21 setembro 2010

Eu vim morar nos States!


Em março resolvi sair do trabalho. Estava há quatro anos na área de recursos humanos de uma empresa. Amava o que fazia, participar do desenvolvimento de pessoas e equipes. Passei uns quinze dias perdida, saudosa, tirando da agenda do celular os compromissos. Mas cumpri o ciclo e estava na hora de fazer a roda girar. Certo, tudo muito lindo, mas e agora? Para mim, uma ansiosa crônica, é impossível viver ser projeto.

Decidi então tirar da gaveta um sonho antigo, passar um ano nos States. Eu sou assim bem boa de idéias. Parecia um sonho arrojado demais para qualquer pessoa com muito défict de atenção, que nunca viveu fora da Bahia, que é separada com três filhos, com habilidades internáuticas restritas a mandar e receber e-mails e com um inglês bem chinfrin. Mas não para a atrapalhada perseverante.

Decidi encarar mas já viu, não foi nem um tantinho fácil. Foram quatro meses de muito trabalho para tirar os vistos de estudante, deixar as contas pagas, estudar para fazer o teste toefl de inglês, alugar casa, pedir transferências, revisões médicas, passagens, resolver escola aqui para todo mundo, traduzir documentos, fazer muitas malas, providenciar autorizações, milhares de papéis e pré requisitos de uma coisa pra outra. Fora a administração emocional da coisa, fazer com que todos acreditassem que seria uma grande experiência.

Isso contando só com Mingo e Giselda. Só pra dar uma idéia, eu passei dois dias inteiros no computador só pra preencher os formulários dos vistos. Eu preenchia uma página, faltava uma informação, ia buscar, voltava, saia do ar, terminava, via que tinha feito uma coisa errada, recomeçava, a foto não servia, vai todo mundo tirar outra, coloca no tamanho certo, lá pras tantas o tempo acabava e o treco sai do ar, vai de novo, aprende a ir salvando, refaz, faz tudo de novo cinco vezes. Mingo quase pediu as contas.

E assim segui bravamente com a ajuda da equipe lá de cima, do meu amado/beloved google tradutor, das migalhas oferecidas pelas atendentes de agência por telefone e pela orientação dos amigos e primos, principalmente das do lado de cá.

É, eu tenho a sorte de ter uma família nos EUA. Meu avô deportou uma tia para cá na década de cinquenta para separá-la de um pretendente indesejado. Ela não queria vir mas acho que chorou pouco pois logo estava casada com um americano com quem teve quatro filhos. As primas daqui fizeram toda a diferença na minha decisão e me ajudam até hoje sem parar. Vocês vão ouvir falar delas. Eu acho que todos os portadores de DDA tem fortes anjos no céu e na Terra. 

Aterrissei em 01/08, mês de muita sorte. Trouxe na bagagem os filhos, a mãe e o cachorro. Trouxe também bem traçados os objetivos; aprender e mudar. Precisava me conectar mais com meus pequenos, conhecê-los melhor e me reconhecer.  Oferecer para eles uma liberdade que infelizmente está cada vez mais restrita no Brasil. Poder ir para a escola de bicicleta, pública, diga-se de passagem. Aprender uma nova língua, desenvolver a autonomia, conhecer outras pessoas e ver outro jeito possível de viver. 

Acho que passei a vida colhendo material, adoooooro observar o comportamento das pessoas, mas só agora comecei a escrever. Uma aprendiz motivada por uma nova perspectiva, convivendo com as suas limitações e embalada pela fé no futuro.

Um comentário:

  1. Vc fez a coisa mais certa de sua vida,arriscar sem medo de errar,parabéns.

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