12 novembro 2012

A grandeza



Fiz do dia 10.11.12 um dia muito especial. Participei da técnica das Constelações Familiares, que segundo a Wikipédia, é um método psicoterapêutico recente, com abordagem sistêmica fenomenológica, de fundo filosófico, desenvolvido pelo filósofo e psicoterapeuta alemão Bert Hellinger. Em um conceito IF, é uma técnica de grupo que busca uma organização interna para o alcance de determinado objetivo através de um re-alinhamento da posição de cada um diante da sua família, considerando que cada membro da mesma (inclusive os mortos) tem uma representação em um "campo" que está abaixo da linha consciente, que interfere diretamente na nossa maneira de ver o mundo e de se relacionar. Para isso a facilitadora, no meu caso a argentina Claudia Boatti, discípula direta do Bert, primeiro avalia o seu objetivo e depois convida os outros participantes do grupo para representarem os membros da família que estão envolvidos no contexto. Ao constelar temos a chance de perceber de forma distanciada (fora da cena) as nossas posições e principalmente, a considerar verdadeiramente as posições dos outros, em um entendimento amplo das razões de cada um.

Foi maravilhoso. Tanto constelar como ser representante, a gente acaba constelando também. E ela tocou em um tema muito especial para mim neste momento, como tudo que acontece em sua hora certa. Falou sobre a grandeza. Para mim já valeria o curso, pois a minha miopia para enxergar a minha grandeza é grave. Por um lado, e os que já me conhecem há algum tempo já sabem, tenho a enorme dificuldade em acreditar que posso escrever um livro, volta e meia eu me acho aquém. Por outro, venho de uma sequência de mulheres orgulhosas e vaidosas que dificilmente acham que os homens são suficientemente bons para elas e isso tem me atrapalhado muito. Sim, é fantástico ter uma mãe que te acha Íncrível. E cá pra nós, qual não acha? Isso nos faz sentir confiantes e especiais, ótimo. Mas este "se achar" precisa de uma medida e a falta dela já estava me deixando levar por água abaixo mais um relacionamento importante. Atenção mamães! (inclusive eu, lógico)

No final do trabalho a Claudia nos presenteou com esse texto que me disse muito, espero que também traga algo para vocês:

A  G R A N D E Z A 

Grande é apenas aquele que se sente igual aos outros, dado que o que temos de maior é aquilo que compartilhamos com as outras pessoas. Aquele que sente isso grande em seu interior e o reconhece, se sabe grande e, ao mesmo tempo, se sente unido com as demais pessoas. Se o reconhece em seu interior, o reconhece ao mesmo tempo em todas as demais pessoas e sabe e sente igual a elas. Por isso também pode admitir sem inibições essa grandeza em si mesmo, já que não o eleva acima dos outros, os coloca lado a lado. Dessa maneira confirma aos demais a grandeza deles, e eles confirmam a grandeza dele. Assim, essa grandeza une todas as pessoas em humildade e amor. 

Aquele que se eleva acima dos outros, perde a conexão com eles. Retira-se deles e eles se retiram dele. Por essa razão esse envaidecimento conduz à solidão. E faz que se desconfie. Aquele que se enaltece deve temer que os demais o rejeitem, que secretamente estejam à espera que ele caia das alturas arrogantes até voltar a ser igual a eles. Sim, secretamente ele mesmo espera sua queda, porque sua alma não agüenta esse enaltecimento ao longo do tempo. Finalmente comete erros que para aqueles que estão de fora parecem incompreensíveis, mas que estão em sintonia com sua alma. Não agüentamos durante muito tempo a grandeza que se eleva acima dos demais. As outras pessoas tampouco a agüentam muito tempo. 

Mas também aquele que se rebaixa e se coloca abaixo das demais pessoas perde a conexão com elas. Elas percebem a exigência nesse tipo de humildade e a negação de fazer o que é adequado para a grandeza humana.

A verdadeira grandeza é exigente, mas de uma maneira que faz bem. Porque assim como reconhece aos outros, também pretende esse reconhecimento por parte deles. Essa exigência beneficia a todos. Une ali as grandes ações onde a exigência enaltecida ou a exigência que nega separam. 

Não obstante, parte da grandeza é também que eu reconheça em mim o singular que me foi presenteado, e que ao mesmo tempo reconheça em cada uma das demais pessoas o que é singular nelas. Por esse motivo, o singular também é algo que todas as têm em comum, e une em sugar de separar. Porque também o singular está a serviço do todo. Por isso, inclusive onde parece diferente, no todo, essa singularidade é igual a cada uma das outras singularidades. 

Bert Hellinger


Fechei o dia especial com uma conversa de quatro horas com meu quase ex talvez futuro possivelmente atual namorado. Isso porque eu liguei, eu venci o orgulho, eu peguei em sua mão. Reconheci tudo isso que compartilho com vocês agora. Ignorei completamente os princípios das minhas ancestrais e isso sim, me deixou muito orgulhosa. Não importa se estava certa ou errada, eu fiz o que quis. E será que existe certo e errado no amor? Segui o coração livremente ao me lembrar que essa vida é muito curta para ficarmos amarrados a conceitos, a padrões e às expectativas dos outros. 

O trabalho de constelações nos convida a quebrar padrões negativos, a repensar crenças e mágoas, a entender as razões dos outros e a corrigir distorções. E eu quero tudo isso aí, eu quero crescer. Crescer contando com a minha grandeza do tamanho certo, enorme em possibilidades e potencial e também limitada à condição humana e ao reconhecimento da grandeza do outro. Colocar-me lado a lado com o meu parceiro, aproveitando a soma das duas grandezas e a multiplicação dos potenciais. 

Eu chego lá, quem duvida?? kkkkk..... Pois sim, e aqui vou eu na minha missão de viajar, aprender e levar vocês comigo. Mesmo que seja viajar para dentro, rs. Não deu nem pra incluir, mas assisti neste mesmo dia a maravilhosa peça "A alma imoral" da Calrice Niskier basada no livro com o mesmo nome do Nilton Bonder. Sobre ela eu falo depois, é muita informação, vou precisar de um mês para digerir tudo. Tenham todos uma ótima semana, meus grandiosos amigos parceiros queridos. Até! :)


01 novembro 2012

O caminho é o mestre


Se tem algo que me deixa feliz e esperançosa com a vida é perceber as setas da equipe lá de cima e a sincronia das pessoas aqui na terra que vibram na nossa frequência para o bem. Basta estar atento(a) aos sinais e pedir apoio a quem nos estima, que a força de qualquer desejo se potencializa.
O Cau Trigo é um amigo peregrino que muito me ensina sobre os índios, os símbolos e as vozes da natureza, o Xamanismo, o calendário Maia e várias outras coisas. Há uns dois meses ele me procurou para me mostrar algo. Quando o vi, abri um grande sorriso ao vê-lo chamar meu nome com muito entusiasmo e os braços abertos. Achei a sua forma especialmente interessante naquele dia. Tinha deixado o cabelo e a barba crescerem, vestia colete e calças com bolsos cheios de papéis. Carregava uma mochila cheia, uma sacola e um guarda-chuva destes enormes que não dobram.
Depois de um abraço de verdade, fomos até a livraria. Lembro-me que pedi um cartão de visita para poder divulgar o trabalho dele como terapeuta e ele não tinha. Achei graça, como não ter um cartão de visitas no meio desta papelada toda? Mas este é o meu querido amigo Cau. Daí, com muita satisfação, dizendo as palavras perfeitas em um tom muito doce, ele anunciou: - Val, é com imensa alegria que quero te mostrar o meu livro. - Uau! Que ótimo Cau, que prazer! - E eu nem sabia que ele estava escrevendo um. Não pude evitar a comparação comigo, que não conseguia sair do lugar com o meu.
Então, ele pegou a mochilona, abriu-a e tirou um envelope de dentro. Imediatamente abri o envelope procurando o material, pensando que deveria ser muito fino pois estava bem leve. - Não Val, o livro tá aí! - Onde? - Falei sacudindo o papel e olhando ao meu redor.- Está escrito no envelope. Tratava-se de uma lista de tópicos escritos a caneta no envelope todo amassado. - Aí estão os 20 capítulos do meu livro, o número dos cavaleiros, que representa a totalidade da lenda maia. - Sei. E eu posso ler um? – perguntei. - Ah, eu ainda não digitei. Está tudo aqui na minha mente e nos escritos que fiz ao longo dos anos. Cada capítulo revela uma experiência transformadora para mim. Vou começar a digitá-lo, pretendo publicar o livro em novembro.

Eu que me considero uma Incrível insegura superexigente, captei atentamente aquilo, para pensar depois se seria uma loucura ou um ensinamento.
Resposta b, soube esta semana. O homem terminou o livro. Já registrou e encomendou para a editora, estará pronto em quinze dias, tinindo pra virar presente de Natal. E achei isso fantástico. Virou meu novo símbolo de coragem. Estava enrolando o ano todo, sem acreditar, procurando encontrar algo genial primeiro; daí, me aparece esse rapaz e diz: - Val, se você tem uma informação para compartilhar e não o faz, você está sonegando para o universo, está impedindo algo que precisa se manifestar. Não podemos deter o movimento do mundo que está em constante aceleração, o seu livro está pronto, assim como o meu!
- Hã? Como assim?? Que vergonha. Que pretensiosa eu sou. O cara não tinha nem uma linha digitada e eu tenho uns duzentos textos. Desde então, tudo se iluminou.
"As palavras que vêm das mentes constroem muros e as que vêm do coração constroem pontes." Assim ele terminou de me colocar no lugar, citando um provérbio eslavo. O lugar de uma aprendiz que também quer compartilhar o que a transformou em seu caminho de peregrina. Assim como estou fazendo agora. Nada mais. Nada demais. Só abrindo o coração.




23 outubro 2012

A comunhão do Zé


Outro dia assisti o filme "Caminho das nuvens" do Vicente Amorim. O filme de 2003 conta a história de um homem desempregado, personagem do Wagner Moura, que sai da Paraíba para o Rio de Janeiro de bicicleta com a mulher e os cinco filhos em busca de um emprego que lhe pague o salário de mil reais por mês.

Achei que seria útil para ilustrar para as minhas filhas uma realidade que elas não conhecem e quem sabe promover uma reflexão sobre valores e necessidades.

Pensei que talvez elas não  fossem se interessar e facilmente abandonariam o enredo por outros programas em uma tarde de Domingo. Mas que nada, elas ficaram vidradas, fazendo perguntas sem parar e mudando de expressão a cada cena.

Percebi então que o efeito causado por aquele filme na vida delas era parecido com o efeito causado pelos filmes que ilustravam a vida como a delas na minha infância.

Como assim?

Eu vim de Vitória da Conquista na Bahia e tive o privilégio de ter um um pai sertanejo que achava que a sua roça na caatinga era o melhor lugar do mundo e para lá ele me levava em todas as oportunidades. A fazenda se chamava Lagoa de pedras com muitas pedras e quase nenhuma lagoa. Meu pai era muito feliz ali, cozinhava para mim, me levava para ver as mangas, me ensinava os nomes dos capins e deixava eu dirigir o carro da cancela até a casa, trocando de lugar em todos os mata-burros.

Lá morava o Zé Vermelho, o vaqueiro que trabalhava para ele. Tinha esse nome por ser o único loiro de olhos azuis na região, vivia com a sua mulher Anália e eu posso escrever quinhentas páginas sobre eles. Na casa deles eu aprendi como se vive sem energia elétrica e sem água encanada, estava lá quando Anália pariu o seu filho caçula com uma parteira no quarto quase em silêncio e quando ela chorou escandalosamente pela perda do quinto filho em um aborto espontâneo. Parece que estava adivinhando pois depois disso Anália nunca mais engravidou. Lá fui madrinha de casamento aos treze anos, lá eu senti medo do lobisomem todas as sexta-feiras da paixão. Lá eu vi Sirlene, a filha mais velha, subir em um coqueiro em menos de um minuto e logo descer trazendo vários ouricuris, aqueles coquinhos secos que servem para fazer colar. Ela quebrava-os em uma pedra e sempre me dava os maiores, ia escolhendo e falando sem parar, muito esperta, enquanto ajeitava o Joelson, seu irmãozinho caçula, em um lado da sua cintura.

Adorava observar daquela família, passava horas com eles, ouvindo suas histórias e crenças sem nunca contesta-las, acho que eu sentia a preciosidade que havia naquela forma simples de viver a vida.

Lembro-me de um fim de tarde singelo e especial.

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Todas as Segundas-feiras Zé Vermelho ia para cidade mais próxima, chamada Belo Campo, para a feira. Ia à cavalo quando dava, de carona na carroceria de um caminhão ou à pé. Em três segundas no mês ele comprava fiado e na quarta levava o seu salário mínimo para pagar a conta.

Chegava trazendo na sacola e no imbornal - uma espécie bolsa de pano à tira-colo - alguns mantimentos. Eles plantavam o que podiam, o café era torrado e moído em casa e o feijão ficava em um saco grande na sala. Era um feijão de terceira, possivelmente castigado pelo clima das redondezas, mas nem por isso menos importante. Era tirado com cautela com uma cuia por Anália para o almoço de cada dia. Ela servia dois pratos para os quatro filhos, com duas colheres em cada um. Cada um era forrado com o feijão cozido do saco, duas colheres grandes de arroz bem grudado, meio ovo frito e a gordura do ovo por cima. Depois era só colocar farinha. Nunca vi sobrar um farelo e nunca vi ninguém pedir mais.

Naquele dia Zé trazia uma lata de óleo, arroz, um pedacinho de charque, uma pedra de sabão grande e um saco de pão que devia ter uns doze pães para toda a semana daquela família. Esse momento era esperado, as crianças sabiam que ele trazia balas no bolso.

Eu estava no portão da cerca de arame farpado que cercava a casa, saindo de lá. Quando me avistou de longe Zé me chamou com uma alegria ainda maior que a de costume, certamente motivada por algumas doses de pinga:

- Val! Val!! Vem cá! Ói o que eu truxe procê! - Ele rasgou um pedaço do papelão do saco, pegou um pão e estirou o braço em minha direção. A outra mão foi para o bolso e catou cinco daquelas balas duras.

- Precisa não Zé -  eu disse desconcertada, sabia que aquilo faria falta.

- Mas eu truxe procê, pega fia! - Falou em um tom incisivo e comovente.

- Mas tô indo jantar, painho fez comida...

- Pega moça! Anália interrompeu estalando a língua nos dentes, como se recriminasse a minha timidez.

Nesse momento olhei para o Zé com o braço esticado e percebi em tempo que aquilo era muito importante para eles.

Peguei o pão e fiz questão de comer na frente deles e naquele momento eu não pensei na manteiga que outrora me faria falta, na minha mão suja, na falta que iria fazer pros meninos. Pensei só na generosidade de Zé, pensei na comunhão, em como o Zé era um cristão de verdade, essa foi a celebração de ceia mais linda que já vivi.

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Mesmo em uma situação financeira bem melhor do que a do Zé, para mim quando criança os Estados Unidos, a Disney World, o luxo e a tecnologia eram tão surpreendentes e improváveis como o carro de "De volta para o futuro" as piruetas do avião de "Top gun" ou as bicicletas com poderes do "E.T."

E para as minhas filhas que conhecem os melhores parques, a internet, os programas e os filmes com tantos efeitos especiais, o que causa espanto e curiosidade é a situação do personagem Romão do filme,  que poderia ser o Zé Vermelho.

Comecei a imaginar se nós brincássemos, as nossas crianças, eu criança com elas agora. Com certeza eu ficaria insegura como costumava ficar quando estava perto de crianças muito paparicadas.

Tsc, tsc. Não sabia eu de quão rica eu era, e tão interessante pelo que observava e experimentava da vida como ela é, com gente de verdade como o Zé Vermelho e a sua família.

Talvez as minhas filhas dessem um banho em mim ao manipular os seus i-pods arrastando os dedos ou ao cantar as músicas das suas cantoras favoritas com seu inglês fluente.

Mas eu sei do que tive e que para elas falta, se eu pudesse e me sentisse segura para isso, eu daria para eles doses homeopáticas de experiência na família de Zé Vermelho, do que me fez aprender a olhar para o outro de verdade, do que me fez aprender a ouvir, a esperar, a valorizar o simples, a fazer quando não tem quem faça, do que me ensinou a dividir e a agradecer.

Assim tento seguir atenta para os riscos desta vida de filme de Hollywood, e muitas vezes erro a mão na medida, sempre confusa por ter que decidir o que fazer sozinha. Mas procuro nunca me perder dela, da menina na roça, feliz por sentir o cheiro do café no fogão de lenha enquanto ajudava a passar sabão de côco no bebê sentado na bacia de alumínio. Alí estava eu pegando uma carona com Zé Vermelho no seu caminho nas nuvens, em sua lagoa de pedras.




22 outubro 2012

A Queda- Diogo Mainardi


Li em menos de duas horas no avião o livro "A queda - As memórias de um pai em 424 passos" - do Diogo Mainardi. Prato cheio pra quem quer se surpreender com uma obra rica, inteligente e emocionante. Por várias vezes tive que parar para respirar fundo com os fechamentos Incríveis em seu caminho.

O autor faz um paralelo entre a paralisia cerebral do seu filho Tito, resultado de um erro médico no parto ocorrido em Veneza, com várias situações interessantes ligadas ao contexto da doença e do acidente. Nos presenteia ao rechear a sua experiência com fatos históricos e personagens como Rembrant, Shakespeare, Freud e Hitler nos envolvendo em sua percepção emocional de pai muito bem registrada pelo olhar crítico do jornalista.



18 outubro 2012

Correndo para me encontrar



Nesses últimos meses enquanto me debatia em uma crise vocacional retardada numa busca de saber em que trabalhar enquanto me conformo que não sou boa o bastante para ser uma escritora (cinco sessões de terapia em uma frase) me lancei a um desafio:

Correr uma meia maratona. 21 quilômetros pela praia, saindo do Farol de Itapuã  e chegando ao Farol da Barra. 

E consegui, realizei tal façanha no domingo passado, algo Incrível para quem não corria mais que 5 km até três meses atrás.  Para quem gosta de números e resultado, o meu percentual de gordura corporal passou de 18 para 13% em três meses, com três kg a menos mesmo adquirindo mais massa magra.

Maravilha não é? Sem lipo, sem mágica e sem remédio. Programa suor e saúde total, com quatro treinos de corrida, dois de musculação e dois de natação por semana. É, para ser atleta é preciso ter fôlego e tempo. 

Mas emagrecer não foi o principal benefício e aqui estou para abrir para vocês o meu balanço particular desta experiência.

Na época em que trabalhava com RH, usei muito a frase de Goethe: "Trate as pessoas como se elas fossem o que poderiam ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que são capazes de ser.
É impressionante o poder que tem uma pessoa de te influenciar quando ela acredita em você. O Rafael Seara foi o primeiro que disse que eu poderia correr. Treinador dos bons, conhecia o meu limite bem mais do que eu. E qual é o meu limite? Venci o primeiro quilômetro, depois consegui correr 5, 8, 10, 14, 18 até chegar nos 21. E até onde posso ir se quiser? Isso me faz pensar no quanto podemos influenciar nossos filhos, equipes e pessoas próximas para alcançar objetivos, quaisquer que eles sejam.

Me lembrava a todo instante de um pressuposto de programação neuro-linguística, de que todos nós temos todos os recursos necessários para realizar o que quisermos. Se alguém consegue, você também pode. E lá estava a IF, entre tropeços, dores e cansaço no meio de muitos atletas, modelando pessoas-meta para conseguir resultados próximos. Escolhia uma e pensava: Se treino como ela, como saudável como ela, sou mulher e a mesma idade, tenho duas pernas também, porque não posso fazer igual? Ou pelo menos bem melhor do que fazia? E jogava a âncora! E pernas pra que te quero para chegar junto! 

E assim me descobri competitiva. E perseverante. Passei por cima de convites, drinks, festas e comidinhas tentadoras, fui treinar na chuva, no sol de rachar, nadei na piscina gelada de manhã cedo. Deixei de viajar e prezei o sono mais do que nunca. Meus mantras motivacionais não eram nada tranquilos: - Faca na caveira! Guerra na selva! Faca nos dentes! Daí pra pior.

E sem tirar a faca dos dentes ia treinar mesmo com sono, cansada ou tristinha. E lógico, tudo ia pro espaço quando começava a suar o top. Essa onda vicia mesmo! Dá um barato... Serotonina, endorfina, dopamina e alegria de estar mais fina, rs. Hoje eu já adoro colocar a roupa de malhar, amo o astral da academia, ver a piscina brilhando, as pessoas correndo na rua passando por mim, exalando saúde!

 Hoje uma amiga perguntou se eu ganhei a corrida. Ela não sabia que são mais de três mil pessoas, e só tem prêmio para os três primeiros colocados, que a gente nem fica sabendo quem são. E que todos que cumprem a prova ganham medalhas, porque nesse esporte NÓS SOMOS VENCEDORES DE NÓS MESMOS. A cada percurso mais ousado ou buscando um tempo um pouco menor do que o último, estamos querendo ganhar de quem fomos antes. Esse é o lance! E ao atravessar a linha de chegada, mesmo sem ser a primeira, mesmo sabendo que existem provas muito maiores do que esta, mesmo sem torcida, sem foto e sem prêmio, eu entendi, eu me encontrei, eu me comemorei, eu acreditei bem mais em mim, eu me senti muito mais Incrível, me senti uma campeã.

22 agosto 2012

Mexa-se!


Quando estava morando nos EUA e conversava com outros brasileiros residentes lá, me incomodava muito uma opinião comum de que eles não se acostumariam em voltar para o Brasil por causa da violência, da falta de educação, da desigualdade, da corrupção e de tudo que a gente está cansado e esgotado de saber.

Ficava muito chateada porque nem sequer por um dia eu me desvencilhei daqui, eu gostava e admirava aquele modelo de sociedade mas sabia que eu não pertencia àquele lugar. Que eu sou brasileira e que os problemas do Brasil são MEUS problemas.

Certa vez ouvi de um pastor muito inteligente, o Edvar Gimenes da Igreja Batista da Graça, uma consideração muito forte que nunca esqueci. Ele disse: "Nós somos o retrato de um povo e o povo é um reflexo de nós". Uma postura consciente de incluir-nos como co-responsáveis pelo caos a nossa volta.

E sobre ele reclamamos muito, renvindicamos pouco e fazemos quase nada para melhorar a situação. Por isso sou uma fã da iniciativa privada. Da iniciativa pessoal, pessoa física mesmo, então nem se fala. Olho para os fundadores e mantenedores de creches, asilos e hospitais como quem olha para uns heróis, uns gurus, umas autoridades máximas no quesito amor ao próximo.

Nessa semana acontece duas campanhas de grande porte que são exemplo de mobilização e compromisso de empresas sérias e engajadas com a comunidade. A campanha "Criança Esperança" da Rede Globo - http://redeglobo.globo.com/criancaesperanca - que beneficia inúmeras instituições do nosso país através de doações feitas através de ligações telefônicas e o "McDiaFeliz" - http://www.institutoronald.org.br/index.php/mc-dia-feliz - onde a receita da venda de todos os BIGMACs (o principal sanduíche)  da rede de lanchonetes McDonalds é destinada ao combate do câncer infanto-juvenil das comunidades locais.

E você acredita que tem muita gente que pode mas não liga? Que não compra o sanduíche, que não lembra, que vive ignorando que tem um monte de gente se esforçando para melhorar alguma coisa?

E por falar em esforço, energia e trabalho volto a lembrar da queridíssima Socorro Lopes, uma amiga cada vez mais gigante em meu coração e nos de quem a conhece. A danada entrou nessa luta do "McDia" onde a meta deste ano é trocar o ônibus (também doado pelo Mc Donalds em uma campanha de 2007) que transporta as crianças com câncer do GACC Salvador (sede do Grupo de apoio à Criança com Câncer) para os hospitais. Imaginem que o ônibus custa R$ 210.000,00 e a mulher guerreira já conseguiu R$ 40.000,00 até agora, sozinha, vendendo os tickets antecipados. Aliás, sozinha nada (antes que ela me bata), com o apoio de sua imensa rede de relacionamentos, que não para de crescer.

Pois "sonho que se sonha só é só sonho e sonho que se sonha junto é realidade".

E o dia nem chegou. É nesse próximo sábado! E você?? ALÔÔÔ!!!! Tem um coração aí??? É tão simples ajudar! O telefone taí, liga! Tem um McDonalds pertinho de sua casa! Então corre lá, compra pra família, pro porteiro, pro vizinho, pro cachorro. Faça a sua parte para que essa campanha seja um sucesso e inspire outras empresas. Para que esse ônibus puxe a fila de um comboio! Para que mais crianças sejam tratadas e educadas pois só assim construiremos um mundo melhor para os nossos descendentes.

Deixo aqui o meu pequeno apelo nesse blog que é uma das ferramentas que disponho. E quais são as suas? O que você tem para dispor? Qual é o seu alcance? Vamos lá, avance! Um passo que seja. Vamos dar as mãos e aumentar o raio de cirunferência da solidariedade.

Ainda dá tempo de ligar para o Criança Esperança. Temos mais quatro dias! 0500 2012 007 para doar R$ 7,00, 0500 2012 020 para doar R$ 20,00 e 0500 2012 040 para doar R$ 40,00.

E Sábado, dia 25/08 é McDiaFeliz!!!!!! R$10,50 por BIGMAC para as nossas crianças carentes com câncer! Em todas as lojas McDonalds do país.

Não basta só doar, tem que se movimentar, se unir, apoiar, torcer, aprender, fazer e multiplicar.

Então pelo bem do futuro, MEXA-SE!!!! Tem muita gente de braços abertos e um futuro bem melhor nos esperando! :)

12 agosto 2012

Pai


Já faz tempo que esta palavra me incomoda. Há mais de quinze anos. Sofri muito quando meu pai morreu, todas as vezes que ouvia alguém chamar alguém de pai sentia um aperto.

A carência de pai é algo comum aqui em casa. E na medida do possível, bem resolvida. E quando não está na medida eu procuro ajuda. Nesta semana estive em um psicanalista novo e ao me queixar (e me gabar também) de como é duro ser pai e mãe e ter que assumir todas as responsabilidades tive uma ótima sacudida. Ah, como eu adoro (e preciso de) terapia!

Ele disse que eu não posso ser pai porque não conseguiria, que a relação da mãe com o filho é tão intrínseca que por mais que ela queira ela não consegue desempenhar o papel de um pai que vive uma relação mais distanciada, é quem que faz a ponte do filho para o mundo.

Perguntou se eu tinha alguém que representasse essa figura. Respondi que SIIIIMMMM!!!!! Porquê Deus nunca me deixou no frio sem cobertor... mais casaco, cachecol, luvas e botas. Eu tenho um irmão que vale por dez, que nos ampara e que segura muito bem comigo a onda dessa galera toda.

Mas nada tira a saudade. Estava agora passando a vista no Facebook e vendo dezenas de fotos das pessoas penduradas nos seus pais. Morri de inveja. Tenho a minha foto do dia de hoje na cabeça. Meu pai sentado, eu e meu irmão atrás da cadeira (eu grudada do pescoço dele), minhas filhas no colo, uma em cada perna (disputando o pescoço), meu filho de um lado e o meu sobrinho do outro.

Por que né? Uns tem que ir pros outros chegarem. Eu não conheci meu avô e minhas filhas não conheceram o delas. E por mais que eu o descreva elas nunca vão saber como ele era de verdade.

Ao pensar nisso lembro-me depoimento que li da filha de um homem muito famoso recentemente homenageado. De como ela estava orgulhosa do legado imenso que ele deixou. E ao ler aquilo eu só me identifiquei na parte em que ela falava da saudade, percebi que eu não queria o legado, que o que eu queria de verdade era mais uma tarde com o meu pai.

Apresentar os meus filhos, dizer como tudo está bem e como ele foi importante em minha vida.

Percebi que o que fica no coração dos filhos não é o tamanho da obra, das grandes realizações. E sim os pequenos gestos. Eu queria ouvir meu pai me chamar de Sinhá, ver ele destampar a panela para me mostrar a comida deliciosa que estava fazendo. Eu queria ver ele chegar com um saco na mão, ele tinha mania de trazer coisas gostosas da rua pra mim. Queria ver o brilho nos olhos dele quando ele me apresentava para alguém, sempre senti que ele me achava a coisa mais linda do mundo!

É, não dá pra ter tudo, não dá mesmo pra colocar os pais com as filhas em uma foto aqui em casa. Mas dá pra guardar no coração uma certeza. A de que fomos muito amadas. Seja com um tempo maior ou menor, os pais que nos trouxeram para este mundo nos queriam. E isso, provado com os mais singelos gestos, nos traz a base que precisamos para seguirmos felizes.

Então, nesse fim de domingo de dia dos pais eu queria dizer pra ele que ele conseguiu. Que ele me fez sentir amada e importante e me ensinou como amar os meus filhos. E que esse é o maior legado que alguém pode deixar nesta vida. Fazer com que bem querer transborde até outras gerações, com que aconteça a perpetuação do amor!

25 julho 2012

Viva os amigos que ficam!



Volta e meia vem alguém me reclamar de uma decepção. Com amigos, com a mulher, com um funcionário. Outro dia um me perguntou: -Você acha que vale a pena acreditar nas pessoas?
Siiiiiiiimmmmm!!!!!!!! Penso assim mesmo sofrendo decepções, algumas bem duras. Isso me faz lembrar o meu irmãozinho IF que tem uma tática para quem lhe faz ou lhe trata mal. É interessante, ele recebe uma fechada no trânsito e fala: "- Que Deus abençoe". É uma bater o telefone na cara dele e ele imediatamente diz "Deus abençoe" E não é que corta a raiva na hora? Aprendi e peço a Deus que abençoe a todos que um dia me decepcionaram, traíram ou julgaram mal.
Perdoar sempre, cumprimentar civilizadamente também. Continuar como antes às vezes não dá. Excluir do convívio às vezes é necessário. 

Acredito que existem fases evolutivas distintas, graus de maturidade para saber se relacionar também. Vou ficar quebrando a cabeça para entender, para julgar ou perder meu tempo para me vingar de alguém? Eu não, tô nem aí para quem não vale a pena.
Fui até puxar no arquivo o botão do  quem lembra? É isso ai, não estou nem chegando para o que pensam ou falam quem não me interessa.
Acho que penso assim porque não para de chegar gente nova e boa. Não seca a fonte. Pessoas maravilhosas estão a nossa volta e se aproximam de acordo com a frequência com que vibramos. Se você é da paz, sabe amar e deseja o bem a vida dá voltas em espiral e as pessoas certas chegam.
Comecei a fazer uma conta de quantos amigos fiz nesses últimos dois anos, contando com quem conheci nos States, os amigos virtuais e o resgate de uns queridos que tinha perdido o contato. 
Muitos. 
Certo que me movimentei bastante para isso, gosto mesmo de viajar, de conhecer gente, adoro alimentar as amizades de sempre, até futucar o face para achar uns amigos extraviados... Adoro promover encontros, acho até que isso é uma missão. Não é a toa que vou começar a trabalhar com isso, quem sabe ainda não ganho algum?
E é como se diz por aí, "é que nem biscoito, vai um e vem dezoito". Esse um que foi, com certeza não merecia ficar, e que Deus o abençoe. Os de valor nunca vão. E nos dezoito que chegam, há de vir surpresas boas.
E pelos que importam vale tudo. Viva quem merece, eles valem a nossa energia! Por eles superamos ausências e mal entendidos. É sempre um desafio aceitar as limitações do outro e reconhecer as nossas, querer o pacote completo, harmonizar as diferenças, esquecer o que não vale a pena lembrar. Isso é amor né? Mas por muito sisso vale muito a pena, afinal tem algum incrível infalível aí?
Só fica difícil de resolver quando alguém deixa estremecer o alicerce da amizade, a confiança. Esses possivelmente irão ficar pelo caminho. E para eles o quê? Isso, rs, Deus abençoe. E bola para frente!
Por isso, de presente de dia do amigo IF... isso é, dia do amigo atrasado, ou de dia qualquer pois todo dia é dia de amar os amigos, queria dizer VIVA OS AMIGOS QUE FICAM! Eles são a maior prova que amar vale a pena. Viva os amigos que nos aguentam há anos. Viva os recém-chegados! Viva os amigos que estão por vir. Viva as pessoas com quem a gente adora estar aqui, na rua, na chuva ou na fazenda. A família que pudemos escolher. E não posso fechar sem lembrar que eu me acho "a Incrível" por ter conseguido encontrar, conquistar e manter amigos como vocês. Fiquem para sempre, please!