Eu sou uma especialista em divórcio. Não tenho orgulho de dizer
isso mas nem um pingo de vergonha também. Tanto admiro casais seguem a vida de
mãos dadas quanto admiro os que têm a coragem de sair de um estado infeliz para
buscar uma nova chance.
Sou separada, filha de pais separados e cujo único irmão é
separado. Além disso, sou a caçula de dezenove primos dos quais dez já
chutaram os baldes dos seus casórios. Outro dia eu soube que uma das primas até procurou um centro espírita para saber se se tratava de um "karma familiar".
Hum hum, eu não acredito. Isso nada mais é que reflexo dos novos tempos.
As pessoas estão se importando menos com as convenções, conveniências e consequências
dos divórcios e pagando o preço necessário para seguir a voz do danado do coração. Preço
muitas vezes caríssimo, eu que o diga, a especialista.
Atenção, longe de mim ao menos tentar dizer o que é certo ou
errado, até porque eu não tenho a menor idéia do que seja. Eu só quero contar umas
historinhas divertidas. Conheço casais felicíssimos e solteiros idem. Conheço sobre as
dores e as delícias de estar casada e também de estar solteira. E como boa
observadora que sou (sabia que isso um dia iria valer alguma coisa!), conheço
um pouco sobre o universo das mulheres que nunca provaram deste enigma do amor
chamado casamento.
E pensando nelas, em mim, na mulherada da minha família e em
tantas outras bem e mal casadas, ou bem e mal separadas, que resolvi apresentar
para vocês algumas garotas espetaculares Incríveis e falíveis.
Você vai conhecer a Nádia que põe o seu casamento em primeiríssimo
plano. Está sempre atenta para movimentar a relação com viagens e jantarzinhos
especiais. Considera o seu marido Sergio e seus filhos o seu maior triunfo, a
foto da família sai sempre linda. Ela administra todas as dificuldades, dribla o tédio e se mantém bem longe das tentações porque acha que deitar no ombro cheiroso do seu amado em um domingo a noite faz tudo
valer a pena.
Tem também a Bianca, que não se casou porque perdeu o timing. Uma garota bonita que achava que os candidatos não eram suficientemente bons, que sempre poderia aparecer um melhor. E agora que está no final da ladeira dos trinta, o número de possibilidades minguou. Nesse momento ela tenta se
convencer que se não tiver um filho "tudo bem" e fez uma lista do que
ela poderá fazer com toda a sua liberdade. Achou por enquanto três opções; virar
monja e escrever um livro, viajar pelo mundo e escrever um livro ou se assumir
tia da centena de crianças que nasceram ao seu redor nos últimos tempos e ficar
feliz da vida ao devolvê-los para as mães nos momentos de birra. Ah, e escrever um
livro sobre o poder do silêncio, feng shui, sexo tântrico ou algo do gênero.
A Alais se separou e despirocou de vez. No melhor dos sentidos.
Mudou o cabelo, as roupas, pintou a casa com cada parede de uma cor e começou a
falar palavrões naturalmente. Primeiro tentou namorar uns três caras
separados com filhos e conciliar as coisas no padrão "os meus, os seus, os
nossos". Agora nem isso ela quer. Ela só quer o romance. Está saindo escondido dos filhos com o seu personal trainner ao som de "Ne me
quitte pas" em noites de muitas performances e um tanto de vodka.
Já a Cíntia se separou também mas não há um dia em que ela não se arrependa
disso. Acha a missão de cuidar dos filhos sozinha pesadíssima. Assim que saiu
de cena o Marcio casou-se com outra e é para os filhos dela que ele dedica o seu tempo. E a dor de cotovelo de Cíntia cresce na mesma proporção do seu saldo devedor no cartão de crédito. Ela vive insegura, tem medo de sair a noite
sozinha e acha que namorar só vale a pena se aparecer alguém que a proteja,
como o Marcio, ai ai ai. Só que até agora nada, nenhumzinho príncipe salvador
da pátria bateu em sua porta. E o resultado disso está em três quilos a mais por
ano.
A Marina prefere continuar casada e viver umas aventuras por aí. Acha que esta é a fórmula de um casamento feliz. Agora ela encasquetou que quer ter uma história com uma mulher, só que ainda não
conseguiu seduzir nenhuma. De noite em sua cama, enquanto o bonachão do
Aroldo dorme (e ronca) ela assiste filmes a la "Henry e June" e
histórias efervecentes passam pela sua cabeça, só que quando o dia chega e com ele
todo o aborrecimento do cotidiano a sua fantasia vira... fantasia.
A Adriana, no entanto...
E por aí vai. Fique a vontade para divertir-se, identificar-se ou para conhecer
um pouco mais sobre o louco mundo das mulheres no século XXI, os seus
relacionamentos complexos, as suas experiências fascinantes e perceções
incríveis sobre uma vida que pode até ser dura, conflitante e exigente. Mas comum e sem graça, isso nunca. Palavra de mulher.