16 abril 2012

Regando a esperança


Nesta semana eu presenciei um incêndio que me fez pensar muitas coisas.

Primeiro o grande espanto que o fogo nos causa. Com o seu poder, a sua velocidade e a sua impiedade. Um dos elementos da natureza que de vez em quando faz questão de nos mostrar o quanto somos impotentes. Ao ver o tamanho da chama e a altura da fumaça desde longe no caminho chorei muito: de tristeza, de preocupação e de medo.

Ao chegar lá e saber que ninguém tinha sido ferido me tranquilizei e agradeci à Deus. "A vida de alguém sim, seria irrecuperável", ponderei, para me consolar. E devagar me aproximei do local e comecei a observar o que estava acontecendo.

Vi muita gente desesperada. Entendi mais do que nunca a expressão "apagar incêndio", pois ficam todos atordoados correndo sem saber para onde. Vi um que quase tirou a camisa para tentar abafar uma chama que fosse. Telefonemas para todas os conhecidos, para os governantes, ligações diretas para Deus. Olhares para cima, quem sabe uma chuva? Não, dia seco e céu azul com cinza de fumaça.

Mas havia sim um chefe comandando a operação com a sua estratégia: isolar uma área ainda intacta e a partir dela investir contra o fogo. Várias mangueiras, espuma, jatos enormes que saiam dos carros em uma batalha incansável. Os nossos olhares seguiam a água como se pudessem colocar nela mais força. E depois de muito suor e aperto no peito conseguimos encharcar a área e impedir o avanço do fogo. A chama foi ficando cada vez menor como que se contentasse com o que já havia queimado e como se entendesse que a mensagem foi dada.

Porque sim, acho que as coisas acontecem para nos trazer sinais, setas e avisos. Sempre fico matutando para entender, gosto mesmo é dos recados mastigadinhos. Mas sabemos que não é assim que funciona nessa nossa escola. Só agora, uma semana depois, começo a decifrar um pouco esse recado, pelo menos o que estava endereçado à mim.

Vi manifestações de muita gente boa, vi vempresas que não tinham nenhuma ligação com a do incidente mandarem seus recursos. Vi ex-funcionários lá ajudando como podiam. Vi muita gente do lado de fora com olhares aflitos. Senti a vibração das orações e me juntei a elas.

Quando acabou vi equipes de pessoas que mesmo exaustas, no meio das cinzas, já montavam seus planos de ação para retomar o funcionamento da empresa.

E vi também naquela guerra que o lamentável acontece. Pessoas do lado do fogo. Gente fazendo piada com aquilo, fazendo pouco caso com uma grande fonte de empregos deste país. Esses em minoria, alguns gatos pretos pingados, é verdade, mas foi muito duro perceber, naquele contexto, que eles existem e estão a nossa volta.

Pensei na maledicência, na descompensação, nas carências de tudo, no atraso de evolução espiritual e na falta de educação mesmo. Na falta do aparelho que chamamos "desconfiômetro", aquele que acende para nos dizer até onde podemos ir. Até onde não ofende, não maltrata e não prejudica.

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o seu coração e amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Lucas 10:27) Nesses momentos eu me questiono, aonde achamos que poderemos chegar sem este princípio, com pessoas desejando aos outros o que não se querem para si?

Pensar nisso me entristece muito e eu prefiro tocar a vida focando no bem.  E voltando às "lições do fogo" pensei que também podemos usar a estratégia do capitão dos bombeiros: deixar queimar o que não tem mais jeito porém isolando algumas áreas intactas. Não perder tempo e não gastar a nossa água tentando reaver o que já pegou fogo e sim preservar o que é possível. E partindo desta parte salva, reconstruir. Erguer um prédio novo de emoções com mais segurança e experiência.

Pensei também que muitas coisas são passageiras, efêmeras e descartáveis e que tudo aquilo que nos enche de soberba pode virar pó em questão de segundos.

Mas a fé, o espírito de união, a compaixão e a solidariedade constroem a energia que levamos para a eternidade. É a fórmula da água que vence as grandes lutas contra o mal.

Vamos então irrigar este mundo! Vamos multiplicar a paz e deixar transbordar a luz divina que há em todos nós. Só assim vamos parar de ter que passar por pelos incêndios para aprender. Desejo chuvas de renovação e cataratas de amor para vocês.


4 comentários:

  1. Puxa Val, como eh que isso aconteceu? Eh realmente muito triste e lamentavel saber que existem pessoas que acham graca do infortunio alheio! Mas gracas a Deus, o bem prevalece! Adorei o que voce disse: "A fe, o espirito de uniao, a compaixao e a solidariedade constroem a energia que levamos para a eternidade". Eh isso ai, Valzinha! E bola pra frente!

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  2. Todo sofrimento contribui para aprendermos algo nem que seja para a constatação dos opostos: bem-mal, quente-frio, tristeza-alegria, morte-vida...
    Temos que presenciar a dor para darmos valor a paz que só existe na fome saciada, na justiça assegurada, na saúde conquistada...e tantas outras importantes condições para o bem estar e felicidade.
    Beijão, Mamãe

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  3. É estranho como algumas pessoas reagem tão friamente ao drama alheio...

    Val, faz tempo que não apareço, queria dizer que seu blog tá lindo, essa foto sua então...
    um bjo, viu!

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  4. Sinto muito por vc ter tido essa experiência triste Val. Mas ao mesmo tempo fico feliz em saber que acabou tudo bem e que vc soube aproveitar a dificuldade pra viver ainda melhor. bjs

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A INCRÍVEL falível espera ansiosamente por um comentário seu: