17 junho 2011

Mesmo assim


Ontem os primos chegaram. A Debbie, o seu marido Steve e a sobrinha Stephanie.
O Erik, seu filho, já está aqui há quatro meses, veio para passar um semestre e conhecer a nossa cultura, conviver com a família e aprender a falar português (sim, isso é importante para eles).

Saímos de manhãzinha do aeroporto e pegamos ¨aquele¨engarrafamento para casa. Tentamos ir pela orla e estava pior. O Steve que pisa no Brasil pela primeira vez, olhava para tudo muito interessado. A primeira coisa que notou desde a chegada do avião foram as casinhas pobres e amontoadas.

Desde a outra vez que vim, notei que Salvador já teve dias muito melhores. Seja pelo período pós-chuva, pela ausência do sol que colore e ilumina tudo ou pela incompetência dos dirigentes que nós elegemos e pior, re-elegemos, não é fácil mostrar a nossa cidade para um turista. Principalmente pelo tamanho das expectativas, fomentadas pela propaganda das olimpíadas, da copa do mundo e tenho que confessar, por mim.

É muito duro para uma cidadã baiana apaixonada pagante de todos os impostos ver que o crescimento econômico do Brasil ainda está longe de se refletir no nosso cotidiano, em questões como  infra-estrutura, limpeza e segurança. 

Durante o passeio da tarde procurei mostrá-los as ruas mais bonitas, os nossos bons restaurantes, os pontos turísticos famosos e a nossa linda arquitetura. Chamei a atenção para como o nosso verde é tão verde, o azul do mar é tão azul, a música é boa, as frutas são doces e as pessoas são alegres.

Meu big cousin Steve perguntou se poderia abrir o vidro para tirar fotos no caminho. Eu disse: Poder você pode, mas não deve. Bem tristinha por dentro.

Houve um momento em que ele comentou sobre o grande número de cachorros na rua. O filho então falou: - E o que é interessante é que eles olham para um lado e para o outro antes de atravessar. Lá (US) vemos poucos cães soltos, mas eles sempre morrem atropelados.

- Eles são como a nossa gente. - pensei alto. E ele disse:
Mais inteligentes?
Não. Mais espertos, preparados para lidar com a vida que tem. 

Eu sei, também achei péssimo nos comparar a vira-latas. Mas foi o que saiu, é como estou me sentindo. Cada vez mais alerta, desviando do lixo e dos buracos, driblando os perigos, escolhendo o melhor caminho para não ser assaltada e o melhor momento para não pegar um enorme engarrafamento. E o pior, meio adormecida neste estado, conformada, sem nada fazer para transformá-lo.

No final do dia eles me abraçaram e me agradeceram muito o passeio. Disseram que amaram. Acho que foi uma pequena demonstração do que nós sentimos. Consegue-se perceber nas entrelinhas uma energia extraordinária que não há em lugar nenhum. Um calor humano Incrível. Fora a quantidade de recursos naturais e possibilidades que temos nas mãos. E tudo o mais que nos faz amar isso aqui, mesmo assim.



3 comentários:

  1. Gostei da sinceridade Val. Você tem razão sim, na propaganda a Bahia é uma coisa muito diferente da realidade. Ainda há um longo caminho para ser um lugar desenvolvido e com boa qualidade de vida para todos.

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  2. Sim, Salvador esta um caos! Mas temos q acreditar que ela pode e vai se tornar
    Uma cidade melhor...só depende de nos eleitores-cidadãos.
    Bjs
    Mae de Antonio

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  3. Eh a triste realidade do nosso Brasil, mas mesmo assim, nao da pra deixar de notar ou sentir a energia, a alegria, o calor humano, e tantas, mas tantas maravilhas que este pais proporciona! E voce, amiga, eh uma grande escritora!!!

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