Que eu sou uma amigueira, todos já sabem. Cunhadas então, é um problema. Fazer o que, o meu irmão é um cara de sorte e me dá a possibilidade de conviver com mulheres incríveis. E quando os relacionamentos dele acabam.... as minhas amigas ficam!
Com a Mel foi assim. Bem fez ela em se livrar do enrolado do meu irmão, porque em pouco tempo ela conheceu no avião um novo amor e se casou com ele. Entrou cantando na igreja, a coisa mais linda. A Mel tem uma voz e um astral maravilhosos. É exuberante, com longos cabelos pretos e um senso de humor único, é fácil e maravilhoso estar perto dela.
Logo eles construíram uma casa para morar cercada de verde e ela engravidou da Maya, e menos de dois anos depois, da Malu. Tudo acontecia como numa sequência de contos de fadas. A sua bebezinha caçula nasceu um pouquinho menor do que a primeira e dormiu com ela no quarto do hospital. Acordaram juntas, e estavam se curtindo quando a médica entrou no quarto e chamou atenção para os cuidados que ela deveria ter com um bebê com Down.
Foi tão bonito o seu relato, eu pedi que ela escrevesse mas ela devolveu a bola pra mim, pediu para que eu o fizesse. Aqui estou então, só porque não tenho a menor pretensão de chegar perto da emoção descrita por ela.
O mundo dela caiu, tudo rodava e ela não sabia em que se segurar. Todos os exames foram feitos na gravidez e em nenhum foi levantada esta hipótese. Mel olhou para o marido, que negou a situação, disse que a Malu precisava ser melhor examinada antes de darem o diagnóstico. Então a Malu foi examinada várias vezes, as suas características físicas evidenciavam a presença da síndrome, e o marido da Mel continuou negando a situação até que tudo fosse comprovado no exame de sangue. Conseguir a aceitação dele foi apenas a primeira vitória de uma mãe que teria que aprender a lutar.
O segundo desafio foi amamentar. Eu não sabia, mas os bebês com Down costumam não ter a força necessária na boca para a sucção do seio. É uma conquista difícil, só que apareceu um anjo em forma de enfermeira que a ajudou durante uma noite inteira, e perseverou, até que a pequena Malu pegasse o peito. Daí, cada vez mais preparadas, as duas partiram para conhecer a equipe que ajudaria a Malu a se desenvolver. Um pediatra, uma fisioterapeuta e uma fonoaudióloga, pra começar.
Assim encontrei este mês a minha amiga guerreira de nome doce com a sua cria. Ela chegou à cidade por poucos dias, sem carro, mas conseguiu encontrar terapeutas para que a Maluzinha não filasse o programa.
Elas vieram nos visitar, a Malu tinha feito três meses, sorridente, linda, num vestido florido amarelo e rosa. Pequena e meiga, provocou uma briga aqui em casa, todas queriam pegar aquela bonequinha perfumada. E ela querendo a mamãe, reclamava dos nossos colos estranhos com as feições, mas não chorava. Suavizava imediatamente os músculos ao se sentir nos braços de Mel, que tentou disfarçar, mas lhe escapuliu a confissão de que esse é um amor diferente. A Malu, já deitada em suas pernas, a ouvia atenta e olhava para ela como quem consentisse.
Eu tentei imaginar que espécie de amor era aquele, maior do que o infinito amor de mãe já experimentado, seria possível? Naquele instante elas me convenceram que sim. A fragilidade de Malu parece despertar em Mel uma comoção difícil de descrever. Elas tem um pacto, de pertencerem uma à outra para sempre, imaginem essa força...
Eu fiquei tão impressionada com a ternura deste encontro que não conseguia tirar a Malu da cabeça. Os seus olhinhos fixos na mãe, a voz encantada da Mel ao falar da filha. Quando eu tenho a oportunidade de me deparar assim com o amor eu o absorvo. Me alimento, me contento, me conformo.
O papai, quando se rendeu, foi pra valer. Quer mais uma filha, quer mais vida naquela casa cheia de verde, quer mais Mel e meninas com M maiúsculo à sua volta. Esse tem sorte e sabe sobre o que mais importa. Toda a família caiu de amores pela Malu e o cuidado agora é para não despertar os ciúmes da Maya, a menina esperta que cantarola o dia inteiro, como a mamãe.
Impossível não se apaixonar por esta família. Eu adorei essa história. Agradeço imensamente à minha amiga por me permitir presenciá-la e registrá-la. Enquanto ela descobre a filha tão especial que chegou pra ela, eu e todos a sua volta descobrimos a mulher tão especial que renasceu pro mundo.
Mel não poderia ter escolhido pessoa melhor pra relatar esta linda história!!!
ResponderExcluirVal!!! Que presente amiga!! Li e senti várias vezes o seu texto! Tirei o sumo das suas palavras e saboreei outra vez da minha história! Um luxo ter uma amiga para escrever sobre nós, um fato ter uma escritora incrível que sonhe com a nossa história! Só vc para pegar a bola e fazer o gol! Um chute certeiro na trave da vida. Seus passos pelo gramado foram mágicos e leve, como imaginei! Obrigada Valzinha! ! Muita emoção!
ResponderExcluirAmei!
ResponderExcluirHá braços
Tambem amei!!! Valeria...anjo lindo, iluminado, florido, que nos encanta com seus contos de puro amor!!!
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