26 fevereiro 2013

Meu Amigo Mago Magnético Branco


Já falei para vocês do meu amigo mago magnético branco? Ele também pode ser o cão planetário branco, depende da época do ano de acordo com o calendário Maia. Ou o Cau Trigo, o seu nome diante do "povo do livro", que é como ele chama essa tribo aqui. Ele também é o grande lobo que habita a "toca do lobo", nome dado ao espaço em que ele trabalha para "expressar a verdade do seu coração com afeto e construindo pontes com os companheiros de destino". Essa é a sua missão e é nesse lugar que ele nos oferece momentos e encontros transformadores.
E para isso não precisa muito. Ontem estive lá, ele me convidou para almoçar. É sempre uma alegria estar perto dele. Começamos falando sobre o xadrez, ele é mestre em xadrez. Também ensina Tai Chi Chuan na praia cedinho. Toca tambor, maraca e canta para despertar nossos sentidos. Dá massagem ayurvedica e é um escritor que não para de estudar, perceber, criar e escrever. Aliás, é o maior incentivador e exemplo para que eu escreva o meu livro.
Para o almoço, ele me serviu arroz integral feito em uma panela de barro e pupunha, um fruto saboroso que, segundo ele, é tão nutritivo que bastam apenas três deles para os índios enfrentarem uma jornada inteira de caminhada. Detalhe, a pupunha foi ele mesmo que plantou em sua fazenda há quinze anos junto com o abacate e a banana da terra que o alimentou naquele dia.
Ele enfiou as pupunhas no arroz quente para que tudo ficasse na mesma temperatura, colocou em uma cuia, enfiou uma colher de pau e me entregou. Sentamos no chão para comer e, tenho que confessar, respirei fundo quando ele disse que não tinha colocado condimento algum na comida. A única coloração vinha do laranja forte da pupunha. Mas daí ele foi buscar o "sal de maras" do Peru (sim, não poderia ser um sal comum), que deixou tudo muito bom. Comemos enquanto falávamos de livros, de música, de astrologia, de minhocas e de relacionamentos.
Ah, e de cores. Ontem eu soube que segundo José Arguelles no livro "O encantamento do sonho", o vermelho inicia, o branco refina, o azul transforma e o amarelo amadurece. Adorei isso. Adoro o seu jeito de falar sem parar tentando compartilhar ao máximo tudo que sabe. Muitas vezes um assunto entra pelo meio do outro e eu deixo ele viajar antes de perguntar qual era a conclusão do primeiro. E com Cau eu descobri que nunca há conclusão, há sim celebração para fechamentos de ciclos e aberturas de outros. Cau vibra quando consegue dormir quatro horas em uma noite, ele diz que tem tanto a fazer e o tempo urge. Outro dia ele disse "- Por Deus como eu sou feliz! Não posso suportar isso sozinho! Tenho que compartilhar o que estou sentindo com os irmãos do caminho! Vivo o momento mais intenso da minha vida!! HO!"
HO Cau! Que privilégio partilhar a sua vida! Impossível não se contagiar com seu entusiasmo e a sua sensibilidade.
Hoje, em sua escrita das 4:49 da manhã, ele me presenteou com a letra da sua música preferida de Coco; "VER TENTE": "Não te entregues tão facilmente ao incipiente avanço daqueles que carecem de força. Pelo contrário, remote diariamente sua própria corrente pacientemente. Reinstale a vertente mansamente. Nutra-se dela! Não permitas que ninguém opaque o brilho do seu diamante! Enforque-se antes de pertencer à horda dos imitadores triunfantes!"
E no meio dessas linhas e de pelo menos uns trinta outros assuntos, ele se desculpou pela falta de requinte do almoço. - Ora Cau, requinte para mim é ser de verdade! - respondi. Pois sim! Se o que mais adoro nele é a sua autenticidade! Pertencer aos imitadores triunfantes? Jamais! 

Ontem ele me disse também que, segundo a sabedoria chinesa, o melhor momento para se plantar uma árvore foi há 20 anos. O outro é agora. E assim como Cau se alimenta hoje das pupunhas que plantou, acredito que cada um tem os amigos que merece. Os que foram plantados e regados ao longo do caminho e que sintonizam com aquilo em que você acredita. Que vibram na mesma frequência. Que bom!!! Que honra para mim contar com a sua amizade, meu querido mago magnético branco!!

22 fevereiro 2013

E aí? Vai encarar??



Você já teve vontade de dar uns socos e uns chutes por aí?

Hoje eu acordei ansiosa por isso. Sei lá se foi TPM, stress, piti ou tudo isso, eu estava mesmo injuriada. Geralmente eu sou uma mulherzinha até calma mas de vez em quando dá uma raiva! Raiva de alguém, do trânsito, das escolhas erradas e das burradas que faço sem parar.

Mas como pra quase tudo nessa vida tem jeito, lá fui eu atrás de um. Boxe, é isso! E tinha que ser hoje. Quem vê essa pessoa meiguinha não diz o quanto sou determinada. E quando chega a hora de bater é pra valer, tenha medo! Consegui um professor bacana, desses lutadores que aguentam o tranco. E ainda bonito. Professores bonitos dão ainda mais estímulo.

Mal pude esperar, não sei pra que tanto alongamento e aquecimento. Ele queria me ensinar os golpes certos, onde colocar o pé, como manter a guarda, tanta coisa! E eu louca para enfiar as mãos nas luvas e bater, bater muito, do meu jeito, de qualquer jeito.

Até que chegou a hora: jab, direto, cruzado, gancho, upper, jab, direto, gancho e cruzado, tudo de novo, inúmeras vezes. O suor começou a descer e eu já pedi: - Posso chutar? - Ô, você falou que queria boxe, eu só estou dando boxe. - Ah, é mesmo, boxe não tem chute. Desculpa então, pode vir outra luta, vamos de kick boxing, muay thay, capoeira ou o que você quiser mas deixa eu chutar por favor!! !

Professor de luta já não gosta de "sangue no olho",  ele mandou ver: lateral, joelhada, martelo, jab, direto, cruzado, joelhada de uma perna, a outra!!! Aaaaahhhhhhh, que delíciaaaa!!!!! Joelhada então é o máximo!!! Mandei ver enquanto girava com ele na sala descarregando todas as minhas frustrações nos seus protetores.

Faz tempo que eu não sinto algo tão eficiente. Tem quem vá para a terapia, outros para as drogas e remédios, uns danam a comer, há os que descontam em quem não tem nada a ver e um monte só se lamenta e adoece. Eu corro para resolver e quando correr não resolve, eu bato. Brincadeira, eu estou mesmo virada do avesso hoje, claro que tudo tem seu momento, tem a hora do recolhimento e do choro. Terapia então eu fiz por muitos anos, remédio pode ajudar muito, cada caso é um caso. Mas uma hora a gente tem que reagir, extravasar, e para isso queridinhos...

Pancada! No saco, no Bob, no aparador, no travesseiro. As minhas mãos estão tremendo até agora mas mesmo assim eu recomendo. Me sinto calma e feliz e de quebra deixei por lá algumas centenas de calorias. Já marquei a próxima aula, cheguei para ficar. E o professor gostou, quer me levar para lutar com as outras alunas dele, vai ser o jeito encarar.

E no próximo mês vou fazer uma vivência para aprender a meditar. Pode rir, essa é uma pessoa que tenta. Contarei tudo aqui, lógico. Vamos experimentando e levando, vencendo umas fases, curando umas mazelas e nos preparando para os novos desafios que nunca param de chegar. Reunindo recursos para estarmos prontos para o que vier. Só não pode é parar. E o Bob que se cuide!

17 fevereiro 2013

Prestígio, poder e dinheiro



Chique para mim é ter assunto. E assunto é o que não falta com a minha amiga Help. E nesses dias, conversa vai, conversa vem, ou que subiu e que desceu, como ela diz, falávamos sobre a diferença entre ter prestígio, ter poder e ter dinheiro.
Sobre o dinheiro não precisa-se falar muito. Uns tem mais, outros menos. Dinheiro compra muitas coisas, manda buscar outras mas não faz pessoas felizes. Dinheiro dá poder, mas não dá prestígio.
Poder uma pessoa pode ter com sorte, com certa perseverança e com algumas habilidades. Um cargo pode dar poder, um status, um casamento. Uma carinha e um corpo bonito também. Uma oportunidade em um grande meio de comunicação, o que dizer do Big brother que há anos insiste em nos empurrar goela a baixo aquele show oco de fabricação de celebridades? A celebridade nada mais é do que alguém com certo poder por um motivo qualquer por um curto período.
Sim, o poder é passageiro. É diferente do prestígio. O prestígio vem nos nossos genes e é desenvolvido por anos, décadas. Ele é fundamentado nos valores e lapidado pela educação e exemplo dos nossos pais. Ele é aperfeiçoado com a leitura, com as escolas e com a convivência com pessoas sensatas. É a colheita de quem planta e rega por muito tempo as amizades sinceras. É resultado de um trabalho e muita dedicação e de uma sequência de atos baseada na retidão. Ele é testado a todo instante, em um país que começou errado e segue em uma cultura de cada um por si e salve-se quem puder. O prestígio vence essa correnteza, a pessoa com prestígio faz o que é certo em todas as hipóteses. O prestígio é a melhor herança que podemos deixar para os nossos filhos.
Percebi isso muito cedo. Aprendi o que quer dizer orgulho, em sua melhor versão, desde que me entendo por gente. Gostava de ver a reação das pessoas quando eu dizia de quem eu era filha, neta ou bisneta. Sorrisos e portas se abriram para mim, o que me faz pensar que o prestígio dá certo poder, do mais nobre, daqueles que o valoriza. Assim acontece não porque meus pais e avós tiveram muito dinheiro, e sim porque eram bons profissionais e pessoas de bem. Melhor assim, porque o dinheiro acaba e o prestígio segue para os meus descendentes.
E eis que eu estava em pleno sábado de carnaval na companhia de um prefeito recém eleito. Não sei porque a conversa subiu e desceu e caiu nesse tema. Ele falava do quão simples ele é e de que nada mudou na vida dele, mas a forma com que ele repetia isso me intrigou, parecia que ele queria dizer para si. Isso no intervalo entre um cumprimento e outro, é impressionante o assédio e o acesso que o poder dá. Aí eu achei que cabia e trouxe a reflexão da minha amiga chiquérrima Help para a prosa, querendo reforçar que bom que ele pensava assim. E foi impossível não notar a ponta de decepção no olhar dele quando eu disse que o poder vai passar, mas que o prestígio (caso ele seja merecedor de algum) vai ficar.
- Porque o poder é uma delícia não é? É tentador ter a caneta e sair mandando por aí. Mas daí até ser honesto e eficiente para alcançar o prestígio pelo trabalho realizado são outros quinhentos reais - eu disse para o homem. Ele balançou a cabeça afirmativamente lentamente e não disse nada, imagino que parou para pensar. Tem um provérbio que diz; "Quer conhecer um homem, dê poder a ele." Pensei em largar essa no prefeito também mas achei melhor não. Uma dose de cada vez, afinal era carnaval. E ziguiriguidum.
Mudei de assunto porque assunto é o que não me falta. Chique no último grau. Porque mais chique do que ter assunto só é quem tem prestígio. Ter os dois então, hummmmmm, o must!!!DEZ

05 fevereiro 2013

Era uma vez...


- ... E entrou pelo pé do pinto e saiu pelo pé do pato e quem quiser que conte mais quatro.

A minha mãe sempre terminava as histórias e os casos que contava para mim assim, me arrancando do estado de fantasia e me fazendo aterrissar rapidinho pois já era a hora de tomar a sopa, de dormir ou de ir fazer qualquer outra coisa. Ela diz que não me passou nenhum dos romances que leu na infância, para não me contagiar com o sonho romântico que tanto a atrapalhou.

E para quem me conhece há algum tempo já sabe, não adiantou muito. Sou uma quase uma Pollyana, ingênua, romântica e totalmente entregue a quem me oferece qualquer punhado carinho.

Não sei quantas histórias ouvi ou presenciei daqueles tempos para cá, mas uma coisa é certa, todas tiveram um final e se não tiveram ainda irão ter. Mas eu sempre me esqueço que existe final nas histórias. E até hoje, quando estou em um final que me deixa inebriada, nostálgica ou meio perdida eu ligo pra para ela, acho que é para ouvir da sua voz: "Aí entrou pelo pé do pinto..." Ela não fala mais essa parlenda mas é como se eu a ouvisse. A minha mãe sempre me surpreende mesmo que seja com a mesma mensagem, ela sempre me faz acreditar em mim e nas alegrias que virão com a próxima história, a minha mãe sempre me faz acreditar no futuro.

Hoje também orei e ao abrir a Bíblia da minha avó, o meu oráculo, estava lá: Eclesiastes 3:1-2: Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: Há tempo de nascer, e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou... Primeiro fiquei triste pois esse texto me faz lembrar a morte de pessoas queridas, ele sempre está presente em cartões de velório e em santinhos de missa. Só que a morte para o cristão é apenas um estágio para o renascimento e eu preciso entender o real significado dessa passagem bíblica assim como para a morte e também para os finais das histórias.

Na semana passada estive na casa de uma amiga que tem a sorte de ser amiga do Gilberto Gil. Ela se separou após trinta anos de casamento e foi desabafar com o seu sábio e talentoso amigo. E já chegou para ele assim:

- Pois é Gil, eu e o Arnaldo não demos certo...
- Hein? - ele interrompeu - (Ai, eu daria tudo para ver a cara do "hein" dele, com as sombrancelhas levantadas) - Como assim não deu certo? Vocês viveram juntos por trinta anos!!! Então deu certo por trinta anos! Quem disse que é para sempre?

Ai, como eu sou fã do Gil. Como eu sou fã das pessoas que entendem claramente isso, que tudo tem seu tempo, que depois que entra pelo pé do pinto vem outras quatro e que nada é para sempre.

Mas para quem adora o final dos contos de fadas o fechamento das histórias da vida sempre trazem decepções. O clássico "E foram felizes para sempre......" (assim, com reticências a perder de vista) pode parecer seguro e confortável, pode ser mais bonito e nos deixar na emoção da melhor parte da história por mais tempo, ignorando os pontos finais, mas é uma ilusão. Doce, mas é só faz de conta.

A gente decide; pode viver os sonhos e as frustrações quando os ciclos se fecham ou adotar a versão de mainha, embalada pela filosofia de Gil e tão bem descrita no livro de Eclesiastes.

Tentemos então:

"... E então a mulher que há muito tempo não era mais uma menina, não parava de olhar as ondas irem e virem. Até que levantou-se do banco, respirou fundo e olhou para frente. Começou a andar bem devagar prestando atenção para não tropeçar nas pequenas pedras do passeio. Passou pelo vendedor de caldo de cana, percebeu que as pessoas não podem dar o que não tem. Olhou para o mar de novo e entendeu que o amor transcende, muda de forma, pode ir e voltar sem a nossa autorização. Olhou para os pássaros voando em direção ao sol e sentiu que é possível amar de outro jeito, ou em outro tempo, o importante é não deixar de amar nunca. Passou por um menino tentando se equilibrar na bicicleta e viu que o amor nos enobrece, nos faz querer ser melhor, tentar e aprender. Nos faz ceder, vencer nosso orgulho e vaidade. Nos permite descobrir potenciais que não enxergávamos antes e às vezes nos absorve de tal forma que nos faz esquecer de todos os nossos potenciais para viver só o amor. Viu duas meninas correndo e se lembrou que o amor nos faz rir sem medida e nos faz chorar muito também. Viu o corredor muito veloz e suado e se lembrou que o amor pode ser uma aventura radical apenas para os que tem coragem. Ou pode ser mais calmo, que bom, pensou, enquanto um cãozinho parou para cheirar o seu pé. E ao passar por uma mãe sentada balançando um carrinho para o filho dormir, ela sorriu bem de leve enquanto entendeu que todo amor vale a pena ser vivido, que amar é um privilegio e agradeceu por esta grande oportunidade que a vida nos dá a todo instante, todos os dias."

E entrou pelo pé do pinto, saiu pelo pé do pato...




PS: Feliz ano novo, estava com saudade! :)