uma família. Se Deus passou essa missão pra gente, é porque nós podemos conseguir.

Nesse momento Susie abre o seu biscoito chinês, tira um papelzinho de dentro e o lê:

SUCCESS AND HAPPINESS ARE IN YOUR DESTINY.” – Um presentinho da equipe lá de cima para fechar o assunto.

Eu não sei de nada e não tenho a menor idéia sobre coisa alguma, se o que eu falo tem o menor cabimento. Somente os sorrisos e abraços no final das conversas me dizem que estou no caminho certo. Um caminho de percalços e barreiras que compõem as nossas cruzes diversas, mas também de muitas flores, belas paisagens, grandes encontros e ótimas surpresas quando cultivamos O AMOR.

16 agosto 2011

FUI!


Mais uma vez
Lá vamos nós.
Por enquanto
Sem casa,
Sem escolas
E sem internet.

Mas com um tantão de alegria,
O meu Jeremy,
A família,
E ele, lógico, o meu loirão
Que preparou tudo para nos receber.

Para quem costuma me visitar
Peço que não me esqueça
E não me abandone.
Vou dar uma sumida,
Fazer mudança,
Arrumar a vida,
Os filhos,
Mas eu volto.

Estou beeeemmm descansada,
Abastecida de Brasil, de carinho,
Preparada,
E animada...
Para o que vem por aí.

Beijos, fiquem com Deus
E ATÉ!

15 agosto 2011

Minha casa


Achei lindo isso que a querida Marina postou no face. Imediatamente adotei a mensagem como a minha oração do dia, para abençoar a nossa próxima morada:


"Minha casa será uma casa de bençãos 
Minha casa será um pedaço do céu.

Nela estarão reunidos adoradores que só exaltam ao Deus verdadeiro e fiel 
Minha casa será reconhecida como um lugar de milagre e oração. 
Onde Jesus tem prazer em ficar, 
Onde o Espírito Santo habita,
Onde há prosperidade, amor e vida.

Faça do meu lar, Senhor, um lugar de harmonia. 
Faça do meu coração Tua casa todo dia
Esteja a vontade pra ficar e nunca mais partir 
Pois a casa que um dia Te recebeu, 
Nunca mais saberá viver sem Ti."


13 agosto 2011

A foto!

Pensei em colocar várias fotos, mas tinha que pegar autorização com os convidados e iria levar um tempo danado, coisa que não tenho nesse momento de fazer as malas. Resolvi colocar uma só que vale por cem, que diz tudo sobre essa minha fase de madura ousadia, de me permitir colocar para fora a IF que sou. 
Com vocês, um grande momento "Tô nem aí!":



Vou viver de saudade!


Olha, vou dizer
Pode existir alegria igual
Mas maior, JAMAIS!
Quem veio viu
Quem não veio perdeu.
A pessoa aqui nem dorme só lembrando
Emoção pura!

Tenho uma amiga que diz
"Estou só a capa do Batman"
Pra quando a gente fica assim
O resto, um bagaço, só o bocal, entende?

A IF não tem voz
O pé não pisa no chão
Os olhos ainda cor de rosa da sombra,
As mãos amarelas de anilina,
Purpurina pela casa inteira.
E a cabeça roda sem parar cantando:
Tô nem aí, tô nem aí,
Não vem falar dos seus problemas que eu não vou ouvir...

Muito obrigada a todos que vieram
Na chuva, alguns sozinhos, muitos de bem longe;
Vocês viram a ENORME a alegria que me deram.

Obrigada a Carlinhos pelas delícias
A Pedrita, a xará Marambaia e a TT pela decoração Tô nem aí
O máximo!
E muito mais ainda pelo astral!!

De longe, sem dúvida, disparado
Foi a melhor festa que já fiz, que já vi, que já fui
Pena que durou pouco!
Sete horas não são nada quando se tem tanto para celebrar,
Quando se tem amigos assim.

Quem quiser uma fórmula
Pra uma festa acontecer
É só usar o Tô nem ai!
Daí você fica feliz de verdade
E seus convidados sentem e se contagiam.

Vou colocar fotos aqui
Assim que puder
Por enquanto deixo essa música que ontem marcou
Como mais um momento Incrível da minha vida.
Simplesmente inexplicável, indescritível.

É por isso que não importa para onde eu vá
Ou por quanto tempo...
EU VOLTO!!!!!!
PORQUE EU AMO VOCÊS MUITOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!




09 agosto 2011

I DON'T CARE! - t h e p a r t y -


Imagine uma festa
Chamada "Tô nem aí!"
Que acontece no meio do caos da reforma de um prédio
Aonde misturam-se pessoas de várias idades e tribos
Que dançam, vestem-se e pensam
Fora do padrão.

Imagine uma festa
Que se chover ninguém importa
Que se apertar a gente embola
E se a música acabar a gente canta.

Imagine uma festa
Com os convidados mais bem vindos do mundo
Que vão chegar pelo abraço
Pela amizade sincera
E pelo momento que jamais irá se repetir da mesma forma com as mesmas pessoas.

Imagine uma festa
Aonde nos permitimos esquecer os problemas e neuras
Para pelo menos por algumas músicas
Rodopiarmos e relaxarmos.

Imagine uma anfitriã
Que não tá nem aí pra fazer sala
Que não tá nem aí pra parecer chique
Que só pensa em dançar
Que vive uma festa como se vive uma vida feliz
Cercada de quem gosta e aproveitando cada segundo.

Imagine uma festa
Aonde só se está aí para quem precisa
Aonde as pessoas trazem leite em pó para uma creche
E se ligam em várias formas de desejar e fazer o bem.



Imagine uma festa
Que ninguém tá nem aí pra o que não importa
Totalmente falível e mais que Incrível
A primeira festa da fase IF
Aguardem.





08 agosto 2011

Uma companhia de teatro Incrível!!!!!


Foi sob protestos de cansaço, fata de tempo e mau humor, vestida em uma bermuda jeans velha e calçada num par de havaianas meio sujas que fui arrastada para o Espaço Xisto Bahia nos Barris por Socorro, a minha grande amiga do bem, para assistir "O Circo da Rainha Mal Humorada", um espetáculo estrelado por artistas com deficiência intelectual da Opaxorô Companhia de Teatro da Apae Salvador.

Eu não sei sobre vocês, mas eu nunca tinha ido em uma peça assim pra lá de especial. Logo nos primeiros segundos os meus olhos começaram a brilhar e quando me dei conta tinha sido envolvida por uma argola mágica (a mesma que resolveu o problema do mau humor da rainha) ao ver aqueles atores em cena ultrapassando as barreiras de suas limitações e do pré-conceito. 



Na peça, um palhaço muito legal (esse no meio da foto com o nariz) recebe a tarefa nada fácil de tentar fazer a rainha sorrir e tem a ideia de fazer uma seleção de artistas para ajudá-lo na empreitada.

Nesta seleção os personagens mostram as suas habilidades de forma simples e criativa, levando a as crianças à curtirem e à participarem, enquanto torciam pela aprovação dos candidatos. As minhas aplaudiram sem parar e dançaram. E ao sairem, fizeram uma série de perguntas Incríveis que talvez nunca fossem feitas sem esta oportunidade.

Perguntas sobre a diferença entre ser deficiente e ter uma deficiência e entre ter uma deficiência e ser doente.

Viram, com seus próprios olhinhos curiosos, que ninguém alí é deficiente e muito menos doente, que o fato de terem uma limitação intelectual não os impedem de falar e gargalhar, dançar e dar um monte de piruetas, de fazer teatro e de encantar a todos!

Saímos abraçando e parabenizando o elenco inteiro, eles estavam preparados e super receptivos a fotos e elogios, algo me diz que não fomos as primeiras, rs. Abracei também o Antônio Marques, o coordenador do Centro de Artes da Apae Salvador, que também assina a cenografia e a supervisão artística do espetáculo.
"A proposta do espetáculo é possibilitar a inclusão da pessoa com deficiência intelectual por meio das artes, incentivando a ampla convivência com a sociedade" ele disse. Já fiquei sua fã e pedi pra ser sua amiga no facebook, taí um tipo de trabalho e de profissional que ganha de cara toda a minha admiração.

Mas ao sair radiante e saltitante do teatro, tive que abraçar dez vezes mais a minha amiga que muito bem sabe das coisas, a queridíssima Help . Eu a agradeci e reconheci  o quanto foi mesmo fundamental para o meu currículo de experiências assistir 
"O Circo da Rainha Mal Humorada", o espetáculo  de uns colegas campeões Incríveis em talento, força de vontade e alegria.



04 agosto 2011

ciranda


Tiramos essa semana para fazer uma grande seleção. De roupas que já não nos servem, inúmeros brinquedos, utensílios de cozinha, passamos por todos os armários, gabinete e reviramos o quartinho de depósito. Impressionante a quantidade, toda vez que faço parece que nunca fiz na vida. Quatro pessoas, quatro vezes tantas coisas, uma loucura!

Fizemos uma dessas nos States na semana anterior a mudança. Lá chama-se garage sale e é uma prática muito comum. Geralmente colocamos na garagem tudo que não queremos mais, fazemos alguns cartazes e abrimos o portão para os vizinhos. A minha filha foi a gerente e deu um show. Eu só fiz separar a mercadoria, ela organizou, arrumou, marcou os preços e atendeu os clientes por quatro dias, não queria sair de lá nem para comer. Fez o balcão do caixa e fazia questão de entregar as peças em sacolas decoradas. Escreve aí; é uma comerciante nata.

Desta vez pensei que ela não fosse se interessar muito, já que lá o dinheiro ficou pra ela e aqui nós vamos reverter em leite para a creche de Canabrava. Mas quem disse?
A danada passou o dia inteiro arrumando (e nisso ela dá de dez em todos nós) muito satisfeita com o trabalho. Eu até ofereci uma comissão mas ela disse que não, que quer que todo o dinheiro vire leite. Nessas horas nem me aguento de orgulho.

Um milhão de sentimentos me arrebataram durante esta  movimentação. As meninas se desfazendo da maioria dos seus brinquedos, como se estivessem se despedindo de uma grande fase da infância. Aquele tanto de roupas que já não servem mais. Outro dia estava conversando com a xará sobre como o coração aperta quando olhamos para as roupinhas dos filhos pequenos. As fantasias que contam histórias de carnavais e de apresentações na escola, os ex- brinquedos favoritos, os livros que um dia lemos para eles que até então só acompanhavam pelas figuras...

Isso aperta forte mas não chega a doer. O que me dói é ver os livros que nunca foram lidos, as bonecas que nunca tiveram atenção, os fantoches separados para um outro dia e os jogos que não tive tempo de jogar com eles. E que agora já está tarde.

Que atire a primeira pedra na IF a mãe que não sente culpa por não ter brincado e curtido mais os seus filhos. Eu já sinto isso antes mesmo de passar, acho sempre que faço pouco, que vou ter muita saudade. Por isso eu me mandei! Porque lá o meu foco é muito maior neles, eles são a minha principal atividade. Enquanto há tempo!

Sim, mas lá vou eu viajando e saindo da história do bazar, normal. O fato é que estamos prontas para vender e doar uma boa quantidade dos acessórios de um pedaço de nossas vidas. E com isso ter uma casa mais leve, armários mais ventilados, melhor visualização de tudo e mais espaço para a energia circular.

E é claro, deixando o necessário, incluindo aquele supérfulo essencial para os nossos corações. Roupinhas de pagão, o urso que a caçula trouxe "da barriga" para o mais velho, o brinquedo que sobreviveu aos três, os presentes do papai delas, os discursos e cartas do meu papai.

No mais, podem levar. Que vá para outros lares esse pedacinho da nossa história. Que outras crianças possam se vestir, aprender, brincar e sorrir com as coisas que um dia escolhemos para nós. Deixamos essa fase com saudade, mas partimos felizes para a próxima!

E se os filhos seguem saudáveis de corpo, de mente e de coração, aprendendo a receber da vida e também a oferecer, fazendo girar a ciranda da fraternidade...
É porque estamos no caminho certo.

- E esse está só por três reais, está novinho, quem vai quereeeeerr???????




03 agosto 2011

Cabaré da Rrrrraça!


Dentre a minha enorme programação de férias não poderia deixar jamais de ir no melhor teatro do mundo.  Uma das minhas escolas, uma fonte inesgotável de idéias e sensações, o berço de grandes nomes, o sumo da cultura regional, o tão rico, expressivo e autêntico TEATRO BAIANO!

Para chegar já fechando como se diz por aqui, escolhi O Bando de Teatro Olodum. Fui presenteada com atores afinados dizendo o que precisa ser dito sobre a condição do negro no Brasil. Sob a direção do Marcio Meirelles, o Bando bota pra ferver  com atores, música, coreografia e figurinos de primeira. As batidas da percussão e os movimentos da dança afro fizeram com que meu coração palpitasse e a minha pele arrepiasse sem parar, me dizendo o tempo todo:

- Como eu amo ser baiana e amo cada célula da raça negra que há em mim!

Pena que eles não me chamaram pra dançar, não chamaram ninguém. Eu estava pronta. Queria deixar meu corpo seguir os atabaques em movimentos desordenados, iria deixar completamente que a música mandasse em mim. Não foi possível alí, mas esta experiência já está sendo providenciada.

Antes de voltar para os States preciso de um intensivo de Salvador da Bahia, de minha dança e minha gente. Quem quiser e puder, que me acompanhe. Quem quiser e não puder venha por aqui pelo bloguito. Encontrei até esse video que  dá uma palhinha do que estou falando.

Com vocês O Bando e seus atores de raça, que faz com que a maioria do que se vê por aí pareça fake, meio bambo e meio bobo. Ai quem me dera saber fazer um teatro assim!





02 agosto 2011

Os Andes de cada um


Já passava-se das nove da noite quando comecei a ler "Milagre nos Andes" do Nando Parrado. Começar a esta hora foi meu único erro, pois só consegui largar o livro depois de ler a última página e ainda meditar na capa depois das quatro da  manhã.

De tão bem escrito, o livro nos transporta. Nesse caso para a experiência dramática que o autor viveu em 1972, quando o avião que levava os seu time de rúgbi para jogar no Chile caiu nas profundezas dos Andes. Dentre os mortos e agonizantes estavam sua mãe e a sua irmã. Lutaram para suportar temperaturas gélidas sem comida alguma e com a notícia do rádio que as buscas haviam terminado.

A história já é bastante conhecida, o seu relato do autor impressiona pela franqueza e pelas infinitas mensagens implícitas da busca pela sobrevivência por amor. Não pelo amor a vida e sim pelo amor a alguém, no caso dele, pelo pai. Me perdoem por colocar aqui um trecho do final do livro, pois tenho mesmo a esperança que vocês o leiam. Mas eu não resisto, achei tão bacana que preciso compartilhar.

Depois de algum tempo, o Nando Parrado começou a dar palestras para contar essa história. Após uma delas, uma jovem pediu para falar com ele. Disse que há alguns anos, ao sair de ré da sua garagem, não viu e passou com o carro por cima da filha de dois anos. Que a vida dela parou naquele momento. Não conseguia mais comer, dormir ou pensar em nada que não fosse aquele instante. E desde então estava paralizada pela culpa e pela dor fazendo toda a família sofrer. Ela diz pra ele que a sua história mostrou que ela estava errada, que é possível viver, mesmo quando se sofre, e que ela deveria fazê-lo por amor ao marido e pelos outros filhos.

O autor então escreveu:

"Sem palavras, a envolvi nos meus braços e a abracei. Naquele instante,um pensamento informe que estava rondando minha cabeça assumiu um foco penetrante. Percebi que a minha história era a história dela; é a história de todos que a ouvem. Aquela mulher jamais sentiu uma rajada de vento abaixo de zero. Jamais cambaleou por uma nevasca nas altas altitudes ou observou seu corpo definhar de inanição. Mas não havia dúvida de que, fundamentalmente, ela sofrera tanto quanto eu. Sempre pensei na minha história como algo singular, uma coisa tão extrema e revoltante que apenas os que estiveram lá conseguiam entender de verdade o que passamos. Mas em sua essência - na essência da emoção humana - ela é a história mais familiar do mundo. Todos vivenciamos a dor, o abandono e perdas esmagadoras. E todos nós, cedo ou tarde, iremos enfrentar ainevitável proximidade da morte. Enquanto abraçava aquela mulher triste, uma frase se formou nos meus lábios. "-Todos temos nossos próprios Andes", eu disse."

Pensei nos meus Andes e nos de algumas pessoas que conheço. Gostaria de presenteá-las com este livro, ou melhor, com o sentimento que me tomou  ao ler este livro. Foi uma das melhores sacudidas que já tive. Por isso eu o indico, porque volta e meia nós precisamos de uma dessas para voltar para o eixo. Para isso é preciso estar atento. Ao nos permitirmos pensar as experiências dos outros, estamos ressignificando as nossas. E ao contarmos as nossas dores, as expurgamos e a colocamos em um lugar comum, necessário para encará-las de frente, aceitá-las e prosseguirmos.

E se tem uma coisa que aprendi queridinhos, é que só se faz gente feliz sendo feliz. Só se cria filhos bem resolvidos sendo bem resolvido(a). E que só conseguimos fazer com que eles acreditem que a vida vale a pena mesmo com os Andes, se nós realmente acreditarmos. Este livro é um belo exemplo disso.