Faz três anos que o Mario se separou. Logo que aconteceu, alguém falou pra ele que a dor da saudade não duraria mais que um ano. Era só vencer um calendário inteiro e passar por todas as datas comemorativas, que tudo ficaria bem. E desde então já se passaram três natais, três reveillons, e tudo três vezes, e o Mario segue em direção ao seu quarto aniversário sem a Lílian, e ainda com a mesma saudade enorme e pesada, a qual ele compara com um dinossauro, um certo tipo de amigo imaginário jurássico que não se extingue para lhe fazer companhia.
A Lílian já estava com outro, um
professor que ela conheceu na internet. A Lílian sempre se queixava da
superficialidade do Mario, de que ele não saía da revista Placar. Ela foi uma
presa fácil para o professor munido de citações literárias e de poesias do
Neruda decoradas estrategicamente. A Lílian achou isso o máximo, e está até
hoje com ele. De vez em quando ela liga pro Mario pra saber se ele está bem, se
fez a revisão no urologista, se encontrou alguém. Na verdade ela adora fazer ciúme
para o professor, dizer que o Mario está a disposição dela e assim alimentar a
intenção dele na viagem das poesias do Neruda.
Nos aniversários e natais era
certo, ela sempre ligava. Era a melhor parte do dia para o Mario. Nestas
ocasiões ele procurava encontrar pessoas e ir à lugares animados, mas era
sempre a ligação da Lílian que provocava a maior emoção.
Estava chegando o seu aniversário.
Ele se preparou para receber a ligação de Lílian e aproveitar para mostrar pra
ela a poesia de oito versos que escreveu, num esforço danado, sobre o que seria
amar a ausência de alguém, algo mais ou menos assim. Desta vez, ele teria
coragem.
Chegou. Mario acordou checando o
telefone. Olhava para ele o tempo todo no escritório e nada, com a poesia lá na
carteira. Mario saiu para o happy hour com os amigos achando uma ótima ideia
atender o telefone em um lugar bem barulhento. O tempo passou e os amigos foram
deixando o lugar, um a um. Mario voltou pra casa sozinho, com o telefone e um
resto de bolo na mão. Por sorte e por conta das cervejas que tomara, dormiu no
final do jogo de uns times que ele não dava a mínima.
No outro dia acordou mais cedo do que o de
costume, abriu os olhos já com o celular na mão. Nenhuma ligação perdida,
nenhuma mensagem. No quarto, apenas o dinossauro, um pouco maior, um ano mais
velho.
Segundo texto de 20 minutos do curso de Escrita Criativa na Escola São Paulo.
Vida que segue para Mario....
ResponderExcluirMuito bom!!!
... Vejo isto em muita gente, antes mais comum nas Marias, hoje nos Marios, é triste quando a gente deixa a nossa força no outro, mas em alguma momento da vida isto acontece.
ResponderExcluirSOU O QUE SOU
Algumas vezes, nos damos conta que com o tempo vamos nos amoldando demais, aos “amores” e ao mundo em redor. E de repente, descobrimos que nos distanciamos tanto da nossa essência, que não somos mais o que somos! Vem a tristeza e mostra que o caminho esta errado, falta algo ou muito! ..... veja mais em meu Face, síndrome do Mario, risos.