20 dezembro 2014

Disfarce de Papai Noel


Há uns dias, uma amiga me viu arrastar a caixa da árvore de Natal e comentou: - Daqui a pouco não vamos mais precisar desmontar a árvore de um ano pro outro, do jeito que o tempo está passando cada vez mais depressa…
Era exatamente aquilo que eu pensava e não sabia, estava com tanta preguiça, por obrigação, só porque consta no manual da mãe perfeita em negrito que casa com crianças tem que ter árvore de Natal. Chamei as meninas pra me ajudarem mas ninguém topou, numa prova de como os adolescentes mudam de um ano pro outro. Pensei em intimá-las, mas sou fraca em forçar a barra pras coisas. Pensei em deixar pra depois, mas aquele trambolho já estava há uma semana no meio da área de serviço, e em mais uma piscada o Natal já teria passado.
Outro dia, que já deve fazer uns dois meses, cheguei a sentir antipatia dos shoppings nos empurrando as decorações cafonas e um espírito de Natal que não teve tempo pra descansar, não é possível. Não vi graça nas luzes da cidade, as propagandas da TV estão mais forçadas ainda e eu não estava a fim de comprar presente pra ninguém. Tem um livro que ganhei no ano passado que ainda não abri, os cartões ainda estão por cima de uma gaveta e a vontade de comer peru não chegou.
Respirei e perseverei, como nos finais das corridas, quando nos dá uma fraqueza e é preciso fabricar energia pra chegar no fim. E olha eu sou dessas que amam desculpas pra encontros, roupas bonitas e festas. Mas ter aquela trabalheira toda, e com garantia pelo menos um quilo a mais... Mesmo assim segui na empreitada, escolhi os melhores enfeites, que são os que foram feitos pelas crianças ou com fotos delas. Olhar para aquelas carinhas deu um aperto, eles estão tão diferentes! Torci para as luzes estarem ainda boas e remendando aqui e ali, salvei 60% delas, era o suficiente. Chamei as meninas pra ver. - Ah, legal! – Ficou bonito, mãe! - a outra disse, de passagem, com o celular na mão.
Pra tentar aumentar a graça do momento, e diminuir o pesar que dá quando percebemos a vida passar muito rápido, comecei a enumerar  o que realizei este ano. Muito, até para uma hiperativa zen ansiosa proativa, reconheço. E agradeço. Num instante os 60% de luzinhas recicladas brilharam um bocadinho mais. Fui lá, estirei os galhos e dei mais uma desamassada nos laços. Coloquei a árvore mais pra frente, mais pra fora, e um pouco mais pra perto de mim.
Assim senti o primeiro sopro desse tal espírito natalino de 2014. Ele não passa de uma oportunidade de exercer a gratidão e a união, disfarçada num figurino bem brega. E não vem mesmo, não adianta, da TV, dos presentes, das árvores, nem das luzes na rua. É um estado de consciência, e como os outros não precisa de nada, nem motivo, nem companhia. Pode chegar em nossos corações em qualquer época do ano. Mas, vamos reconhecer, reunidos em família, com uma mesa cheia de delícias e cercado de vermelho com luzinhas brilhando, fica melhor ainda.

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