Eu
já nasci sabendo namorar em português, já poderia estar casada com um
americano, desenrolo bem o espanhol e nesta viagem eu vi que posso paquerar em
francês, portanto, eu sou uma poliglota paquerística. Não falo da paquera a
distância, de olhar para que a pessoa paquerada se aproxime, pois esta faz
parte da linguagem universal do acasalamento humano. Refiro-me sobre desenrolar
um assunto, algo trivial, nada demais, contando é claro com a condescendência e
o empenho dos paquerados envolvidos em entender e serem entendidos.
A
minha mãe adora paquerar, acho que este é um dos seus passatempos prediletos. E
ela bem sabe que a capacidade de falar outras línguas expande bastante as
possibilidades nesta área. E quando o mar está mais para os peixes de minha
faixa etária do que para os da dela, ela vibra muito em me ver paquerar, acho
que vê o talento ser passado de geração para geração, pode ser a garantia da
perpetuação da espécie, vá lá entender o que se passa nos subconscientes das
mães. Fica me mandando trocar de lugar com ela, me mostra os candidatos, no
fundo eu acho que ela pensa que ainda sou muito lenta nesta habilidade, que
tenho muito a desenvolver.
Em
Madri, no Mercado San Miguel, ela me mostrou um sujeito loiro, alto e magro.
Olhei só para agrada-la mas não vi nada demais. Ele se aproximou, amável e
simpático, era um piloto. Conversamos tranquilamente em espanhol, e eu adorei
isso. Mas nada mais, para mim é essencial que o paquerado tenha algo especial e
esse definitivamente não tinha.
Ele
percebeu o meu desânimo e partiu para agradar a mamãe para ganhar uns pontos, e
ela, que se já tinha gostado dele, neste momento quase se derreteu. Começou a
falar, em inglês, sobre mim, que eu sou a oitava maravilha do mundo e que se
todos prestarem bem atenção ainda irão melhorar a minha colocação.
Eu
olhava para aquilo preocupada, primeiro porque ela não percebeu que eu não
gostei do rapaz, e depois porque apesar de estar em um balcão do mercado eu não
estava disponível assim.
O
piloto galego que já estava se animando estranhou quando eu disse que precisava
ir embora porque eu e ELA, a esta altura toda vermelha e lampeira com três
taças de vinho branco, estávamos cansadas de um o dia inteiro de viagem.
Eu
entendo que ela realmente me acha o máximo, eu sou mãe e sei que todas as mães
acham os seus filhos o máximo, entendo que ela faz isso na melhor das intenções,
entendo que eu poderia sim dar uma chance pros pilotos galegos que ela escolhe
para quem sabe ter mais sorte, entendo tudo e não reclamei de nada,
principalmente porque aprendi depois de muito tempo que nós não conseguimos
mudar as mães.
Saímos
andando pelas ruas de Madri e eu tentei dizer para ela que estou feliz assim,
que o meu namorado atual, o livro, tem me feito bastante companhia. Acho que
ela não acreditou muito porque no dia seguinte me apontou mais uns três. Para
ela namorar é a melhor forma de viver emoções. Não que eu não goste, eu gosto e
muito, mas tudo tem sua hora e estou amando estar tranquila assim. Não tenho
inveja nenhuma das mulheres casadas à minha volta, ontem eu vi um marido que
está em nosso grupo dar um grito na sua mulher que me fez estremecer, Deus me
livre. Já estive em Paris acompanhada e não foi bom, e eu que nunca pensei que
pudesse ser ruim vir a Paris.
Mil
vezes só do que mal acompanhada, este é o meu lema. Só assim posso fazer o que
quiser, escrever, flertar em várias línguas e guardar o meu amor para quem
realmente mereça. A minha mamãe merece e eu estou muito satisfeita em dividir o
quarto com ela, eu só preciso encontrar um jeito de fazer com que ela acredite
nisso.
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