01 abril 2012

Amazônia, um estado de espírito



Amazônia, um estado de espírito

No avião de volta pra casa não consegui dormir. Exalava energia e vitalidade, poderes naturais adquiridos do lugar de onde vim: a Amazônia.  Fiz um cruzeiro pelo Rio Negro, o lugar mais cheio de paz que já visitei. E me encantei: vi botos cor-de-rosa, tucanos e araras-azuis. Encontrei alguns jacarés, uma tartaruga e uma família de quatis. Vi um bicho preguiça comendo folhinhas na maior no topo de uma árvore, nem aí para o barulho dos macacos ao lado.
Fiz um passeio em uma lanchinha à noite e ao chegarmos bem perto da mata apagamos a luz. Pude ver o céu estrelado mais bonito da minha vida ao som da orquestra dos bichos noturnos.
Tomei um banho maravilhoso de rio, bem pertinho das piranhas, também as pesquei com pedacinhos de carne no anzol. Banho em água fria cheia de ferro e de saúde.
Quando primeiro avistei a floresta, de longe ela me parecia uma moita só verde e sem fim. Mas à medida em que chegava perto percebia a variedade das árvores, era difícil achar uma igual a outra, elas são mais de vinte mil espécies! Fiz uma trilha e tive uma aula de botânica: aprendi a tirar borracha de uma seringueira, conheci dezenas de funções de árvores e plantas, espécies de formigas e besouros, e reconheci alguns rastros dos animais.
O Sr. Guaraci, o simpático senhor que foi o meu guia, disse com muito orgulho que ele não precisa da cidade para nada, que da floresta ele tira a comida, a carne, o remédio, a roupa, o sapato, a casa, até o sal e o açúcar.
Senti uma baita inveja dele. Uma vergonha de precisar consumir tanto, de querer tanto, de ter que usar de tantos artifícios e recursos para viver. Esse povo da terra tem mesmo muito a ensinar para nós, o povo do livro.
No prato me servi de um abuso de castanhas, de tapiocas, de frutas da região: cupuaçu, acerola e açaí. Peixes deliciosos, comi todos os dias tucunaré e tambaqui. Experimentei pupunha, uma prima da batata doce deliciosa.
E sentia um sono sem fim, entre um passeio e outro eu só dormia. Quando abria os olhos e olhava para o rio na janela, embalada pelo barco e protegida pelo silêncio, em meio minuto fechava os olhos de novo e ia embora obedecendo somente a mim mesma.
Acho que fui enfeitiçada. Me apaixonei pelo rio e acho que se o boto aparecesse em minha janela me chamando eu iria embora com ele sem pestanejar. O rio me deixou renovada e feliz.
Mas sei que este passeio pode não ser percebido assim por todos. Se você estiver procurando por fortes emoções vire definitivamente o seu leme para outro lado. Lá não há festas, não tem sinal de celular nem internet.  As bebidas e os excessos ficam fora de questão já que os melhores espetáculos da vida na floresta começam cedinho. Foi ao nascer do sol que vi o encontro dos rios que não se misturam: o Negro; de água escura e o Solimões; de água barrenta. Temperatura, peixes e vegetação distintos, é muito interessante.
Vejo a Amazônia como um estado de espírito. Assim como Salvador é um e São Paulo é outro. Para poder enxergar, ouvir e sentir a floresta você precisa se preparar, abrir-se para ela. Esvaziar-se para poder contentar-se.
Eu enchi a minha garrafa com o melhor oxigênio do planeta. Estou pronta para desativar o pequeno “pause” que dei em minha vida com a mente bem mais vazia e o coração tranquilo.
E o melhor de tudo é que esse paraíso é brasileiro! E muito admirado pelo mundo. Mesmo em baixa-estação a quantidade de estrangeiros é enorme e o fascínio deles também. E sempre com uma grande preocupação pela preservação da floresta.

Tudo que pudermos fazer para garantir a Amazônia para os nossos descendentes é pouco, preservar este paraíso é a nossa obrigação para o planeta e uma prova de amor para as gerações futuras.





7 comentários:

  1. Amiga mudei! Ve a importancia de sua escrita? Quero conhecer a Amazonia URGENTE!

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  2. As aventuras da Incrível falível pelo Brasil!=p

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  3. Val, viajei junto com vc agora lendo esse texto lindo!!

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  4. Valéria,

    Para a sua informação, tenho mais de 300 endereços no meu bookmarks. Por dever profissional, acesso com mais frequência os sites e blogs de jornalistas amigos ou conhecidos. Mas, sempre que posso, na vida real e virtual, visito endereços que me fazem bem, inclusive o seu.
    Hoje, por exemplo, foi muito bom ter vindo aqui! No próximo dia 13, vou novamente à Amazônia. Desta vez, por influência sua, deverei fazer um roteiro diferente e possivelmente contemplarei a mata com outro olhar e "estado de espírito". Quando retornar conto essa nova experiência.

    Há braços,

    Lourdinha

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  5. Valéria,

    Desejei ler novamente o seu escrito sobre a Amazônia. Isso significa que é muito bom! Na verdade, foi a melhor descrição que já li sobre aquele lugar, que tem sido descrito muito mais como motivo de preocupação com a sua má ocupação do que por sua beleza, Insista nisso que você pode ir muito longe nessa onda dos que escrevem o que pensam e sentem (Drummond definia poeta como a pessoa que escreve o que pensa e sente). Parabéns!

    Há braços,

    Lourdinha

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  6. Deve ser mesmo o melhor lugar para recarregar as energias! Feliz de quem usufrui diariamente desse paraiso! Com certeza sao pessoas calmas, felizes e que viverao uma longa vida! Este deve ser o lugar perfeito para se descobrir que o segredo da felicidade eh a simplicidade, o prazer de encontrar-se rodeado pela beleza da natureza, que nesse caso, eh a mais rica do mundo! Infelizmente, a natureza vai sendo destruida pelo mundo afora, e cada vez menos pessoas terao o prazer de desfrutar da verdadeira riqueza que nos foi dada por Deus! Belo texto, Val! E que menina corajosa, voce, hein?! Acho que um banho de rio, perto de piranhas, nao seria comigo, nao...rsrs! Ou sera que a forca da natureza seria mais forte que o meu medo? So indo la pra saber, ne? Adoro voce!!

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  7. Amei o texto Val. Deve ter sido mesmo uma viagem espetacular. bjs

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