25 maio 2013

A Veneza dos suspiros



Ao sair à noite por Veneza senti arrepios sem parar. Suspirava ao contemplar a arquitetura, as luzes, as pontes, a água por toda parte, brotando aqui e ali do chão. É muito mais do que eu esperava.
Nos restaurantes da praça São Marcos havia conjuntos com homens de paletó e gravata tocando piano, violino, violoncelo, flauta e acordeom,  tocando os boleros italianos, tangos clássicos. Como não suspirar ao ouvir Perfídia, O sole mio e Torna a Sarniento? À noite há muito menos turistas do que durante o dia, pois os hotéis, como tudo na cidade, são bem caros. Geralmente, as multidões de turistas visitam Veneza durante o dia e dormem nas cidades próximas. Isso dava mais encanto ao momento, parecia uma noite qualquer para os venezianos.
Alguns casais dançavam na rua. Suspirei de vontade de estar com meu amor. Gritei para todos os lados que voltaria ali muito bem acompanhada. A Veneza é um convite ao romance, com seus hotéis charmosos, suas gôndolas, as flores nas sacadas, a música, os bons vinhos e a boa comida.
No dia seguinte, tornei a fugir do grupo. Enquanto todos foram enfrentar uma fila enorme para serem fotografados em uma gôndola, eu fui ao Palazzo Ducale, o local onde foi a residência oficial dos governantes de Veneza, fundado no século IX.
Andei pelos diversos saguões do palácio enorme e imponente. A Sala del Maggior Consiglio, onde se reunia o conselho de Veneza, é o maior salão da época sem colunas, chegava a abrigar duas mil pessoas. O passeio pelo palácio termina na Ponte dos Suspiros e nas prisões.
A Ponte dos Suspiros foi construída para conectar o prédio do palácio onde aconteciam os julgamentos ao prédio da prisão. Nesta ponte tinha umas janelas com frestas de onde poderia se ver o mar. Deve seu nome aos suspiros dos condenados ao passar e ver o mar pela última vez antes de serem executados ou trancafiados até a morte.
Suspirei de tristeza . Ao visitar as prisões com suas paredes grossas e a sala da Câmara de Tortura, onde os suspeitos eram presos pelos pulsos e pendurados em cordas, quase pude ouvir os lamentos e sentir o mau cheiro que devia fazer naquele lugar. É impressionante a sensação que nos dá estar nesses lugares e chegar tão perto do passado. Ver quanta coisa horrível a humanidade precisou passar para chegar ao nível de “civilidade” que temos hoje.
Estar na Europa me faz sentir grande e pequena demais. Como ser humano, fico impressionada com a capacidade criativa dos artistas e arquitetos. Fiquei estarrecida com as atrocidades que foram feitas pelo poder e pelo dinheiro, e tantas em nome de Deus. Sinto-me ao mesmo tempo insignificante ao caminhar  por onde passaram pessoas há mil anos e continuarão a passar. Considero-me uma privilegiada ao poder estar aqui, ao ver Veneza e torcer para que ela nunca afunde, por deixar que esses pensamentos me levem para uma outra consciência.

Tirei esta foto da fresta da janela dos suspiros em uma linda manhã de sol. Só que com outra sorte, eu poderia sair daquele lugar para voltar para os encantos de Veneza e do mundo. Ai, a liberdade! Como é importante conhecer, sentir e aprender. Aproveitar, enquanto é tempo, das maravilhas que estão aí. Usufruir dos patrimônios da humanidade como Veneza. Eles contam sobre nós e estão aí para nós, em um tempo curto, mas suficiente para nos encher de satisfação de estarmos vivos, aqui e agora.




2 comentários:

  1. Que maravilha! Vocẽ chegou onde quero um dia chegar! É Veneza ou Venezia? Uma amiga que aí esteve me disse que é Venezia, mas não importa. É uma das poucas cidades da Europa que marquei no meu mapa.
    O fato é que estou adorandoooooooooooooo "viajar" com você e absolutamente convencida de que não demora muitp e vai sair um livro para eu ir ao lançamento.

    Há braços

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  2. Venezia para os italianos e Veneza para nós. Que bom vir aqui e em todos os lugares com você Lourdinha! Muito obrigada pela companhia e pelo incentivo! Beijos!

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