10 dezembro 2011

Nostalgia


Eu quero muito voltar para o Brasil. Mas o que eu queria mesmo era voltar para o Brasil de antigamente.

Um Brasil com outras notícias, talvez através do Jornal Nacional na voz do Cid Moreira.

Queria poder deixar meu filho ir para escola de ônibus como eu ia na idade dele.

Queria tomar banho na praia da Penha sem ver o lixo chegando do mar.

Queria ouvir comentários bem diferentes, ao invés de mensagens instantâneas no Facebook poderia ser através de cartas, dizendo que não há lugar igual a Bahia.

Queria poder andar tranquila no Rio Vermelho, parar para admirar a sereia, as estrelas, os casebres coloridos, sentar na balaustrada para esperar começar o espetáculo no teatro Maria Bethania.

Queria saber de mais gente do bem solta e mais gente do mal presa. Queria mesmo ajudar a conter a geração do mal. Porque eles assim como nós nascem gente e só vão para o mal por causa do nosso descaso.

Tenho saudade dos heróis; Betinho, Irmã Dulce e Zilda Arns.

Queria estar sujeita a uma menor quantidade de vírus, de mosquitos, de pragas, de golpes, de processos, de armadilhas, de hackers, de competições e de traições.

Queria dirigir com o vidro do carro aberto apontando as coisas para as crianças.

Queria ir atrás do trio em um carnaval sem blocos, sem cordas e sem camarotes, sem tanta polícia batendo em todo mundo, sem garotos fazendo competições de beijos. Queria ver homem vestido de mulher, garotas vestidas para brincar, com tênis, rabo de cavalo, mamãe sacode, confete e serpentina. Queria ouvir música com um só sentido; divertir.

Queria voltar ao tempo em que os homens te chamavam para dançar, que batalhavam por sua atenção, que te traziam flores, convidavam para um cinema e pensavam no melhor momento para pegar em sua mão.

Queria no verão ir para uma casa de praia e poder dormir com a janela aberta sentindo a brisa e ouvindo o mar.

Queria poder morar em uma casa na rua.

Queria poder ir tomar sorvete na Ribeira ou comer um acarajé na Cira em Itapoã sem pensar em engarrafamento.

Queria não ter medo da chuva.

Queria poder olhar pela janela, ver tantas luzes acesas e sentir de novo na cidade um tanto de inocência, de magia e de esperança.

Queria saber de um número menor de crianças nos orfanatos, nos lixões, nas ruas, na prostituição e no crack.

Eu queria de volta a Barra, o Centro Histórico, o Pelourinho, a Lagoa do Abaeté, a Pedra Furada, o Parque da Cidade, o Parque de Pituaçu, a Pituba e a Amaralina.

Queria não pensar que elegemos e reelegemos estes governantes. Queria saber de gente se rebelando para mudar esta situação.

"Seja você a mudança que quer fazer no mundo." Essa é uma forte frase de Gandhi, a que eu mais gosto,  muito bem soprada agora no meu ouvido. Uma bem colocada resposta de minha porção Incrível para a minha porção falível que hoje resolveu vir aqui se lamentar.

Ainda bem que temos estes dois lados. Assim como o Brasil e a nossa tão amada Salvador. E é porquê a Incrível que há em mim consegue ver tudo de Incrível que há nesta cidade que tenho que voltar. E vou ser a mudança que quero fazer. Começando por mudar as palavras deste texto de queria, para quero e então VOU e assim fazer com que os sonhos virem metas para então virar realidade.

Precisamos assumir esta responsabilidade; Que Deus nos ilumine para buscarmos soluções e nos dê forças para que possamos lutar para deixar para os nossos filhos um mundo que se não for melhor, que seja pelo menos igual ao que encontramos.



4 comentários:

  1. Sabe Val, me identifiquei totalmente com a sua resenha, ando triste com Salvador... Talvez ainda não com o Brasil, talvez porque eu morei em um pais pior que o nosso em vários aspectos e fiquei com saudade daqui ou porque Dilma me dá um baita orgulho, ou talvez meu lado esportista pulando de alegria pela COPA e pelas olimpíada... Vou ter a oportunidade de sair de Salvador em seis meses... Já disse e repeti várias vezes que vou me picar ! Mas ai vai chegando a hora e eu começo a pensar e ficar nostálgica... Lembro da alegria do povo dos amigos, da malhação na Hammer, daquele visu inigualável do Cristo, do Jardim de Alah, do Carnaval, de Itacaré pertinho com estrada "tapete", da minha filha, da pracinha Ana Lucia Magalhães, do acarajé de Dari e Laura, da farofa de dendê... Mas quando pego aquele engarrafamento que se tornou praxe na nossa amada cidade abandonada,onde volta e meia rola um arrastão ou um motorista estressado mata por bobagem penso em partir... Pelo menos vc sabe o que quer kkkkkkkkk e isso já é muito, aliás, isso é TUDO. Um mega beijo.

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  2. Amei esse post. E o mais importante é o pensamento de mudanças, que até através dos nossos sentimentos e pequenas ações conseguimos ir mudando nosso ambiente de convívio e assim ir mudando o mundo. Não adianta só ficar triste com a situação, temos que ir mudando de acordo com nossas possibilidades, que são muitas. Tenho certeza que a vida será melhor.
    ALINE

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  3. Realmente. Tenho 10 anos que moro na Chapada Diamantina. E percebo que a minha terra natal já não é mais a mesma encantadora cidade que sempre foi. Precisamos unir forças e contribuir com a melhoria. Seja na hora de votar, de agir, de ajudar ao próximo, de ajudar na limpeza, te pensar de forma mais sustentável e menos predatoria. Um dia o que é mal usado acaba!
    Quero a nossa Salvador de antes.

    Marie

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  4. Piorou mesmo, mas ainda dá pra ser feliz aqui, Val.

    Volte qdo quiser.

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A INCRÍVEL falível espera ansiosamente por um comentário seu: