Nesta semana eu presenciei um incêndio que me fez pensar muitas coisas.
Primeiro o grande espanto que o fogo nos causa. Com o seu poder, a sua velocidade e a sua impiedade. Um dos elementos da natureza que de vez em quando faz questão de nos mostrar o quanto somos impotentes. Ao ver o tamanho da chama e a altura da fumaça desde longe no caminho chorei muito: de tristeza, de preocupação e de medo.
Ao chegar lá e saber que ninguém tinha sido ferido me tranquilizei e agradeci à Deus. "A vida de alguém sim, seria irrecuperável", ponderei, para me consolar. E devagar me aproximei do local e comecei a observar o que estava acontecendo.
Vi muita gente desesperada. Entendi mais do que nunca a expressão "apagar incêndio", pois ficam todos atordoados correndo sem saber para onde. Vi um que quase tirou a camisa para tentar abafar uma chama que fosse. Telefonemas para todas os conhecidos, para os governantes, ligações diretas para Deus. Olhares para cima, quem sabe uma chuva? Não, dia seco e céu azul com cinza de fumaça.
Mas havia sim um chefe comandando a operação com a sua estratégia: isolar uma área ainda intacta e a partir dela investir contra o fogo. Várias mangueiras, espuma, jatos enormes que saiam dos carros em uma batalha incansável. Os nossos olhares seguiam a água como se pudessem colocar nela mais força. E depois de muito suor e aperto no peito conseguimos encharcar a área e impedir o avanço do fogo. A chama foi ficando cada vez menor como que se contentasse com o que já havia queimado e como se entendesse que a mensagem foi dada.
Porque sim, acho que as coisas acontecem para nos trazer sinais, setas e avisos. Sempre fico matutando para entender, gosto mesmo é dos recados mastigadinhos. Mas sabemos que não é assim que funciona nessa nossa escola. Só agora, uma semana depois, começo a decifrar um pouco esse recado, pelo menos o que estava endereçado à mim.
Vi manifestações de muita gente boa, vi vempresas que não tinham nenhuma ligação com a do incidente mandarem seus recursos. Vi ex-funcionários lá ajudando como podiam. Vi muita gente do lado de fora com olhares aflitos. Senti a vibração das orações e me juntei a elas.
Quando acabou vi equipes de pessoas que mesmo exaustas, no meio das cinzas, já montavam seus planos de ação para retomar o funcionamento da empresa.
E vi também naquela guerra que o lamentável acontece. Pessoas do lado do fogo. Gente fazendo piada com aquilo, fazendo pouco caso com uma grande fonte de empregos deste país. Esses em minoria, alguns gatos pretos pingados, é verdade, mas foi muito duro perceber, naquele contexto, que eles existem e estão a nossa volta.
Pensei na maledicência, na descompensação, nas carências de tudo, no atraso de evolução espiritual e na falta de educação mesmo. Na falta do aparelho que chamamos "desconfiômetro", aquele que acende para nos dizer até onde podemos ir. Até onde não ofende, não maltrata e não prejudica.
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o seu coração e amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Lucas 10:27) Nesses momentos eu me questiono, aonde achamos que poderemos chegar sem este princípio, com pessoas desejando aos outros o que não se querem para si?
Pensar nisso me entristece muito e eu prefiro tocar a vida focando no bem. E voltando às "lições do fogo" pensei que também podemos usar a estratégia do capitão dos bombeiros: deixar queimar o que não tem mais jeito porém isolando algumas áreas intactas. Não perder tempo e não gastar a nossa água tentando reaver o que já pegou fogo e sim preservar o que é possível. E partindo desta parte salva, reconstruir. Erguer um prédio novo de emoções com mais segurança e experiência.
Pensei também que muitas coisas são passageiras, efêmeras e descartáveis e que tudo aquilo que nos enche de soberba pode virar pó em questão de segundos.
Mas a fé, o espírito de união, a compaixão e a solidariedade constroem a energia que levamos para a eternidade. É a fórmula da água que vence as grandes lutas contra o mal.
Vamos então irrigar este mundo! Vamos multiplicar a paz e deixar transbordar a luz divina que há em todos nós. Só assim vamos parar de ter que passar por pelos incêndios para aprender. Desejo chuvas de renovação e cataratas de amor para vocês.
Puxa Val, como eh que isso aconteceu? Eh realmente muito triste e lamentavel saber que existem pessoas que acham graca do infortunio alheio! Mas gracas a Deus, o bem prevalece! Adorei o que voce disse: "A fe, o espirito de uniao, a compaixao e a solidariedade constroem a energia que levamos para a eternidade". Eh isso ai, Valzinha! E bola pra frente!
ResponderExcluirTodo sofrimento contribui para aprendermos algo nem que seja para a constatação dos opostos: bem-mal, quente-frio, tristeza-alegria, morte-vida...
ResponderExcluirTemos que presenciar a dor para darmos valor a paz que só existe na fome saciada, na justiça assegurada, na saúde conquistada...e tantas outras importantes condições para o bem estar e felicidade.
Beijão, Mamãe
É estranho como algumas pessoas reagem tão friamente ao drama alheio...
ResponderExcluirVal, faz tempo que não apareço, queria dizer que seu blog tá lindo, essa foto sua então...
um bjo, viu!
Sinto muito por vc ter tido essa experiência triste Val. Mas ao mesmo tempo fico feliz em saber que acabou tudo bem e que vc soube aproveitar a dificuldade pra viver ainda melhor. bjs
ResponderExcluir