10 julho 2012

Pão De Cada Dia


Estou vindo de umas férias na roça, passei três semanas por lá. No último amanhecer daqueles dias senti uma vontade absurda de agradecer à Deus. Comecei orando o Pai Nosso, mas a parte do "O pão nosso de cada dia nos dai hoje" me pareceu muito pouco, nem sequer conta com a palavra "agradeço" para começar a frase! Daí fiz uma oração espontânea utilizando todas as palavras do meu repertório de gratidão, mas mesmo assim me pareceu muito fraco.

Joelhos no chão, mãos entrelaçadas sobre a cama, cabeça baixa. Respirei fundo. Aí sim, lentamente consegui me sentir suficientemente grata. O coração em paz. E chorei ao lembrar de alguns motivos:

Porque eu amo. Intensamente, algumas vezes incondicionalmente. Porque eu penso e percebo que a cada dia tenho mais cuidado com as palavras para não ferir os outros. Porque eu respiro e posso pegar oxigênio novinho a cada segundo. Posso sentir o cheiro da terra, do café e dos cangotes dos meus filhos. Porque eu consigo ver todas as cores, distinguir vinte tons de lilás. Porque eu sei andar e até correr e isso me faz sentir Incrível. Porque eu falo e sei falar de muitas formas. Porque eu sei escrever e escrevo sobre o amor. Porque eu tenho quem me leia! Porque amanhã vai ser um novo dia cheio de oportunidades. Porque mantenho amigos há mais de vinte anos. Porque é sempre tempo de fazer um novo amigo. Porque nada dói em meu corpo neste momento. Porque mesmo já tendo feito tantas bobagens eu sou amada. Porque não guardo mágoa de ninguém em meu coração. Porque aprendi a me perdoar. Porque posso tirar uma fruta do pé, porque existe chocolate, porque tomo banho quente. Porque aprendi a pedir desculpas e o melhor, até quando me sinto certa, só para evitar uma confusão. Porque acredito nas pessoas e no futuro, no meu coração transborda a esperança.

Daí (suspiro), cheguei na cidade e em dois dias ouvi três pessoas muito próximas me falarem sobre os seus sentimentos. Tristeza, solidão, letargia, angústia e ansiedade. Eles reclamavam dos mesmos sintomas mesmo sem se conhecerem. Poderia parecer coincidência se estas queixas não fossem tão comuns nesses últimos tempos. Falar que está deprimido hoje em dia já é quase tão normal quanto falar que gripou.

Comecei a pensar e a comparar a vida dessas pessoas com a minha, ainda inebriada pela sensação de gratidão da roça. Percebi que não éramos muito diferentes: idades, classe social, famílias, saúde, basicamente a mesma coisa. Os três possuem as oportunidades e são capazes de realizar todas as "proezas" do parágrafo grandão acima.

Então qual é a diferença?

Deixando um pouco de lado as questões física, biológica, genética, social e as demais que são estudadas diariamente e das quais não posso nem quero me atrever a discorrer, acho que o principal motivo das pessoas se sentirem assim é porquê elas não se enxergam.

Não enxergam seus potenciais, seus méritos, seus valores, seus amores, seus talentos, suas conquistas, suas chances, seus presentes, suas setas e seus avanços!

E sempre sem medo de ser feliz, aí vai mais uma teoria IF: Eu acredito que ser feliz é ser grato pelo que se tem. E com olhos e coração bem abertos. Essa gratidão vem do reconhecimento por tudo que Deus, esse grande mentor do universo, nos dá.

Eu tenho uma tia que recebe uma aposentadoria muito pequena. Por ela não ter filhos e eu a amar muito, sempre pergunto se ela está precisando de alguma coisa. E ela sempre dá a mesma resposta, "Preciso de nada Val, pense em uma pessoa que tem tudo que precisa, essa sou eu." Professora de felicidade, a danada.

Outra grande mestra foi a vida com suas lições, as dores que senti. Sofri o suficiente para saber valorizar qualquer momento de alegria.

Se temos a consciência do que temos e vivemos, deste grande privilégio que é a nossa vida e as suas possibilidades, atravessamos os problemas com força, serenidade e lucidez. Porque sabemos que eles passam.

Agora o bem que se faz (pelos outros e por nós mesmos) e os amores que conquistamos ficam. Nos preenchem e nos fortalecem!

Por tanto queridinhos, vamos cultivar o amor. Plantar novos, adubar os antigos. Regar a nossa capacidade de perdoar, aos outros e a nós mesmos. Cuidar da mente, crescer como gente, cuidar do nosso corpo que é um templo. E fazer do nosso amor por Deus uma frondosa árvore no peito, sempre cheia de novas folhas e frutos. Pedir a Ele para que nos traga a Sua paz. E por ela agradecer.













6 comentários:

  1. "Porquê eu tenho quem me leia!"

    Valeria,

    Impossivel nao te estimular a continuar escrevendo, mais, mais e sempre! Escrever tudo o que passa em tua cabeça tao pensante, porque você tem o dom de descrever sentimentos como poucos escritores que já li. Modernamente e com um toque de poesia em tudo que bota no papel (tela), percebo que vocẽ faz um bem enormeeeeeeeeeee aos que te leem.

    Há braços,
    Lourdinha

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  2. "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. (2) E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria." (I Coríntios 13:1-2 ACF1)
    Adorei, Val!

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  3. IF = Incrivel Fadinha. Tem varinha de condão, pó-de-pirlimpimpim e sabe transformar sentimentos nas mais belas e inspiradoras palavras... Deus te abençoe pela linda oração, minha Fadinha!!
    Com carinho,
    Paulinha :)

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  4. É mais ou menos assim; eu vejo uma coisa legal, penso em vocês e escrevo. Daí eu vejo que vocês gostaram e fico louca pra ver outra coisa legal pra contar para vocês. Que bom que alguém me entende! Muito obrigada queridas, mil beijos!

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  5. Adorei!!!
    Parabéns pela sabedoria, sabedoria que só tem quem vive de verdade, quem cai, levanta e continua com muito amor no coração!!Mesmo sem te conhecer "intimamente", enxerguei isto!!
    bj e siga sempre aprendendo e ensinando

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  6. E isso ai, amiga! Acredito que a felicidade eh consequencia direta do fato de enxergarmos e ato de agradecermos. Simples assim! Amei, Valzinha!!

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