Foi hoje. Acordei como todos os dias ao som do alarme do celular e saí pra fazer a ronda matinal chamando os filhos. Primeiro a caçula, depois o mais velho e por último entrei no quarto dela, já respirando fundo para rebater todos os argumentos da preguiça.
E estava no meio da primeira chamada quando eu os vi. Por toda parte: no chão, na porta, na mesa e pelas paredes. Dezenas de papéis com todas as cores, com desenhos e fórmulas, com vários tipos de letras enfeitadas. Lindos! Ela deve ter ficado até tarde organizando aquilo.
Parei. Se eu estivesse em um filme teria entrado uma luz na cena, como entrou no meu coração. Eu não sei em que mundo eu estava, eu sabia de sua letra linda mas porque será que não tinha visto nenhum daqueles desenhos antes? Ou se tinha visto porquê não os tinha percebido? Talvez estivessem na escola ou presos em um caderno no fundo da mochila, mas que desatenta que sou!
O fato é que levei uma rasteira. Uma sacudida bem forte e entendi. Percebi porque ela leva tanto tempo para realizar as suas atividades. Eu, na angústia de querer vê-la livre para ter um tempo para brincar e fazer outras coisas, a pressionava para que terminasse logo e isso nos gerava um grande stress. Muito influenciada também pela pressão escola, que passa um batalhão de atividades todos os dias, inclusive nos finais de semana. Um absurdo, enfim.
Não entendia que o tempo dela é outro, que o olhar dela sobre o mundo é outro e outra também é a sua maneira de representá-lo.
O que mais me chamou a atenção foram os desenhos de ciências. A readaptação na escola depois dos EUA não foi fácil e a sua maior dificuldade está nesta matéria, a única em que ela ficou em recuperação. E que por isso tanto sofreu. Ela quer ser boa em tudo, fazer bem feito, é impressionante. E vendo aqueles desenhos do corpo humano, dos ciclos das plantas e os grupos de animais, representados com tantos detalhes e destreza para uma menina de onze anos, me toquei. Acho que ela busca com eles a sua forma de entrar em contato com o assunto.
Eu, que não consigo sair dos desenhos da mesma boneca, da mesma casa e da mesma árvore que fazia aos sete anos, fiquei impressionada. Eu tenho um filho que toca e é rapidíssimo com cálculos, uma que canta e é super extrovertida e uma que desenha e é perfeccionista. Mas como assim se eles saíram de dentro de mim e eu sou um zero à esquerda nesses quesitos?
Tsc tsc, que pretensão mamãe... Eles vieram de Deus e logo sairão pelo mundo, com seus talentos distintos, com seus desejos e personalidades. Muito melhores ainda se você não atrapalhá-los, diga-se de passagem.
Ok, me rendo. Para tudo que os meus filhos me ensinam todos os dias. Me rendo à tudo que não sei. E te peço desculpas filha. Vá, voe, pinte o mundo com todas as cores que existem em você.
Eu vou estar aqui para te ajudar a administrar a parte "chata" que infelizmente é necessária para você aprenda a vencer todos os tipos de barreiras até poder se dedicar ao que gosta. E que sabe!
Você nasceu sabendo garota! Quantos demoram tanto ou passam a vida sem saber qual era a sua vocação. E os seus talentos desde já gritam! Que orgulho eu tenho. Seja qual for o modelo de família que nós temos, eu acho que está dando certo. Deve ser por conta do ingrediente mais poderoso em todas as receitas de educação: O AMOR.
Te amo mais que tudo desde que soube que você estava em mim, que você me escolheu para te trazer para este mundo. E quando te vi, bem antes de você pegar pela primeira vez em um lápis, imediatamente eu soube que você iria colorir a minha vida.