Até pouco tempo no meu cérebro havia dois planos, o A e o B.
O português e depois de muito, muito custo, o inglês. No começo, para mudar a
frequência chegava a sentir dores de cabeça com tanto esforço.
Depois melhorou, fiquei craque em falar em uma mesa com
gente que não fala nada de português com gente que não fala nada em inglês, tudo
misturado com todos se divertindo.
Aí chega a dona ansiedade e diz para a minha versão
tranquila (cada vez mais dominada, coitada) que as coisas estão muito paradas,
está na hora de ser lançado um desafio. Matricula-se a IF em aulas de francês e
espanhol, nos mesmos dias!
Já viu né? O professor de espanhol perguntava, tinha um
segundo para me lembrar que não podia usar o plano A, então saía imediatamente
o B, e eu respondia em inglês. Aí via em mais dois segundos que não funcionou e
saía o plano C que era francês, tudo menos o espanhol enquanto os meus
coleguinhas adolescentes (afinal quem faz aula terças e quintas às 14h?) me
olhavam me achando bem maluca.
Na de Francês a mesma coisa. Isso faz um ano e meio. Então
depois de tantas aulas com deveres de casa feitos com esmero de uma aluna
aplicadíssima as coisas estão bem melhores agora, certo?
Isso, errado. Aterrissei
em Madri, comecei pelo espanhol, tudo bem, mudei a frequência facinho, amei a cidade,
tudo ótimo. Depois veio o francês onde eu me percebi comunicando pela primeira
vez, que bom, os franceses entendiam as minhas frases de cursinho! Depois
Londres num inglês bem mais charmoso por causa do sotaque.
Na Holanda, Alemanha e Áustria mantive o inglês, mas tentava
usar pelo menos as palavras mágicas em alemão. Fundamental, palavras mágicas a
gente tem que saber, com elas todos nos atendem bem mais satisfeitos. A essa
altura eu já estava bem embaralhadinha, já queria compreender o que lia e achava
tudo muito difícil.
Quando cheguei na Itália, achei aquele idioma tão lindo e
familiar, uma pena não saber formar uma frase sequer. Um dia entrei em uma
padaria e fui tentar pedir manteiga. Usei todas as palavras que sabia, fiz
mímica, desenhei, mas o homem não entendeu. Tive que comer croissant puro
pensando em como faz uma falta umas palavrinhas ordinárias assim.
Aí lá pelo décimo quinto dia começou a dar uma pane na
cabeça e me peguei falando coisas assim:
- Per favore je don’t speak italiano.
- La addicion per favore. Oui, that’s all right. Merci.
- Grazzie madame e por aí vai.
E ao chegar em Lisboa? Eu esqueci que as pessoas falam
português, tal e qual nós. Continuava insistindo em puxar um plano B e, quando
estava começando a me acostumar, pronto, acabou, hora de ir embora.
Resultado, um país por vez pra IF, tadinha, ela não tem mesmo como se encontrar
numa maratona linguística como esta. E agora eu tomei gosto pra valer com este
negócio de falar com várias gentes, então tenho muito, muito o que estudar.
Voltar para as aulinhas para tentar enfiar muito mais palavras nesse HD. E até
lá me valer da humildade para que tenham paciência com essa mulher cada vez mais menina com vontade de
aprender.
Que legal! Adorei! Criativo, com rítmo, engraçado! Voce tá ficando cada vez melhor!
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