Ai ai, rapadura é doce mas não é mole não. Hoje trouxe um texto que eu não escrevi mas que eu poderia, não pela habilidade, sei que estou a anos luz da autora, a Danuza Leão em seu livro "Danuza e sua visão de mundo sem juízo", mas sim pela identificação com cada palavra, esse texto doeu como um soco no estômago quando li. Acho Incrível quando um (a) autor (a) consegue fazer isso, criar uma identificação imediata, colocar em palavras o que há de mais íntimo em si, que traduz o íntimo dos leitores, todos vulneráveis às essas armadilhas da condição humana. Esse é o estilo de escrita simples e direto que gosto e que escolhi. Tomara que vocês gostem e se identifiquem. Ou não, melhor que não, nossa como isso dói. Ou talvez melhor que sim, porque viver isso é provar da plenitude da vida. Sei não, para escrever não é preciso ficar em um lado do muro, é? Basta levantar os dois lados, dar um pouco de asas à ambos, mexer com os estômagos dos outros e sair elegantemente à francesa como a Danuza sublimemente sabe fazer. Enjoy it!
"A paixão
Para viver uma grande paixão é preciso que duas pessoas se queiram com a mesma intensidade e com o mesmo desespero, com o peito sufocado e sem nenhum limite.
Aliás, que erro falar de uma grande paixão; não existem grandes ou pequenas paixões; só existe a paixão - que é única. E que não se confunda, jamais, pessoas apaixonadas com as que vivem uma paixão.
Quem vive uma paixão deve ser desobrigado de todas as coisas, a começar pelo trabalho; é impossível viver normalmente quando ela acontece. Quem é atingido por uma paixão não precisa de nada, todo o resto é sem importância, inútil, dispensável.
Os que vivem uma paixão não comem, não dormem e respiram mal - quando respiram; não lêem jornal, não vêem televisão, não vão ao cinema, não precisam ganhar dinheiro, nem mesmo abrir a janela para saber se está chovendo ou fazendo sol. E se o mundo estiver se acabando, é sem importância. Mundo? Mas que mundo?
Quem vive uma grande paixão não vai à praia, não viaja nem convive com outras pessoas - não quer, não pode, não consegue e nem deve. Uma paixão não é alegre nem triste; é absoluta, e, quando acontece, todo o universo deixa de existir.
A paixão suga, devora, esgota, consome e exaure; ela exclui a amizade, a solidariedade, a bondade, a lealdade, a responsabilidade. Ela só existe para ela mesma, e sem meio-termo: a paixão é exclusiva e devastadora.
No espaço de uma vida podem acontecer dez, trinta, cem amores, mas paixão só uma. Os amores - maiores ou menores - podem ser até felizes, mas a paixão marca o corpo e a alma, e para sempre; ela não tem nada a ver com felicidade nem está interessada. Aliás, o que é mesmo essa bobagem de ser feliz, quando se vive uma paixão?
Quem vive uma paixão não se distrai com nada, não vê, não escuta, não consegue ler um livro, não sabe se está fazendo calor ou frio, não tem fome nem sede, porque não consegue pensar em outra coisa. Uma paixão é uma paixão, ponto.
Existem os que nunca vão saber o que é uma paixão, e nunca vai se entender por que só alguns são escolhidos, eleitos ou condenados a passar por esta prova; porque é uma prova, e ninguém sai dela ileso. Para viver uma paixão é preciso abrir mão do corpo, da alma, das idéias, do desejo, do eu. A paixão é egoísta, exigente, exclusivista, e não aceita compartilhar nem dividir, é ela ou nada.
Alguns passam pela vida - feliz ou infelizmente - sem conhecer a paixão. Quando ela desponta, há um momento em que ainda é possível recuar; mas quem se deixar levar deve saber que é um precipício onde vai ter que se atirar de olhos fechados, seja para o que for. Depois é o abismo, onde não pode existir nem passado, nem futuro, nem mesmo a vida.
E é por isso que um dia a paixão acaba - para um dos dois. É quando um deles se dá conta de que para viver uma paixão é preciso abrir mão de tudo, de absolutamente tudo, para que ela possa continuar existindo.
Pobre de quem não viveu uma paixão; pobre de quem viveu uma paixão. Pobre de quem sucumbiu a uma paixão; pobre de quem sobreviveu a uma paixão.
Porque quem sobreviveu fez a mais difícil de todas as escolhas: entre a paixão e a vida preferiu a vida, e nunca vai saber se fez a escolha certa; afinal, a paixão só acontece uma vez - quando acontece. E nunca mais."
Ha alguns anos (8 se não me engano), uma amiga imprimiu essa crônica que encaixava-se perfeitamente no momento em que eu vivia. Desconhecia a autora e gostei muito do que li, gostei tanto que procurei saber mais sobre os outros livros publicados... mas ainda assim, o primeiro texto que li (esse no caso) sempre foi o mais sensacional em minha opinião.
ResponderExcluirUm tempo depois, encontrei em um sebo online o livro que contia o texto, livro antigo, foi bem antes de ter republicado no livro sem juizo... comprei a edição antiga na época e ironicamente faltava justamente a página que me interessava.
Procurei muito na internet mas nunca encontrei, pois não lembrava do titulo...havia muito material e era necessário lembrar de alguma referência em específico.
perguntei pra amiga ja imaginando que ela nao iria se recordar.
Hoje, depois de todo esse tempo lembrei do nada, quando menos esperei. Quando fui fazer a busca, a internet parou de funcionar, pois tem uns tiozinhos na rua fazendo manutenção.
Agora voltou a funcionar, busquei e cai aqui. escrevi isso só pra compartilhar a minha alegria e agradecer por ter publicado isso.
hehehehehehe
abraços.