Ao
sair à noite por Veneza senti arrepios sem parar. Suspirava ao contemplar a
arquitetura, as luzes, as pontes, a água por toda parte, brotando aqui e ali do
chão. É muito mais do que eu esperava.
Nos
restaurantes da praça São Marcos havia conjuntos com homens de paletó e gravata
tocando piano, violino, violoncelo, flauta e acordeom, tocando os boleros
italianos, tangos clássicos. Como não suspirar ao ouvir Perfídia, O sole mio e
Torna a Sarniento? À noite há muito menos turistas do que durante o dia, pois
os hotéis, como tudo na cidade, são bem caros. Geralmente, as multidões de
turistas visitam Veneza durante o dia e dormem nas cidades próximas. Isso dava
mais encanto ao momento, parecia uma noite qualquer para os venezianos.
Alguns
casais dançavam na rua. Suspirei de vontade de estar com meu amor. Gritei para
todos os lados que voltaria ali muito bem acompanhada. A Veneza é um convite ao
romance, com seus hotéis charmosos, suas gôndolas, as flores nas sacadas, a
música, os bons vinhos e a boa comida.
No
dia seguinte, tornei a fugir do grupo. Enquanto todos foram enfrentar uma fila
enorme para serem fotografados em uma gôndola, eu fui ao Palazzo Ducale, o
local onde foi a residência oficial dos governantes de Veneza, fundado no
século IX.
Andei
pelos diversos saguões do palácio enorme e imponente. A Sala del Maggior
Consiglio, onde se reunia o conselho de Veneza, é o maior salão da época sem
colunas, chegava a abrigar duas mil pessoas. O passeio pelo palácio termina na
Ponte dos Suspiros e nas prisões.
A
Ponte dos Suspiros foi construída para conectar o prédio do palácio onde aconteciam
os julgamentos ao prédio da prisão. Nesta ponte tinha umas janelas com frestas
de onde poderia se ver o mar. Deve seu nome aos suspiros dos condenados ao
passar e ver o mar pela última vez antes de serem executados ou trancafiados
até a morte.
Suspirei
de tristeza . Ao visitar as prisões com suas paredes grossas e a sala da Câmara
de Tortura, onde os suspeitos eram presos pelos pulsos e pendurados em cordas,
quase pude ouvir os lamentos e sentir o mau cheiro que devia fazer naquele
lugar. É impressionante a sensação que nos dá estar nesses lugares e chegar tão
perto do passado. Ver quanta coisa horrível a humanidade precisou passar para
chegar ao nível de “civilidade” que temos hoje.
Estar
na Europa me faz sentir grande e pequena demais. Como ser humano, fico
impressionada com a capacidade criativa dos artistas e arquitetos. Fiquei
estarrecida com as atrocidades que foram feitas pelo poder e pelo dinheiro, e
tantas em nome de Deus. Sinto-me ao mesmo tempo insignificante ao
caminhar por onde passaram pessoas há mil anos e continuarão a passar.
Considero-me uma privilegiada ao poder estar aqui, ao ver Veneza e torcer para
que ela nunca afunde, por deixar que esses pensamentos me levem para uma outra
consciência.
Tirei
esta foto da fresta da janela dos suspiros em uma linda manhã de sol. Só que
com outra sorte, eu poderia sair daquele lugar para voltar para os encantos de
Veneza e do mundo. Ai, a liberdade! Como é importante conhecer, sentir e
aprender. Aproveitar, enquanto é tempo, das maravilhas que estão aí. Usufruir
dos patrimônios da humanidade como Veneza. Eles contam sobre nós e estão aí
para nós, em um tempo curto, mas suficiente para nos encher de satisfação de
estarmos vivos, aqui e agora.
Que maravilha! Vocẽ chegou onde quero um dia chegar! É Veneza ou Venezia? Uma amiga que aí esteve me disse que é Venezia, mas não importa. É uma das poucas cidades da Europa que marquei no meu mapa.
ResponderExcluirO fato é que estou adorandoooooooooooooo "viajar" com você e absolutamente convencida de que não demora muitp e vai sair um livro para eu ir ao lançamento.
Há braços
Venezia para os italianos e Veneza para nós. Que bom vir aqui e em todos os lugares com você Lourdinha! Muito obrigada pela companhia e pelo incentivo! Beijos!
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