30 maio 2013

Au revoir!!!

A
qui estou no avião, fazendo o caminho que Cabral fez há quinhentos e treze anos atrás só que bem mais rápido, graças a Deus. Em mais duas horinhas estarei em casa, estou ansiosa por chegar e muito grata pela oportunidade. Volto bem melhor do que fui, gosto muito mais de mim do que antes, gosto muito mais da minha família, dos meus amigos, da minha casa e do meu país.
Quero agradecer demais a companhia de vocês. Sem ela não faria sentido escrever e sem escrita não há registro, o que eu faria com tantos pensamentos e palavras? Seria um desperdício de emoções em tempos de tanta falta de tempo e de escassez de poesia e contentamento.
Escrevia o que vivia e sentia, sem pretensões. As palavras saem fácil dos dedos quando o sentimento é nítido e intenso. A cada dia amo mais fazer isso e se talento eu tiver e Deus me permitir, quero me desenvolver para fazer desta paixão uma profissão.
Agora é hora de arrumar a casa. Desfazer as malas, trabalhar, cuidar dos outros que essa é a melhor parte de mim.

Um beijo enorme para os meus leitores queridíssimos mais fiéis, não canso de dizer que quando esse livrinho IF sair a culpa vai ser toda de vocês. AMO! Muito obrigada, fiquem todos com Deus e até a próxima!!!!





As entrelinhas

Voyager c’est prendre un chemin sans jamais savoir où on va”. Viajar é tomar um caminho sem saber aonde ele vai nos levar.
Uma excursão nos promete chegar em vários lugares. Os guias tem as suas metas e vão ticando cada parada do roteiro como uma missão cumprida, um alívio. Só que o que há de melhor em uma viagem é o que está fora do programa, as escapadas, o que não sai nas fotos e o que é mais difícil descrever.
A Torre Eiffel que ascendeu no momento exato em que passamos por ela na parte de cima do Bateau Mouche, a missa que acontecia em Notre Damme acompanhada de uma cantora lírica e do som daquele órgão maravilhoso, enorme. O pastél de Belém quentinho se quebrando na boca, a corridinha às margens do rio Tejo. O tom de azul intenso do mar de Capri, a minha mãe tocando acordeon em uma mesa na rua de um restaurante em Roma e o bate papo com ela enquanto pintava, sem cerimônia nenhuma, as unhas com o esmalte de amostra no duty free do ferry boat no Canal da Mancha.
Perder o telefone foi ruim, mas foi maravilhoso desconectar. Estar cem por cento presente para ver as paisagens bávaras, dos vinhedos, das oliveiras e das fazendas na estrada.
Amei as histórias que ouvi. A minha mãe me contou e recontou várias, cada colega do grupo tinha uma, eu adoro ouvir. A Zezé, a guia, me disse que quando ela nasceu os seus pais já tinham dezessete anos de casados sem conseguir engravidar e por isso fizeram uma grande festa de batizado. O seu pai comprou caixas de vinho para a ocasião e guardou uma para o seu casamento. E bem mais tarde, depois do casamento ela se lembrou disso e foi atrás da garrafa. E o que viu? O nome do vinho era igual ao sobrenome do seu marido, Vergara.
Eu já sabia sobre as cidades mas agora eu posso ter a minha versão sobre elas. Madri é solar e descontraída, Paris é linda e mimada, Londres é sisuda e elegante, Amsterdã é liberal, Roma é imponente e Portugal é familiar. 

Esta viagem não passou de um menu degustação. Matei o desejo inicial e dei lugar a vários outros. Viajar é algo que se aprende, para as viagens começarem a dar certo é preciso treinar muito. É como na vida. Ao nos tornarmos mais seguros e antenados para o que realmente interessa, podemos curtir além do programado e aproveitar os caminhos  e as suas surpresas, que são tão ou mais interessantes do que as chegadas.

Mãe, a melhor companheira de viagem


Existe algo melhor que viajar com mãe? Aliás, existe algo melhor nesse mundo do que mãe? Um anjo bom que te protege do primeiro até o último dia, alguém no mundo que quer mais o seu bem do que o seu próprio, que pode errar, e erra muito, mas nunca por intensão. A gente precisa mesmo ser mãe para entender às razões de uma. Às vezes nos faltam forças, nos faltam conhecimento e paciência, mas amor, nunca. O nosso leite seca mas a fonte do nosso amor jamais.
Ela já tinha vindo à Europa várias vezes mas topou vir de novo só para ter a minha companhia com exclusividade por três semanas. E nós nos divertimos muito. Ela comprou seu primeiro iphone e em nossas inúmeras horas de ônibus eu dei aula em doses homeopáticas para ela em como manusear o danado.
E aí ninguém segurou, era wi-fi em todo lugar e câmera na mão, centenas de fotos e filmes por dia. E como ela ama fotografar esta filhinha, ela me acha mil vezes mais bonita do que a Gisele Bündchen, pode perguntar. Ficava procurando um melhor ângulo ignorando completamente a fila de pessoas que esperava para tirar fotos no mesmo lugar.
Eu vi outras pessoas viajando só com a mãe. Teve um que deixou para trás a mulher e os filhos porque o dinheiro não dava para trazer todo mundo e ele decidiu trazer a sua prioridade. Se você tem a sua mãezinha, não perca esta oportunidade. Se não tem, pegue a sua mãe emprestada, aquela que você confia e gosta de se aconchegar quando precisa, visite a maravilha que é poder ser cuidado (a).
Acho que todas as mães são Incríveis, cada uma com seu encanto. A minha chega em qualquer lugar, abre um piano sem permissão e começa a tocar. Ela fica louca se me vê sem casaco no frio ou com fome (essa eu acho que é geral), ela sempre saca da bolsa uma bolacha ou uma maçã. A minha mãe quer me ver sempre bonita, ela arruma meu cabelo o tempo inteiro e me dá um batom pra passar. Ela dá gargalhadas quando lê o que escrevo. Ela também me corrige e eu acato quase tudo. A minha mamãe pára tudo para tirar um cisco do meu olho ou um fiapo que está saindo da calça. Ela dá um conselhos ótimos, para acreditar no futuro, que muita coisa boa vai acontecer em minha vida, para usar creme nívea e pond’s e para não comprar uma sombra grande demais, porque a gente enjoa, ela fica velha e nunca acaba.

Verdade mãe, pura verdade. Muito obrigada por existir. Se hoje eu me amo e amo os meus filhos, é porque você me amou primeiro. Não sei o que seria de mim nessa viagem ou nessa vida sem você. Eu estava em paz porque tinha o seu amor. Que Deus nos abençoe para que muitas outras viagens aconteçam, nem que sejam em casa mesmo, com conversas e constatações, com sorrisos e silêncios, simplesmente usufruindo do prazer de estarmos juntas.


A invasão dos brasileiros


Quando viajamos podemos encontrar paisagens bem diferentes. História e costumes também. Podemos comer coisas diversas, mesmo vivendo na era da globalização em que contamos com restaurantes e ingredientes do mundo todo em nossas cidades. Podemos encontrar aqui e ali umas lojas regionais exclusivas. Podemos ver manifestações culturais, sentir um clima bem mais frio, ver shows e espetáculos de teatro maravilhosos.
O que está ficando mais difícil de ver são as pessoas locais. Em quase todos os lugares por onde passei na Europa só via brasileiros. Em todas as ruas, nos restaurantes, nos hotéis, nos aeroportos, lá estão eles carregando as suas sacolas. Em segundo lugar os chineses. E bem depois, mas bem depois mesmo, turistas do resto do mundo.
Nos Estados Unidos é a mesma coisa. Esse é o resultado do nosso crescimento econômico com a crise econômica que estes países enfrentam. Por isso está sendo criada uma enorme estrutura para nos receber.
Soube que guias que falam português estão sendo disputados a tapa. Quase todos os garçons falam português. Vendedores idem. Cardápios em português espalhados. A nossa bandeira ficou popular por aqui, lojas de sandálias havaianas se espalham desenfreadamente.
Nos restaurantes existe até uma adaptação, chamada almoço brasileiro, onde o primeiro, o segundo e o terceiro pratos viraram um prato só e se feijão não tem, o arroz e a batata frita estão garantidos.
Para nós, e só para nós, é permitido o transporte de duas malas de 32 quilos cada, enquanto que para o resto do mundo só até 23. E todos capricham, colocam o peso limite e ainda trazem malas e sacolas nas mãos, pensei que fosse só nos States mas não, isso é muito mais compulsão do que oportunidade.

E soube que na alta estação (julho e agosto) é infinitamente pior, com todos os lugares muito mais lotados. Ouvi muitas histórias de invasões nesta viagem. Invasão dos Bárbaros, dos espanhóis, das tropas de Napoleão. Agora a Europa vive a invasão dos brasileiros e o seu alto poder de compra, bom para eles que precisam vender, mas nada bom para nós que queremos viajar e conhecer gente diferente.


I parle tudo, capiste?


Até pouco tempo no meu cérebro havia dois planos, o A e o B. O português e depois de muito, muito custo, o inglês. No começo, para mudar a frequência chegava a sentir dores de cabeça com tanto esforço.

Depois melhorou, fiquei craque em falar em uma mesa com gente que não fala nada de português com gente que não fala nada em inglês, tudo misturado com todos se divertindo.

Aí chega a dona ansiedade e diz para a minha versão tranquila (cada vez mais dominada, coitada) que as coisas estão muito paradas, está na hora de ser lançado um desafio. Matricula-se a IF em aulas de francês e espanhol, nos mesmos dias!

Já viu né? O professor de espanhol perguntava, tinha um segundo para me lembrar que não podia usar o plano A, então saía imediatamente o B, e eu respondia em inglês. Aí via em mais dois segundos que não funcionou e saía o plano C que era francês, tudo menos o espanhol enquanto os meus coleguinhas adolescentes (afinal quem faz aula terças e quintas às 14h?) me olhavam me achando bem maluca.

Na de Francês a mesma coisa. Isso faz um ano e meio. Então depois de tantas aulas com deveres de casa feitos com esmero de uma aluna aplicadíssima as coisas estão bem melhores agora, certo?

Isso, errado. Aterrissei em Madri, comecei pelo espanhol, tudo bem, mudei a frequência facinho, amei a cidade, tudo ótimo. Depois veio o francês onde eu me percebi comunicando pela primeira vez, que bom, os franceses entendiam as minhas frases de cursinho! Depois Londres num inglês bem mais charmoso por causa do sotaque.

Na Holanda, Alemanha e Áustria mantive o inglês, mas tentava usar pelo menos as palavras mágicas em alemão. Fundamental, palavras mágicas a gente tem que saber, com elas todos nos atendem bem mais satisfeitos. A essa altura eu já estava bem embaralhadinha, já queria compreender o que lia e achava tudo muito difícil.

Quando cheguei na Itália, achei aquele idioma tão lindo e familiar, uma pena não saber formar uma frase sequer. Um dia entrei em uma padaria e fui tentar pedir manteiga. Usei todas as palavras que sabia, fiz mímica, desenhei, mas o homem não entendeu. Tive que comer croissant puro pensando em como faz uma falta umas palavrinhas ordinárias assim.

Aí lá pelo décimo quinto dia começou a dar uma pane na cabeça e me peguei falando coisas assim:

- Per favore je don’t speak italiano.
- La addicion per favore. Oui, that’s all right. Merci.
- Grazzie madame e por aí vai.

E ao chegar em Lisboa? Eu esqueci que as pessoas falam português, tal e qual nós. Continuava insistindo em puxar um plano B e, quando estava começando a me acostumar, pronto, acabou, hora de ir embora.


Resultado, um país por vez pra IF,  tadinha, ela não tem mesmo como se encontrar numa maratona linguística como esta. E agora eu tomei gosto pra valer com este negócio de falar com várias gentes, então tenho muito, muito o que estudar. Voltar para as aulinhas para tentar enfiar muito mais palavras nesse HD. E até lá me valer da humildade para que tenham paciência com essa  mulher cada vez mais menina com vontade de aprender.