10 abril 2011

A vida como ela é.


Quando fui comprar o bilhete na máquina, pedi ajuda a uma mulher. Ela foi simpática e continuamos conversando. Entramos juntas no trem e nos sentamos de frente uma para a outra. 

De repente ela começou a me contar a sua vida inteira, toda dada como eu. Só que ela contou coisas dificilmente contáveis em um primeiro momento. 

Disse que quando criança foi abusada sexualmente, que na adolescência se envolveu com drogas e com homens errados. E teve sete filhos com sete diferentes deles. E por último, em 2009, esteve presa por oito meses por ter sido pega roubando comida no Wallmart.

Isso pra ser sucinta, a sua história é bem mais complexa. Brenda tem 33 anos e apesar de aparentar 45, mantém um sorriso juvenil. Me mostrou fotos dos filhos e contou sobre a personalidade de cada um com os olhos brilhando. Falava devagar para que eu entendesse, disse que quer fazer faculdade. Me olhava com admiração e adorou saber sobre o Brasil.

Ela estava indo para LA para entregar uns papéis em sua defesa para não ter que ser deportada para a Guatemala, lugar de onde veio ainda criança. Disse que está determinada a fazer tudo certo agora. 

Lá para as tantas tirou os tais papéis da bolsa e me pediu para ler. Tratava-se da descrição de sua vida e de todo o seu desfortúnio até chegar ao ponto de ser pega roubando.

Estava muito bem escrito pelo advogado, li aquelas dez páginas atentamente como se a defesa fosse minha. E como tive vontade de ter uma cópia daquela história! Tinha nas mãos um grande roteiro da vida como ela é.  

E mesmo com um passado tão diferente senti uma grande empatia. Por ser mulher, por ser mãe e por todas as escolhas erradas que já fiz. Nada mais ou melhor do que ela.  E sim com mais amor e mais oportunidades.

Ela me deu seu telefone mas não teve coragem de pedir o meu. Me acompanhou ao descer do trem para se assegurar que eu comprasse o segundo bilhete certo.

Nos abraçamos e eu a desejei boa sorte na maior intensidade que consigo desejar isso a alguém. 

E segui pensando na nossa condição humana tão falível. E como minha avó já dizia, a humanidade é a mesma em qualquer lugar. Em algum momento a gente sempre se encontra no mesmo trem.


3 comentários:

  1. parece que atraimos esse tipo de situcao...ou precisamos escutar "coisas"vindas de outras pessoas,para sentirmos que nossos problemas ,duvidas ou incerteza sao nada comparadas á complexidade do mundo.
    Agradeco sempre essas situacoes..acho que sao os anjos..colocando na nossa frente ,verdades.Chego ate a duvidar se realmente existiram essas pessoas ou se foi um sonho.

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  2. São mensageiros com certeza Ninha, sorte nossa estar atenta. Bjs amiga

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  3. Com certeza este encontro foi enriquecedor para vcs duas. :)

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