Eu
nunca soube ao certo porque quis aprender a falar francês, mas eu quero muito.
E depois de dezoito meses de curso cheguei na França, pela cidade de Bordeaux.
Cheguei com minha mãe em um sábado, tomamos banho correndo e descemos o
elevador, enquanto eu treinava mentalmente tudo que iria falar em francês Vamos
lá:. - Boa noite, pode nos sugerir um bom restaurante? Mas peraí, como é
sugerir mesmo? Não sei. Indicar? Também não. O macete de falar uma língua é
encontrar palavras substitutas, só que eu tinha esquecido de todas as que
combinavam com sugerir. Nada que o google translate não resolva.
Voilá,
suggérer, d'accord. - Bonsoir, pouvez-vous me suggérer un très bon restaurant?
Saiu lindo, juro! Milhares de euzinhas bateram palmas dentro de mim. A minha
mãe olhou admirada, o recepcionista também, não sei ao certo se pelo mon petit
francé ou pelo tanto que estávamos arrumadas, nada menos do que o necessário
para a nossa primeira noite na França, um sábado, véspera do dia das mães e
vários outros ótimos motivos.
-
Mais déjà 10 heures, c'est trop tard! - Disse que estava tarde - eu entendi mas
as euzinhas já não bateram tantas palmas assim pois não gostaram muito da
resposta. E ele percebeu, tanto que pegou o telefone, ligou para um
restaurante, ligou para um taxi e me pediu para esperar por quinze minutos.
J’aime les garçons français!
No
taxi eu falei em francês com o recepcionista do restaurante também. Tratava-se
de um bistrot charmosíssimo, o La Tupina, achei um charme os ingredientes
estavam por todos os lados, os garçons pegavam azeites e condimentos nas
cristaleiras espalhadas, cestas de legumes entravam na cozinha sem cerimônia e
se transformavam em pratos lindos.
Sentamos
e tentei me concentrar, o segredo é ensaiar mentalmente a próxima frase. Pedi a
carta de carta vinhos e numa pose danada pedi a sugestão de um bordeaux.
Suggérer, usei a palavrinha danada de novo. Que stupide! O garçon disse
que todos os vinhos são bordeaux, com pequenas variações, eu estava em
Bordeaux! Já me perdi, e quando ele nos mostrou o menu para fazer o pedido
ficou pior, a essa altura a minha mãe disse que não entendia nada e estava com
fome, não deu tempo de ensaiar a frase seguinte, um sufoco. Daí prontamente o
garçon bonitão começou a falar em inglês. A gente sabe que está falando uma
porcaria de francês quando uma pessoa nos responde em inglês ou espanhol.
Respondi
em inglês, murcha, e quase disse para as valerinhas todas desistirem do francês
para sempre. Lamentei, disse para ele que eu estava me esforçando tanto para
falar em francês, que não estava dando certo. Acho que até escapuliu um
biquinho de dengo. Ele, que parece entender tudo de vinhos, de comida e de
mulheres reverteu na hora a situação.
-
Parfaite ment mademoseille, bienvenue au La Tupina. Que voulez vous demandé comme
entrée?
Vibrei
bastante e resolvi pedir o mesmo da mesa do lado que parecia muito bom para
resolver logo a fome de mamãe e simplificar a vida.
E
eu, que há algum tempo evito carne vermelha, comi o melhor beuf da minha vida.
Com batatas em lascas assadas com pimenta do reino, um pão divino de casca
muito grossa e vinho – bordeaux – para nunca esquecer.
O
garçon sorriu satisfeito quando viu os nossos pratos vazios, nos ofereceu
sobremesa, pediu o nosso taxi e quase me aplaudiu quando eu pedi a conta direitinho.
Um
outro abriu a porta do taxi para que nós entrássemos e ao sair por aquela ruela
feita para charretes entre aqueles prédios antigos e românticos desejei ficar
ali para sempre, já que je parle francé.
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