27 abril 2014

A grande escalada


Baseada em pouca teoria e em muita prática, nas minhas experiências e nas das minhas amigas, acredito que o fracasso nos relacionamentos, seja de quem tem está casado (a) e infeliz ou solteiro (a) idem, deve-se basicamente a três aspectos: Primeiro, à falta de afinidades. Isso eu também ouvi de um coach, o Eduardo Nunes, outro dia, na Marília Gabriela. Segundo ele, as mulheres são irracionais nas suas escolhas, enquanto os homens, que estão numa posição privilegiadíssima devido a estúpida oferta no mercado, avalia bastante a mulher ANTES de se apaixonar. O cara é machista pra caramba e beira o insuportável, mas quando ele falou isso, me pegou. Eu me apaixono primeiro e penso depois, mesmo sendo uma sobrevivente à quedas de picos do top do Everest, rolada com as pedras gelo abaixo. Segundo o Eduardo, o que mantém o relacionamento, quer dizer, o que alimenta o amor que sustenta a relação quando a paixão acaba, são os valores, os programas e os planos em comum. Que é muito difícil continuar a comer pirão no mesmo prato todo dia com alguém que pensa e age muito diferente de você.

A segunda que eu pensei a partir dessa, é a estúpida mania que temos de querer que o outro mude pra se adequar a nós. Você se apaixona por um cretino, um inconsequente ou um mané, mas tem certeza que vai colocar ele no jeito com muuuuuito amor. Dá pra ver porque a queda vem de lá do Everest?

E a terceira é querer, com a presença do outro, preencher o que nos faz falta. Querer que alguém nos sustente ou nos dê equilíbrio, ou que nos traga paz, ou que nos traga aquelas emoções e aventuras que nunca vivemos. Enquanto ainda se está junto é uma maravilha, parece que tudo se completou, são corações saindo pela janela do quarto sem parar. Depois vem a conta, quando tudo termina com o fim da paixão, fica aquele buraco imenso. Muito maior do que existia antes de começar, porque aquela pessoa te deu uma prova de tudo o que você não é, não desenvolveu ou não construiu. Tem um clichê por aí que diz que precisamos estar inteiras primeiro pra nos relacionar depois e é a verdade. Precisamos SER o que queremos do outro.

Exemplo bonitinho que eu tenho pra dar é o de um término com uma pessoa que trouxe arte e música pra minha vida. A arte que eu não pude ter porque escolhi parir, casar e parir, e parir de novo, enfim. Ele tocava muito bem e eu realmente gostava daquilo. Quando não deu certo e ele partiu, eu não aguentava olhar pro violão do meu filho. Eu tentei escondê-lo, mas um violão não é lá uma coisa muito fácil de esconder. O rapazinho o achava e queria treinar todo dia. Tentei convencê-lo que tocar guitarra é muito mais cool, que piano é ainda melhor pra conquistar as garotas, que poderíamos leiloar o violão no próximo bazar beneficente. Imagine, ele não me dava nem uma palavra, só me olhava com aquela cara de "a minha mãe é mesmo maluca". Depois de muito penar, um dia eu o encarei; o violão. Ele me chamou, eu o peguei, o coloquei no colo, o envolvi nos braços, mas não sabia aonde colocar as mãos. Liguei pro professor do meu filho e pedi pra ele vir. Ele veio no dia seguinte,  na outra semana também, e na outra. Eu já aprendi a tocar as notas e o "Parabéns pra você". Quando o meu filho se mudou, levou o violão dele e eu comprei outro pra mim. Esse mora no meu quarto, do meu lado, ninguém mais me tira. Foi assim fiz as pazes com todos os violões do mundo e com as minhas mágoas, parabéns pra mim.

Rai, ai. Vivendo e crescendo. É óbvio que todas as regras acima tem exceções, afinal trata-se de uma teoria incrivelmente falível. Já vi mulheres calculistas profissionais na hora de escolher um homem, homens se apaixonarem à primeira vista e gente que já se transformou realmente com o amor. Conheço casais que sim se completam e que me provam ainda ter paixão, mesmo depois de anos e filhos e de pirão no mesmo prato, ao olharem com ternura, interesse e admiração um pro outro. São poucos esses que chegam ao topo, os campeões. Mas eles existem, e estão aí pra nos inspirar.

Feliz de quem aprende a ser inteiro (a) e a buscar realizar os próprios sonhos pra poder amar e conviver e de quem aprende a mesma coisa pra ser só e assim também estar bem. Acredito que esse é um dos principais desafios da jornada do viver. Arriscar-se a subir em picos escorregadios é até possível, mas só com uma boa rede de proteção embaixo, sustentada com firmeza pelo amor próprio, pra poder confiar no retorno ao chão, e ter chance de achar até graça da experiência. Melhor ainda se essa cena, ao invés de ter uma trilha romântica de filme água com açúcar, tiver um fundo musical dissonante e desafinado, mas que seja o seu, com a música que você aprendeu a tocar até agora.





24 abril 2014

O desejo do NADA


Nos dias atuais, a demanda de tarefas e as cobranças nos provoca uma necessidade de estarmos atentos e de produzir o tempo todo. Temos que trabalhar, criar filhos, dar atenção às pessoas, cumprir os compromissos no caos que está esse trânsito, cuidar dos afazeres domésticos, malhar,  estudar, aprender uma nova língua e até viajar e nos divertir de vez em quando. - E ainda precisamos estar com a unha pé feita! - Como sempre me diz uma amiga querida.

A conta? Ansiedade dividida em doze generosas parcelas por ano. Ânsia de ser boa em tudo, boa pra todo mundo, melhor e melhor pra si. É impressionante que até parada, e principalmente parada, estamos confabulando. Estamos vírgula, eu estou. Eu não sei você, mas se eu assisto a um filme, preciso anotar "aquela fala" pra usar depois, e ainda coloco as legendas em inglês pra treinar. Livro sem marcar não existe. Se vejo uma cor bonita, tenho que guardar o nome pra usar em algum lugar na decoração do apartamento. Se é algo a fazer, vai pra agenda do iphone, e com alarme. Se não retornar a ligação de alguém, me sinto um lixo. Se é um momento feliz, tem que ter foto. Não há HD que aguente!

Quando me lembro da adolescência, da preguiça e do sono que eu tinha, tenho a sensação de que estou na terceira vida nessa aqui mesmo. Às vezes preciso fugir do script da mulher madura responsável e evoco a adolescente, aquele da mocinha que não queria nada e que tão bem sabia dormir, ai que saudade!

Pensando em tudo isso, e principalmente por não conseguir parar de pensar, ontem concluí o meu segundo curso de meditação, o Sahaj Samadhi, do Arte de viver. Um dia eu aprendo. Sahaj, em sânscrito, significa ausência de esforço, e Samadhi é o silencioso, porém vívido estado de consciência que se encontra na fonte do pensamento. Quer dizer "descansar no ser", olha que coisa linda, tudo que eu preciso.

Com a palestra da Rashree Patel, uma mestra indiana, aprendi que se você alimenta seus pensamentos ruins, eles se tornam ações e aumentam a sua causa e efeito. Ela diz que não é preciso entender porque nos sentimos assim ou assado, a ordem para ser feliz é ACEITAR. A meditação é a prática de aceitar o momento presente, aconteça o que acontecer, em sua totalidade.

Eu aceito, eu quero aceitar tudo. Aceitei receber do simpático mestre argentino Ramiro Araujo o mantra pra meditar silenciosamente. Ele escolhe um pra cada pessoa de acordo com os seus desejos e necessidades. No curso, ele lembrou que vivemos a repetição sem parar, e o mantra tem a função de cortar essa repetição. Ele limpa a mente, e em consequência disso, provoca o tão desejado descanso no ser.

Hum rum. Tudo lindo, passei os três dias lá, fiz tudo direitinho, e nada. Eles não me largavam, enquanto eu estava lá quietinha e de olhos fechados: a lembrança de ligar pra saber como vai a tia, as providências pra festinha da filha, a idéia de pagar uma última conta quando chegar em casa. Já estava pra catar o meu tapete e pegar o meu rumo quando o Ramiro falou: - Não cobre nada da sua meditação, não espere muito de hoje. Quando um pensamento aparecer, dê um oi pra ele, deixe ele vir e ir embora. Faça isso por 30 dias, duas vezes ao dia, 20 minutos cada vez e aí sim, me mande um e-mail dizendo no que deu.

Deal! Eu sou de pagar pra ver, pior do que está eu não vou deixar ficar. Vou sim lutar com esses monstrengos, essa cambada de inúteis. Daqui a 30 dias então eu conto pro Ramiro e conto pra vocês. Até lá, no alvorecer e no entardecer eu vou tentar fazer algo extremamente útil, importante e necessário: NADA!!!




20 abril 2014

Parada a 1000/h


Aqui estou a escrever o quarto texto da semana. Parece muito, mas não é quase nada se eu disser que assisti dois filmes, uma série li três livros neste mesmo período. Se eu contar que contactei com algumas pessoas com quem eu não falava há meses e se eu somar a isso as orações que fiz.

Uma façanha obtida por livre e espontânea necessidade médica. Me submeti, acho que é assim que se diz, à uma cirurgia de mama que não me permite fazer nem 15% dos movimentos que gostaria. Hoje eu sei como se sentia o Tiranossauro rex. Só tomo bastante cuidado em manter a boca bem fechada pra não ficar enorme como ele, já que não estou apta a praticar os exercícios dos quais estou acostumada. O que fazer então com aquela energia que era liberada todos os dias? Nem jogar pedras eu posso, o meu braço não estica!

Então eu leio, escrevo e respiro. Quase uma monja, só que com um detalhe, a minha mente não pára. Nesse tempo já comprei três trechos de passagens, sabe Deus se vou dar conta de ir. E enquanto não vou, já viajei pelo sertão de 1930 com o Vidas Secas do Graciliano Ramos, me diverti horrores com o O diabo que te carregue! da Stella Florence, pegando uma carona na história da separação dela para repensar as minhas. Dei uma volta pelo oriente, com O Xamã no Tibet, conhecendo como o Milarepa chegou à iluminação. Quanto mais eu lia, mais eu via o quanto estou longe da minha. Conheci também um pouquinho mais sobre o Ernest Hemingway e a Martha Gellrorn no filme que tinha tudo para ser melhor, intitulado Hemingway e Martha, com aquela linda da Nicole Kidman. Sinceramente, se eu tivesse aquela cintura, eu não falava com ninguém. E ela ainda é a mais suave atriz que eu conheço, mesmo fazendo a correspondente de guerra Martha, a segunda mulher do Hemingway. Quanto a este, vou poder dizer um bocadinho mais quando o meu exemplar de O sol também se levanta chegar pelo correio. Ah sim, fiz compras nesse período também! Comprei quase todos os livros os quais me lembrei que um dia gostaria de ler, e isso me deixou até mais calminha. Que mais? Assisti a boa história As palavras, desses filmes que a gente não pode contar nadinha porque senão estraga tudo. Ele trata sobre a arte e a dor de escrever. Ainda nesse tema, dois dias antes de cair na faca, assisti a peça A Gaivota do Tchekhov, duas horas e meia de aula sobre texto e sobre teatro, numa montagem bem encenada pelos Argonautas.

Ho! Pra relaxar, desencavei a série completa do Sex and the city, pra cair por terra a imagem que vocês começaram a fazer de que estou me intelectualizando. Haha! Logo eu. Eu não tenho vocação pra Martha, nem pro Milarepa, muito menos pro Tchekhov, eu estou muito mais pra Carrie!!! Eu quero viagens, roupinha nova e um amor idem, isso sim.

E nessa esculhambação de pensamentos pra alimentar a minha criatividade, digamos assim, eu me recupero. Enquanto os meus pontos cicatrizam, novas idéias se partem. Eu mal posso sair do quarto, mas a minha imaginação voa, conhece e planeja. Foi de longe a semana santa mais fértil que já tive na vida, o que não quer dizer que eu não a trocaria facinho por um quarto de hotel na areia da praia a fazer absolutamente nada (e tudo) com alguém que eu adorasse. Olha, deixa eu parar porque hoje eu estou demais, deve ser a carência desse estado de convalescência.

Me recolho então à condição de T-rex que não pode devorar nada nem ninguém e volto pras minhas viagens apenas imaginárias e acumulo energia pra viver e valorizar o potencial e a capacidade que tem uma pessoa quando pode esticar os seus braços!




18 abril 2014

Menino da roça - A réplica

Ao ler o texto de uma amiga do face, que escreve lindamente com o coração, me emocionei e escrevi sobre a Semana Santa e lembranças da Roça. Ler e escrever sobre a paz e serenidade da roça antiga, de um tempo atrás, onde a tecnologia, energia, agua encanada e modernidades não tinha chegado: comer gostoso uma comida feita a fogão de lenha, panela de barro, agua de cisterna e filtro e pote de barro, fifó e candeeiro para iluminar, pinico em baixo da cama, telhado sem forro, bois mugindo, galos cantando, bichos atravessando os caminhos direto das matas virgens em redor das fazendas, um banheiro fora da casa! Oxe, é isto mesmo meu senhor! Cadê o povo da roça?

Quem viveu isto sabe o que escrevo, foi emocionante, revivi.

As coisas mudaram muito, tínhamos respeito pelos mais velhos e pelos costumes. Cada férias passadas na Roça, principalmente nesta época era uma alegria. À luz do candeeiro, a imaginação da minha criança, ouvia e vi, sons e imagens que apavoravam. Nesta hora, tremendo de medo, apelávamos para a Divindade, rezando fazendo o sinal da Cruz, e assim acalmar os medos.

Saudades do Sitio/Roça de Coração de Maria, ainda nosso, mais com o tempo, foi perdendo o romantismo, perdeu o "trovejo grande" voz do meu tio, contador de histórias, do cantar das rodas dos carros de boi na estrada. Saudade de uma tempo que tínhamos tempo de ouvi-las, contadas e recontadas por décadas, testemunho vivido de quem conta aumenta um conto: do caipora da mata, e do lobisomem na lua cheia, temíamos!

A noite na penumbra de uma luz de candeeiro, um cabideiro de madeira com chapéus, parecia uma assombração, que no outro dia, a luz do dia mostrava-se!

Os primeiros raios do sol pela manhã nas frestas das telhas, entrava e projetava nas paredes imagens das nuvens passando, com reflexos de cores, como um filme, o sol ia e vinha.

Dos pesadelo, daquele gordo que sentava na nossa barriga e não deixava respirar, a empregada dizia que se arrancasse o boné dele, ficaríamos ricos!
.... Ah, tentei mas não consegui derrubar, risos.

As intermináveis procissões com o Cristo eternamente carregando a sua Cruz, beijar a mão dele, era sagrado, isto junto com a multidão em fila na Igreja! A semana era Santa, para nós crianças, era muito esperada! Uma semana inteira sem aulas! Das brincadeiras a devoção, respeito e sobretudo muita reflexão e Paz!

Realmente, éramos instruídos a não falar coisas ruins, palavrões, se traquinasse não apanhávamos, bom né? nem castigos! Ficava tudo perdoado! Não podia judiar dos animais, não tínhamos notícias ruins, não tinha televisão..., não se podia fazer quase nada, um dia minha mãe mandou eu tirar a camisa vermelha que vestira! Me senti culpado, tudo em respeito a morte de Cristo!

Uma semana toda de reflexão, só quebrada pela noite de sábado com os versos de Judas, a queima, festas, etc. O mundano voltava!

Oh, que diferença! Que lacuna enorme, do mundano daquela época! Quase Espiritual hoje!!!

Estamos perdendo a humanidade, o que nos tem preenchido é notícia ruim sucessivas, do Ibope necessário pra Tv, é tão forte que a insensibilidade transforma os ávidos “humanos” por mais! Induz a preencher com algo ainda mais terrível, as lacunas da nossa insanidade.

O homem está doente. Neste mar de hostilidade e distanciamento do outro, teclando insistentemente na presença física amiga, buscando em outro lugar, o bem estar, a felicidade, isto porque não estamos mais aqui!

Somos avatares de nós mesmos.

Sempre tem uma ansiedade novinha em folha, trazendo notícias do mundo de lá! Todos com as mesmas informações, as mesmas frases as mesmas fotos! Fugindo pro virtual.... quantos roteiros de fuga, temos hoje? E a quanta insensibilidade levou? .... e a quanta solidão? Nunca na história da Terra, estivemos tão ligados/conectados e tão distantes uns dos outros!

A noitinha na fazenda quando a luz parecia perder pra sombra, o badalar dos sinos e o som da Ave Maria, trazia de uma forma melancólica, mas forte, a força pra enfrenta-la, mesmo sabendo que a luz estava perdendo para a escuridão, esta oração, nos dava conforto e segurança!

Hoje a luz está perdendo todo o tempo, os cabideiros da noite estão em maior números, espalhados a cada esquina, mesmo de dia! Não desaparecem! Se multiplicam! Quando abrimos os olhos: “vacilou, vacilou, vacilou! Passa ... passa , passa o celular!” Armados ameaçando, amedrontando, assassinando!!! Reparei que estes agentes do mal, só sabem contar até 3! Se a partir do terceiro “vacilou” ou do terceiro “passa” você não acorda pra realidade deles.... "atira nele"! Não está colaborando....foi!!!!

Pior que isto, nossos corações, pessoas do “bem”, estão escurecendo, a individualidade tornou-se absoluta, a insatisfação e a busca ansiosa e frenética de algo que não sabemos, só tem levado ao vazio, à depressão, que está ganhando a batalha, todos perdemos!

Precisamos urgente pisar de novo na terra, voltar pra o interior, reconhecer que o outro como espelho também faz parte de nós.

Vamos buscar “sentir” mais amor, em vez de teclar amor!

Vamos vivenciar abraçar, perdoar, chorar, visitar, olhar nos olhos e sentir a energia de estar. Falta Deus! Façamos o caminho de volta!

Muita Luz pra todos.

Silvio Romero
* Valeria, obrigado pelo seu lindo texto, ele me inspirou a escrever este.




Por uma sexta da compaixão


A Páscoa me lembra a roça do meu pai,
O lugar onde eu tive a minha melhor formação.
Lá a sexta-feira da paixão era um dia muito especial.
Não se podia comer carne nem beber, não se montava a cavalo, não podia judiar dos bichos, não podia xingar e nem varrer a casa.
Quando a noite chegava, ela trazia a lua cheia e as histórias do lobisomem
Que pegava quem magoasse o resguardo do dia santo.
Fico imaginando se todos fossem católicos como os da roça na sexta da paixão
E tivessem um dia de paz, de peixe e de recolhimento,
Onde não pudéssemos ouvir histórias como essas que estão na TV,
De morte e de covardia.
- Shhhhhh!!!!! Menino, sossega! Em dia de hoje não pode falar dessas coisas. Ninguém briga, ninguém bate, não pode ser ruim não! Se não vira mula sem cabeça!!!
É dia de jejuar e de lembrar do Cristo
Que morreu por nós a dizer que éramos filhos do mesmo Pai.
O Jesus Cristo, lembra?
Olho por todos os lados a procurar o meu povo da roça.
Onde foi parar o resguardo, a reverência, o lobisomem e a temeridade?
Deu lugar à mídia? É ela que nos assombra agora?
O pai não assombra, a justiça não assombra, o inferno não assombra mais.
Me tragam de volta a Páscoa de infância na roça!
Quero histórias de lobisomem e de assombração
E não essas do jornal.
Saudade de uma Páscoa de crianças espertas vivas
Que pedem a benção, colocando o joelho no chão, aos seus padrinhos.
Em que os pais e os primos, mesmo miseráveis, não matam seus filhos.
Não são ignorantes no amor.
Lá, no dia seguinte, tinha o sábado de Aleluia
Onde o susto maior era ver o boneco do Judas queimando.
Aquilo assustava.
O que dizer dos Judas de agora?
Saudade de domingo de Páscoa sem chocolate,
Só com a imagem de Anália virando os olhos e as mãos pro céu pra dizer que esse tinha sido o dia que Jesus tornou a viver.
Precisamos da comoção de Anália,
De sextas feiras da paixão,
De compaixão todos os dias,
Do renascimento de uma gente,
De resguardo.




16 abril 2014

A Malu de Mel


Que eu sou uma amigueira, todos já sabem. Cunhadas então, é um problema. Fazer o que, o meu irmão é um cara de sorte e me dá a possibilidade de conviver com mulheres incríveis. E quando os relacionamentos dele acabam.... as minhas amigas ficam!

Com a Mel foi assim. Bem fez ela em se livrar do enrolado do meu irmão, porque em pouco tempo ela conheceu no avião um novo amor e se casou com ele. Entrou cantando na igreja, a coisa mais linda. A Mel tem uma voz e um astral maravilhosos. É exuberante, com longos cabelos pretos e um senso de humor único, é fácil e maravilhoso estar perto dela.

Logo eles construíram uma casa para morar cercada de verde e ela engravidou da Maya, e menos de dois anos depois, da Malu. Tudo acontecia como numa sequência de contos de fadas. A sua bebezinha caçula nasceu um pouquinho menor do que a primeira e dormiu com ela no quarto do hospital. Acordaram juntas, e estavam se curtindo quando a médica entrou no quarto e chamou atenção para os cuidados que ela deveria ter com um bebê com Down.

Foi tão bonito o seu relato, eu pedi que ela escrevesse mas ela devolveu a bola pra mim, pediu para que eu o fizesse. Aqui estou então, só porque não tenho a menor pretensão de chegar perto da emoção descrita por ela.

O mundo dela caiu, tudo rodava e ela não sabia em que se segurar. Todos os exames foram feitos na gravidez e em nenhum foi levantada esta hipótese. Mel olhou para o marido, que negou a situação, disse que a Malu precisava ser melhor examinada antes de darem o diagnóstico. Então a Malu foi examinada várias vezes, as suas características físicas evidenciavam a presença da síndrome, e o marido da Mel continuou negando a situação até que tudo fosse comprovado no exame de sangue. Conseguir a aceitação dele foi apenas a primeira vitória de uma mãe que teria que aprender a lutar.

O segundo desafio foi amamentar. Eu não sabia, mas os bebês com Down costumam não ter a força necessária na boca para a sucção do seio. É uma conquista difícil, só que apareceu um anjo em forma de enfermeira que a ajudou durante uma noite inteira, e perseverou, até que a pequena Malu pegasse o peito. Daí, cada vez mais preparadas, as duas partiram para conhecer a equipe que ajudaria a Malu a se desenvolver. Um pediatra, uma fisioterapeuta e uma fonoaudióloga, pra começar.
Assim encontrei este mês a minha amiga guerreira de nome doce com a sua cria. Ela chegou à cidade por poucos dias, sem carro, mas conseguiu encontrar terapeutas para que a Maluzinha não filasse o programa.

Elas vieram nos visitar, a Malu tinha feito três meses, sorridente, linda, num vestido florido amarelo e rosa. Pequena e meiga, provocou uma briga aqui em casa, todas queriam pegar aquela bonequinha perfumada. E ela querendo a mamãe, reclamava dos nossos colos estranhos com as feições, mas não chorava. Suavizava imediatamente os músculos ao se sentir nos braços de Mel, que tentou disfarçar, mas lhe escapuliu a confissão de que esse é um amor diferente. A Malu, já deitada em suas pernas, a ouvia atenta e olhava para ela como quem consentisse.

Eu tentei imaginar que espécie de amor era aquele, maior do que o infinito amor de mãe já experimentado, seria possível? Naquele instante elas me convenceram que sim. A fragilidade de Malu parece despertar em Mel uma comoção difícil de descrever. Elas tem um pacto, de pertencerem uma à outra para sempre, imaginem essa força...

Eu fiquei tão impressionada com a ternura deste encontro que não conseguia tirar a Malu da cabeça. Os seus olhinhos fixos na mãe, a voz encantada da Mel ao falar da filha. Quando eu tenho a oportunidade de me deparar assim com o amor eu o absorvo. Me alimento, me contento, me conformo.

O papai, quando se rendeu, foi pra valer. Quer mais uma filha, quer mais vida naquela casa cheia de verde, quer mais Mel e meninas com M maiúsculo à sua volta. Esse tem sorte e sabe sobre o que mais importa. Toda a família caiu de amores pela Malu e o cuidado agora é para não despertar os ciúmes da Maya, a menina esperta que cantarola o dia inteiro, como a mamãe.

Impossível não se apaixonar por esta família. Eu adorei essa história. Agradeço imensamente à minha amiga por me permitir presenciá-la e registrá-la. Enquanto ela descobre a filha tão especial que chegou pra ela, eu e todos a sua volta descobrimos a mulher tão especial que renasceu pro mundo.




15 abril 2014

Vivendo o sonho e sonhando acordada


Esta noite sonhei que tinha entrado em um grupo no whatsapp com uns amigos que também estavam sonhando. Foi muito divertido. Tínhamos mais tempo, mais liberdade, todos estavam na maior folga, flutuando, no plano onde tudo é possível.
Acordei vibrando! E acreditando que tinha sido de verdade. E quem vai me dizer que não foi? Não me lembro do nome de sequer um dos participantes da conversa mas, se não me engano, era permitido entrar pessoas que já não estão mais na terra, de outros planos e fases das nossas vidas. Se já podemos teclar online com gente do outro lado do mundo, para atingir outros planetas ou chegar no céu é um pulo, eu acho.
Imaginem uma comunicação transcendente, profunda e real, sem máscaras, idades ou corpos segurando um de um jeito, outro de outro. Nem mesmo condições sociais, hierárquicas ou familiares. Poder ter um "papo reto" amoroso e verdadeiro de alma para alma.
Acordei pensando. Sim, que eu passo tempo demais no iphone, também. Mas pensava principalmente nessas conexões que são formadas em vários níveis, conscientes ou não. Pensando em como podemos nos encantar com um amigo à primeira vista, na razão de alguns encontros serem tão fáceis, naturais e perpetuarem. Uma das coisas que eu acho mais maravilhosas na vida é a possibilidade de se bater com alguém em um momento qualquer e querer aquela pessoa pra sempre. Pode ser uma relação de longe, com encontros mensais, anuais ou a cada dez anos, alimentados via redes sociais, e-mails, pouco importa. Entendam; longe não é distante, muito menos indiferente. As relações de verdade tem a dinâmica que cabem no tempo dos dois, com um querer recíproco e com um interesse genuíno.
Esse barato mesmo nosso aqui, de autora com leitor (a), é um grande encontro. Eu não fico sabendo das suas respostas nem mesmo posso ver as suas expressões pra entender se o rumo da conversa está bom, mas continuo a dizer e a procurar fazer sentido, mesmo em uma viagem louca como essa sobre whatsapp, sonhos e amigos. Realmente gosto de me afinar com gente por aí e por aqui, até sonhando!
Se for pra me fechar, melhor não acordar, melhor não viver. Mesmo com os riscos e as decepções que volta e meia nos assombram, voltemos para os nossos whatsapps para ver quem se interessa por nós, nesse plano astral mesmo, e quer saber como estamos.
Sejam bem vindos os que ainda carregam a pureza de acreditar nas pessoas, na possibilidade de encontros frutíferos, de relações de trabalho baseadas no ganha/ganha, em relacionamentos desinteressados e em famílias que crescem e se fortalecem juntas.
Esse é o mundo Incrível que escolhi investir, pelo qual sintonizo com um monte de gente que pensa e vibra mais ou menos parecido, em um universo paralelo regido pela fraternidade, no qual cabe até conversas de whatsapp via uma wifi intergaláctica sonambuslística.
A realidade está aí, dura. Na TV, nos jornais, sob os nossos olhos todos os dias. É preciso carregar as baterias dos sonhos para poder seguir com paz e saúde emocional. É por essa causa que decidi viver com esperança e sobre ela escrever. Viver sonhando e sonhar a vida com mais amigos é uma boa estratégia para quem, como eu, insiste em ver a graça de toda a coisa com os olhos e com o coração bem abertos.