Quem tem amigos tem tudo. Um casal muito querido, Paulo e
TT, pediram que um amigo deles, romano, me apresentasse a cidade no dia que
cheguei. Ele se chama Massimo e a sua elegância e educação fazem jus ao seu
nome. Conversamos em inglês, mas poderia optar por francês e espanhol.
E assim aconteceu a minha primeira passagem por aqui. Entre caminhos programados e surpresas, como uma boa viagem tem que ser, dei início a minha história de amor com esta cidade. Na Fontana de Trevi tinha direito a fazer três pedidos. Então eu caprichei, pedi que eu possa voltar, que eu possa voltar e que eu possa voltar.
Ele me levou para jantar no Ginger, um restaurante moderno e
delicioso. Escolheu o vinho só para mim, ele não bebe. Pediu uma entrada com
todas as variedades de presuntos, mortadelas, queijos e burratas, aquela
mussarela de búfala que derrete por dentro, para que eu provasse tudo. Eu disse
que queria uma massa e ele pediu a cacio e pepe, mas disse que eu não poderia
ir embora sem provar a amatriciana e a a carbonara, as mais tradicionais. Sim senhor!
Não deixou eu encostar na bolsa, fez até cara de bravo, eu
adorei. Eu estava mesmo diante de uma
espécie em extinção. Para a sobremesa ele não quis olhar o menu do restaurante
e me levou para tomar sorvete na Piazza Navona, que tal? Íamos andando pelo
centro da cidade iluminado tanto pelas luzes indiretas quanto pela luz da lua
quase cheia, enquanto ele me dava uma aula de cultura e de história. Entramos
em seu carro (eu até estranhei, achei lindo, tanto tempo sem entrar em um, rs)
e rodamos por toda parte, para os lugares que só os romanos conhecem, para ver a cidade iluminada do alto junto do monumento de Giuseppe Garibaldi, era eu à meia noite em Roma, sem
engarrafamentos nem turistas, com um guia só para mim!
E depois? Depois ele me deixou no hotel e fez questão de me
acompanhar até o elevador. E só. O Massimo é casado (senão seria considerado
relíquia, poderia até colocar em um museu para apreciação) e mesmo se não fosse, não daria jogo, não bateu.
Tanto que ele se colocou à disposição para os próximos dias
que passarei aqui mas eu não aceitei, lógico, tem ofertas que são feitas por
gente educada para que gente educada não aceite. Mal posso esperar para
recebe-lo com a sua família no Brasil para retribuir a gentileza.
Nos dias seguintes voltei para a minha realidade, para a
minha galera e para o meu ônibus. Fomos ao Museu do Vaticano, a Basílica São
Pedro, o Coliseu, as piazzas e as fontanas todas. Roma, mais de dois mil anos
de idade. Arcos e tetos que deram origem à arquitetura mais imponente que já
vi. O dedo de Deus de Michelangelo na Capela Cistina ilustra perfeitamente a
capacidade quase divina do homem em fazer a arte.
E no meio dos programas tem as fugidas, lógico. Destaco um
momento com minha mãe e a Celia, uma amiga do grupo. Estávamos jantando em um restaurante
no meio da Via Borgognona e passou um homem tocando um acordeom bem sem graça. Eu
fiz uma oferta irrecusável e aluguei seu acordeon por cinco euros.
Entreguei-o para minha mãe que adorou a surpresa e conseguiu,
com seu estilo, charme e entusiasmo dar vida ao instrumento. O dono da
sanfona arregalou os olhos, as pessoas que passavam na rua pararam para olhar,
as pessoas das outras mesas sorriram, os garçons e os clientes que estavam
dentro do restaurante saíram para ver quem estava tocando.
E ela, que quase não gosta de platéia, nos presenteou com Fascinação,
Que será será, que são conhecidas por todos, Asa Branca, em homenagem a nossa
origem e Mais perto quero estar, um hino lindo para agradecer à
Deus pela oportunidade.
E depois o devolveu, foi só uma palhinha. Durou poucos minutos
mas o suficiente para ficar registrado para sempre. Mostrou sutilmente, através da
linguagem universal da música, a sensibilidade e o bom gosto de uma mulher brasileira.
E assim aconteceu a minha primeira passagem por aqui. Entre caminhos programados e surpresas, como uma boa viagem tem que ser, dei início a minha história de amor com esta cidade. Na Fontana de Trevi tinha direito a fazer três pedidos. Então eu caprichei, pedi que eu possa voltar, que eu possa voltar e que eu possa voltar.
Adorei, adorei, adorei!!!
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