28 maio 2013

Nem às paredes confesso!


Alguém aqui deve ter me visto dizer que para shows típicos eu não iria de jeito nenhum, nem amarrada. Pois é, fui. Viagem chegando ao final, confraternização dos coleguinhas da excursão, carinha de pidona da mamãe, foi o jeito. Fomos à assistir à um Fado no Forcado, um restaurante típico no Bairro Alto em Lisboa. E eu adorei.

O Fado é a música da saudade dos portugueses, esta palavra que não tem tradução em outras línguas. São as músicas que expressam o lado sonhador, nostálgico e a ânsia melancólica por algo perdido ou inatingível. Tem como principal ícone a Amália Rodrigues, atriz e cantora portuguesa que nasceu em 1920 e morreu em 1999 e que popularizou o Fado pelo mundo.

Trouxe uma palhinha. Começando pela nostálgica Lisboa Antiga, imortalizada pela Amália Rodrigues:

Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza.
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa.

Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas, reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais,
Que já não voltam mais.

Agora deixa eu avisar para quem está pensando em vir, o Fado é totalmente contra indicado para quem está sofrendo de dor de cotovelo. Com risco de afogamento em vinho português. Eu por um triz não chorei, ela fazia cara de dor e eu entendia, quase saí para comprar um xale preto todo bordado para me enrolar. Olha para essa, chama-se "Sem razão":

Meu amor, não me perguntes o motivo
Da paixão que me tortura
A verdadeira paixão não tem razão,
Nem se procura
É desgosto a felicidade que cheguei
A qualquer altura.


Por que gostei de ti, não sei!
Pois nada fiz pra que te queira!
Se o amor se perdeu,
Que culpa tenho eu
De querer-te desta maneira?


Dizem que ninguém pode ser fadista antes dos quarenta. Que é preciso sofrer para ser fadista de verdade. Então mais Amália, "Lágrima", essa é para passar por cima de quem já está no chão:

De querer-te desta maneira?
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havia de chorar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar.

De arrombar não é? Sorte que tinha umas alegrinhas também para fazer a pessoa respirar, esta todos cantavam batendo palmas, chama-se "Uma casa portuguesa":

Quatro paredes caiadas
Um cheirinho a alecrim
Um cacho de uvas doiradas
Duas rosas num jardim
Um S.José de azulejos
Mais o sol da primavera
Uma promessa de beijos
Dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa com certeza!
É com certeza,uma casa portuguesa!


Essa é do Tony de Matos, "Só nós dois é que sabemos", e a minha mãe também sabia a letra e cantou sem parar:

Só nós dois é que sabemos
Quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós dois avaliamos
Este amor forte e profundo
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo

Anda, abraça-me... beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece que vais na rua
Vem ser minha e eu serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta


Ter cultura musical é o máximo e aqui está um prato cheio para degustação, pura provocação para uma viagem na internet para lembrar ou conhecer estes clássicos portugueses. Eu adorei ter sido apresentada à Amália e à Lisboa, conhecer e me reconhecer neste povo tão ligado a nós. Ouvir músicas de coração partido da linguagem universal do amor. Vou fechar com esta, "Nem às paredes confesso", que foi tema da novela "Antônio Maria", de 1968 que a minha avó adorava. Tão atual, falava do coração da minha avó, da minha mãe e fala do meu agora:

Não queiras gostar de mim 
Sem que eu te peça 
Nem me dês nada que ao fim 
Eu não mereça 
Vê se me deitas depois 
Culpas no rosto 
Isto é sincero 
Por que não quero dar-te um desgosto 

De quem eu gosto 
Nem às paredes confesso 
E até aposto 
Que não gosto de ninguém 
Podes sorrir, podes mentir, podes chorar também 
De quem eu gosto 
Nem às paredes confesso.

Quem sabe se te esqueci
Ou se te quero
Quem sabe até se é por ti
Por quem eu espero
Se gosto ou não afinal
Isso é comigo
Mesmo que penses que me convences
Nada te digo.


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