12 agosto 2012

Pai


Já faz tempo que esta palavra me incomoda. Há mais de quinze anos. Sofri muito quando meu pai morreu, todas as vezes que ouvia alguém chamar alguém de pai sentia um aperto.

A carência de pai é algo comum aqui em casa. E na medida do possível, bem resolvida. E quando não está na medida eu procuro ajuda. Nesta semana estive em um psicanalista novo e ao me queixar (e me gabar também) de como é duro ser pai e mãe e ter que assumir todas as responsabilidades tive uma ótima sacudida. Ah, como eu adoro (e preciso de) terapia!

Ele disse que eu não posso ser pai porque não conseguiria, que a relação da mãe com o filho é tão intrínseca que por mais que ela queira ela não consegue desempenhar o papel de um pai que vive uma relação mais distanciada, é quem que faz a ponte do filho para o mundo.

Perguntou se eu tinha alguém que representasse essa figura. Respondi que SIIIIMMMM!!!!! Porquê Deus nunca me deixou no frio sem cobertor... mais casaco, cachecol, luvas e botas. Eu tenho um irmão que vale por dez, que nos ampara e que segura muito bem comigo a onda dessa galera toda.

Mas nada tira a saudade. Estava agora passando a vista no Facebook e vendo dezenas de fotos das pessoas penduradas nos seus pais. Morri de inveja. Tenho a minha foto do dia de hoje na cabeça. Meu pai sentado, eu e meu irmão atrás da cadeira (eu grudada do pescoço dele), minhas filhas no colo, uma em cada perna (disputando o pescoço), meu filho de um lado e o meu sobrinho do outro.

Por que né? Uns tem que ir pros outros chegarem. Eu não conheci meu avô e minhas filhas não conheceram o delas. E por mais que eu o descreva elas nunca vão saber como ele era de verdade.

Ao pensar nisso lembro-me depoimento que li da filha de um homem muito famoso recentemente homenageado. De como ela estava orgulhosa do legado imenso que ele deixou. E ao ler aquilo eu só me identifiquei na parte em que ela falava da saudade, percebi que eu não queria o legado, que o que eu queria de verdade era mais uma tarde com o meu pai.

Apresentar os meus filhos, dizer como tudo está bem e como ele foi importante em minha vida.

Percebi que o que fica no coração dos filhos não é o tamanho da obra, das grandes realizações. E sim os pequenos gestos. Eu queria ouvir meu pai me chamar de Sinhá, ver ele destampar a panela para me mostrar a comida deliciosa que estava fazendo. Eu queria ver ele chegar com um saco na mão, ele tinha mania de trazer coisas gostosas da rua pra mim. Queria ver o brilho nos olhos dele quando ele me apresentava para alguém, sempre senti que ele me achava a coisa mais linda do mundo!

É, não dá pra ter tudo, não dá mesmo pra colocar os pais com as filhas em uma foto aqui em casa. Mas dá pra guardar no coração uma certeza. A de que fomos muito amadas. Seja com um tempo maior ou menor, os pais que nos trouxeram para este mundo nos queriam. E isso, provado com os mais singelos gestos, nos traz a base que precisamos para seguirmos felizes.

Então, nesse fim de domingo de dia dos pais eu queria dizer pra ele que ele conseguiu. Que ele me fez sentir amada e importante e me ensinou como amar os meus filhos. E que esse é o maior legado que alguém pode deixar nesta vida. Fazer com que bem querer transborde até outras gerações, com que aconteça a perpetuação do amor!

3 comentários:

  1. Belo texto Valéria, parabéns!
    Linda e abençoada semana pra vc!
    Bjo&Carinho,
    Jussara

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  2. Lindo! Não precisa de outra definição!

    Há braços

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  3. Ainda bem que a caixa de lencos de papel esta aqui ao meu lado, para enxugar as lagrimas que esta estoria me causou! Voce, minha amiga linda, nao tem apenas um coracao de ouro... voce "e" um coracao de ouro!! Te admiro demais da conta!!!

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