26 abril 2012

Amor em todos os tons


Foi hoje. Acordei como todos os dias ao som do alarme do celular e saí pra fazer a ronda matinal chamando os filhos. Primeiro a caçula, depois o mais velho e por último entrei no quarto dela, já respirando fundo para rebater todos os argumentos da preguiça.

E estava no meio da primeira chamada quando eu os vi. Por toda parte: no chão, na porta, na mesa e pelas paredes. Dezenas de papéis com todas as cores, com desenhos e fórmulas, com vários tipos de letras enfeitadas. Lindos! Ela deve ter ficado até tarde organizando aquilo.

Parei. Se eu estivesse em um filme teria entrado uma luz na cena, como entrou no meu coração. Eu não sei em que mundo eu estava, eu sabia de sua letra linda mas porque será que não tinha visto nenhum daqueles desenhos antes? Ou se tinha visto porquê não os tinha percebido? Talvez estivessem na escola ou presos em um caderno no fundo da mochila, mas que desatenta que sou!

O fato é que levei uma rasteira. Uma sacudida bem forte e entendi. Percebi porque ela leva tanto tempo para realizar as suas atividades. Eu, na angústia de querer vê-la livre para ter um tempo para brincar e fazer outras coisas, a pressionava para que terminasse logo e isso nos gerava um grande stress. Muito influenciada também pela pressão escola, que passa um batalhão de atividades todos os dias, inclusive nos finais de semana. Um absurdo, enfim.

Não entendia que o tempo dela é outro, que o olhar dela sobre o mundo é outro e outra também é a sua maneira de representá-lo.

O que mais me chamou a atenção  foram os desenhos de ciências. A readaptação na escola depois dos EUA não foi fácil e a sua maior dificuldade está nesta matéria, a única em que ela ficou em recuperação. E que por isso tanto sofreu. Ela quer ser boa em tudo, fazer bem feito, é impressionante. E vendo aqueles desenhos do corpo humano, dos ciclos das plantas e os grupos de animais, representados com tantos detalhes e destreza para uma menina de onze anos, me toquei. Acho que ela busca com eles a sua forma de entrar em contato com o assunto.

Eu, que não consigo sair dos desenhos da mesma boneca, da mesma casa e da mesma árvore que fazia aos sete anos, fiquei impressionada. Eu tenho um filho que toca e é rapidíssimo com cálculos, uma que canta e é super extrovertida e uma que desenha e é perfeccionista. Mas como assim se eles saíram de dentro de mim e eu sou um zero à esquerda nesses quesitos?

Tsc tsc, que pretensão mamãe... Eles vieram de Deus e logo sairão pelo mundo, com seus talentos distintos, com seus desejos e personalidades. Muito melhores ainda se você não atrapalhá-los, diga-se de passagem.

Ok, me rendo. Para tudo que os meus filhos me ensinam todos os dias. Me rendo à tudo que não sei. E te peço desculpas filha. Vá, voe, pinte o mundo com todas as cores que existem em você.

Eu vou estar aqui para te ajudar a administrar a parte "chata" que infelizmente é necessária para você aprenda a vencer todos os tipos de barreiras até poder se dedicar ao que gosta. E que sabe!

Você nasceu sabendo garota! Quantos demoram tanto ou passam a vida sem saber qual era a sua vocação. E os seus talentos desde já gritam! Que orgulho eu tenho. Seja qual for o modelo de família que nós temos, eu acho que está dando certo. Deve ser por conta do ingrediente mais poderoso em todas as receitas de educação: O AMOR.

Te amo mais que tudo desde que soube que você estava em mim, que você me escolheu para te trazer para este mundo. E quando te vi, bem antes de você pegar pela primeira vez em um lápis, imediatamente eu soube que você iria colorir a minha vida.

24 abril 2012

Lá na frente


Eu gosto de comer, mas gosto ainda mais de ser magra.
Gosto de dormir, mas viver é melhor.
Gosto de novelas, mas bom mesmo é ser protagonista da própria história.
Beber é bom, mas estar consciente é o máximo.
Ficar de preguiça é gostoso, mas bater os próprios recordes é sensacional.
Conversa fiada distrai, mas conversa profunda alimenta.
Música da vez embala, mas música clássica preenche.
As revistas nos dizem de agora, mas os livros nos dizem de sempre.
Consumir nos deixa na moda, mas usarmos o que conta a nossa história nos torna únicos.
Esbravejar com alguém pode nos fazer sentir fortes, mas o autocontrole no faz poderosos.
Trair pode ser excitante, mas ser leal é dignificante.
Falar é bom para descarregar, mas ouvir e aprender nos abastece.
Ser gentil alivia, mas ser sincero ajuda.
Ser malandro dá status, mas ser correto dá orgulho.
Seguir convenções pode ser confortável, mas seguir o coração é libertador.
Ficar no chão é seguro, mas é só arriscando que podemos voar alto e enxergar longe.
Pensar em si é fundamental, mas pensar no próximo é extraordinário.
Viver como se não houvesse amanhã é prazeroso, mas tentar todos os dias nos tornarmos melhores do que já fomos é o que nos faz campeões.




16 abril 2012

Regando a esperança


Nesta semana eu presenciei um incêndio que me fez pensar muitas coisas.

Primeiro o grande espanto que o fogo nos causa. Com o seu poder, a sua velocidade e a sua impiedade. Um dos elementos da natureza que de vez em quando faz questão de nos mostrar o quanto somos impotentes. Ao ver o tamanho da chama e a altura da fumaça desde longe no caminho chorei muito: de tristeza, de preocupação e de medo.

Ao chegar lá e saber que ninguém tinha sido ferido me tranquilizei e agradeci à Deus. "A vida de alguém sim, seria irrecuperável", ponderei, para me consolar. E devagar me aproximei do local e comecei a observar o que estava acontecendo.

Vi muita gente desesperada. Entendi mais do que nunca a expressão "apagar incêndio", pois ficam todos atordoados correndo sem saber para onde. Vi um que quase tirou a camisa para tentar abafar uma chama que fosse. Telefonemas para todas os conhecidos, para os governantes, ligações diretas para Deus. Olhares para cima, quem sabe uma chuva? Não, dia seco e céu azul com cinza de fumaça.

Mas havia sim um chefe comandando a operação com a sua estratégia: isolar uma área ainda intacta e a partir dela investir contra o fogo. Várias mangueiras, espuma, jatos enormes que saiam dos carros em uma batalha incansável. Os nossos olhares seguiam a água como se pudessem colocar nela mais força. E depois de muito suor e aperto no peito conseguimos encharcar a área e impedir o avanço do fogo. A chama foi ficando cada vez menor como que se contentasse com o que já havia queimado e como se entendesse que a mensagem foi dada.

Porque sim, acho que as coisas acontecem para nos trazer sinais, setas e avisos. Sempre fico matutando para entender, gosto mesmo é dos recados mastigadinhos. Mas sabemos que não é assim que funciona nessa nossa escola. Só agora, uma semana depois, começo a decifrar um pouco esse recado, pelo menos o que estava endereçado à mim.

Vi manifestações de muita gente boa, vi vempresas que não tinham nenhuma ligação com a do incidente mandarem seus recursos. Vi ex-funcionários lá ajudando como podiam. Vi muita gente do lado de fora com olhares aflitos. Senti a vibração das orações e me juntei a elas.

Quando acabou vi equipes de pessoas que mesmo exaustas, no meio das cinzas, já montavam seus planos de ação para retomar o funcionamento da empresa.

E vi também naquela guerra que o lamentável acontece. Pessoas do lado do fogo. Gente fazendo piada com aquilo, fazendo pouco caso com uma grande fonte de empregos deste país. Esses em minoria, alguns gatos pretos pingados, é verdade, mas foi muito duro perceber, naquele contexto, que eles existem e estão a nossa volta.

Pensei na maledicência, na descompensação, nas carências de tudo, no atraso de evolução espiritual e na falta de educação mesmo. Na falta do aparelho que chamamos "desconfiômetro", aquele que acende para nos dizer até onde podemos ir. Até onde não ofende, não maltrata e não prejudica.

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o seu coração e amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Lucas 10:27) Nesses momentos eu me questiono, aonde achamos que poderemos chegar sem este princípio, com pessoas desejando aos outros o que não se querem para si?

Pensar nisso me entristece muito e eu prefiro tocar a vida focando no bem.  E voltando às "lições do fogo" pensei que também podemos usar a estratégia do capitão dos bombeiros: deixar queimar o que não tem mais jeito porém isolando algumas áreas intactas. Não perder tempo e não gastar a nossa água tentando reaver o que já pegou fogo e sim preservar o que é possível. E partindo desta parte salva, reconstruir. Erguer um prédio novo de emoções com mais segurança e experiência.

Pensei também que muitas coisas são passageiras, efêmeras e descartáveis e que tudo aquilo que nos enche de soberba pode virar pó em questão de segundos.

Mas a fé, o espírito de união, a compaixão e a solidariedade constroem a energia que levamos para a eternidade. É a fórmula da água que vence as grandes lutas contra o mal.

Vamos então irrigar este mundo! Vamos multiplicar a paz e deixar transbordar a luz divina que há em todos nós. Só assim vamos parar de ter que passar por pelos incêndios para aprender. Desejo chuvas de renovação e cataratas de amor para vocês.


01 abril 2012

Amazônia, um estado de espírito



Amazônia, um estado de espírito

No avião de volta pra casa não consegui dormir. Exalava energia e vitalidade, poderes naturais adquiridos do lugar de onde vim: a Amazônia.  Fiz um cruzeiro pelo Rio Negro, o lugar mais cheio de paz que já visitei. E me encantei: vi botos cor-de-rosa, tucanos e araras-azuis. Encontrei alguns jacarés, uma tartaruga e uma família de quatis. Vi um bicho preguiça comendo folhinhas na maior no topo de uma árvore, nem aí para o barulho dos macacos ao lado.
Fiz um passeio em uma lanchinha à noite e ao chegarmos bem perto da mata apagamos a luz. Pude ver o céu estrelado mais bonito da minha vida ao som da orquestra dos bichos noturnos.
Tomei um banho maravilhoso de rio, bem pertinho das piranhas, também as pesquei com pedacinhos de carne no anzol. Banho em água fria cheia de ferro e de saúde.
Quando primeiro avistei a floresta, de longe ela me parecia uma moita só verde e sem fim. Mas à medida em que chegava perto percebia a variedade das árvores, era difícil achar uma igual a outra, elas são mais de vinte mil espécies! Fiz uma trilha e tive uma aula de botânica: aprendi a tirar borracha de uma seringueira, conheci dezenas de funções de árvores e plantas, espécies de formigas e besouros, e reconheci alguns rastros dos animais.
O Sr. Guaraci, o simpático senhor que foi o meu guia, disse com muito orgulho que ele não precisa da cidade para nada, que da floresta ele tira a comida, a carne, o remédio, a roupa, o sapato, a casa, até o sal e o açúcar.
Senti uma baita inveja dele. Uma vergonha de precisar consumir tanto, de querer tanto, de ter que usar de tantos artifícios e recursos para viver. Esse povo da terra tem mesmo muito a ensinar para nós, o povo do livro.
No prato me servi de um abuso de castanhas, de tapiocas, de frutas da região: cupuaçu, acerola e açaí. Peixes deliciosos, comi todos os dias tucunaré e tambaqui. Experimentei pupunha, uma prima da batata doce deliciosa.
E sentia um sono sem fim, entre um passeio e outro eu só dormia. Quando abria os olhos e olhava para o rio na janela, embalada pelo barco e protegida pelo silêncio, em meio minuto fechava os olhos de novo e ia embora obedecendo somente a mim mesma.
Acho que fui enfeitiçada. Me apaixonei pelo rio e acho que se o boto aparecesse em minha janela me chamando eu iria embora com ele sem pestanejar. O rio me deixou renovada e feliz.
Mas sei que este passeio pode não ser percebido assim por todos. Se você estiver procurando por fortes emoções vire definitivamente o seu leme para outro lado. Lá não há festas, não tem sinal de celular nem internet.  As bebidas e os excessos ficam fora de questão já que os melhores espetáculos da vida na floresta começam cedinho. Foi ao nascer do sol que vi o encontro dos rios que não se misturam: o Negro; de água escura e o Solimões; de água barrenta. Temperatura, peixes e vegetação distintos, é muito interessante.
Vejo a Amazônia como um estado de espírito. Assim como Salvador é um e São Paulo é outro. Para poder enxergar, ouvir e sentir a floresta você precisa se preparar, abrir-se para ela. Esvaziar-se para poder contentar-se.
Eu enchi a minha garrafa com o melhor oxigênio do planeta. Estou pronta para desativar o pequeno “pause” que dei em minha vida com a mente bem mais vazia e o coração tranquilo.
E o melhor de tudo é que esse paraíso é brasileiro! E muito admirado pelo mundo. Mesmo em baixa-estação a quantidade de estrangeiros é enorme e o fascínio deles também. E sempre com uma grande preocupação pela preservação da floresta.

Tudo que pudermos fazer para garantir a Amazônia para os nossos descendentes é pouco, preservar este paraíso é a nossa obrigação para o planeta e uma prova de amor para as gerações futuras.