22 dezembro 2011

Detalhes de um mundo de primeira

Início do mês. Vida corrida normal de mãetorista para todos os lados. Paro na rua principal da cidade, a do píer, a única por que tem marcadores que medem e cobram estacionamento. Eu já ando com uma bolsinha cheia de quarters, as moedinhas de 25 cents que são "pau pra toda obra". Com elas é possível estacionar, comprar chicletes nas máquinas, fazer ligações e comprar até absorvente em banheiros públicos.
Então parei o carro, peguei um punhadinho delas e olha só o que encontrei:
Todos os marcadores da cidade estavam cobertos com um aviso dizendo que o estacionamento durante o mês de Dezembro era uma cortesia da prefeitura para desejar a todos Boas Festas!
É de tirar o chapéu, cair o queixo e arregalar olhos, tudo junto. Uma administração pública que já atingiu todos os objetivos de necessidades básicas da população e agora consegue chegar no detalhe.
Eu admiro mesmo: Não só tem água. Tem água potável em todas as torneiras que encontramos. Até no deserto onde morei, trazida por tubos imensos por centenas de quilômetros de distância.
Não só tem saneamento básico como tem banheiros limpos disponíveis em todos os lugares, vasos sanitários onde não precisamos tocar nas descargas e água quente nas torneiras. Não só papel higiênico como papel para assento e papel toalha que não acabam nunca.
Não só tem estradas. Mas sim rodovias espetaculares com várias pistas cada uma, sendo uma delas chamada car pool (a da esquerda) destinada apenas a carros com mais de duas pessoas para incentivar a prática da carona. Eu que só ando de galera me dou super bem.
Não temos só passeios e bancos impecavelmente limpos. Temos um programa de coleta e reciclagem de lixo em todas as casas, cestos separados por toda a parte e saquinhos biodegradáveis a cada vinte metros nas principais ruas de passeio para que possamos recolher as cacas dos nossos cãezinhos.
Não só há escolas públicas para todos. Mas sim uma educação de primeira, impulsionada por uma série de incentivos públicos e privados e medida rigorosamente todos os anos para manter a excelência.
Eu não tenho plano de saúde aqui porque não tenho o tal do Social Secure Number, o CPF dos americanos, o que me dá uma dor de cabeça danada. E infelizmente não só por dor de cabeça desde que cheguei eu fui parar em algumas clínicas e até no hospital. E eles me  atenderam primeiro e perguntaram como eu iria pagar depois. Recebi as contas em minha casa, salgadas por sinal, mas bem depois de ser atendida e medicada.
Segurança? Outro dia uns policiais pararam um amigo meu pra fazer uma inspeção. Detalhe; o rapaz estava de bicicleta. Falta do que fazer, só pode ser. Eu não tenho ideia de onde eles surgem nas pistas, de onde deve ser a "tocaia" ou o buraco negro em que se escondem nos seus carros e motos de primeira. E já que o post é pra falar de detalhes, cá pra nós, como eles são LINDOS! E educados e preparados. Ah, é porque ganham muito bem? É mesmo, deve ser isso.
Mendigo só fica na rua se quiser. Criança não fica na rua nem se quiser, de jeito nenhum. Há abrigos, orfanatos, programas de proteção e assistência por todos os lados. Nesse período de crise o governo chegou a dobrar o tempo do seguro desemprego para a população.
 E mesmo em um país rico as pessoas estão super engajadas pelas causas sociais; eu tive que participar de algumas mesmo sem muita vontade (prefiro sempre reservar para os necessitados que eu conheço no Brasil) tamanha foi a eficiência e a insistência das campanhas nas escolas das crianças.
"A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte", muito bem disse Os Titãs. Experimenta vir em uma festa de rua, nos concertos a céu aberto, nas praias, nos museus, nas bibliotecas e nos parques públicos. Experimenta vai!
E ai, que dor! A carga tributária daqui é menor do que a nossa. O que quer dizer que eles fazem tudo isso com menos dinheiro. Aliás, com MUITO mais dinheiro, pois o valor que pagamos através dos impostos chegam nas mãos de um sistema honesto e competente que investe onde se deve.

Ai ai... A minha mãe diz que eles estão trinta anos a nossa frente. Eu  acho que é mais, mas prefiro acreditar na visão otimista dela e ter a esperança de um possível Brasil melhor para os meus filhos. Fazer a minha parte para que eles alcancem um país que garante pelo menos as necessidades básicas dos seus cidadãos. E educá-los para que quem sabe até os meus netos possam morar em uma cidade brasileira que chega no detalhe e faz boas surpresas para os seus moradores.





15 comentários:

  1. GESTÃO PÚBLICA COMPETENTE É INCRIVEL.

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  2. Realmente, precisamos de melhores administradores, pensar sobre o voto com outros olhares, fazendo outras reflexões. Bom texto, bem incrível! E mostrando o lado falível de nosso Brasil.
    Marie - Chapada Diamantina
    www.aracamirim.org.br

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  3. O texto é deslumbrado demais e mostra somente os detalhes de um lugar fantástico, onde tudo funciona. À medida que fui lendo, a sensação de que ao final viria o contraponto, a revelação de que nesse lugar, que até então eu não imaginava onde seria, também há problemas! Poderíamos ficar sabendo que se trata de um país, onde a maioria dos habitantes, não faz a menor idéia do que acontece no mundo. Onde o valor comercial das coisas é maior que qualquer outra. Que é o país que mais se meteu em guerras nos últimos 100 anos, matando seus filhos e milhares de filhos de outros, enfim... Pensei que o texto fosse falar de algum país do mundo pelas bandas da Europa, menos dos USA. Curiosamente seu texto é recente e sabe-se que a crise nesse país é enorme, principalmente a crise moral. Vale lembrar que esse conceito de país de primeiro mundo é uma falácia preconceituosa. Só há um mundo! Espero ler por aqui um texto menos maniqueísta, pois nem tudo pode ser somente bom ou somente mal. Há sempre outro lado. Quanto ao Brasil, uma coisa é certa, os seus filhos herdarão um país onde o povo abraça de verdade, sorri com os dentes que tem, tem solidariedade de sobra, calor humano, pobreza financeira, mas bastante riqueza na alma.

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  4. Obrigada Jorge pelo seu interessante comentário e se você puder ler outros textos meus (até nessa mesma página), vai ver que faço outras várias abordagens, inclusive sobre os abraços e o nosso incomparável calor humano.
    Esta foi apenas a exploração de um ponto de vista.
    Valeu a contribuição, adoro a discordância, ela sempre acrescenta.
    Seja bem vindo!

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  5. Valéria,

    Há 40 anos ouvi da tua mãe e minha professora de english (ótima por sinal) um depoimento igualmente deslumbrado sobre a "qualidade de vida" dos norte americanos. À época, eu com 15 anos, quando a elegantérrima professora relatou que nos EUA os jornaleiros deram lugar às máquinas automáticas, onde os leitores depositavam moedas e pegavam os jornais sem qualquer vigilância, me insurgi e respondi: mestra, eles não se preocupam com roubo de jornais porque estão roubando NAÇÕES inteiras. Possivelmente a professora Edilse não se recorda dessa aluna que tanto a admirava, mas com a ressalva a esse deslumbramento que se confundia com anti nacionalismo.
    Anos depois, quando conheci o berço do imperialismo (New York), confesso que tentei perceber a propalada qualidade de vida e não consegui. O que vi foi uma "selva de pedra" igualzinha a nossa (São Paulo). mendigos e dependentes químicos no metrô, gangues nas ruas, imigrantes matrapilhos...
    Caminhando um pouco mais, conheci uma cidade linda; Niagara, no Canadá. A simpatia foi tamanha que a elegi como o lugar para viver a velhice. Lá tudo me pareceu funcionar. Realmente havia qualidade de vida naquela pequena cidade canadense, limítrofe com os EUA.
    Mas, anos depois, resolvi conhecer o estado do Rio Grande do Sul e, surpresa, percebi em algumas cidades gauchas, entre elas Gramado, uma beleza e infraestrutura muito semelhante a Niagara. Desisti dos EUA. Me convenci de que no Brasil temos "New Yorks" e "Niagaras" e que nos EUA e Canadá temos municípios como "Cansação", na Bahia, onde a extrema pobreza ainda choca corações e mentes mais sensíveis. Mais que isso, descobri que o melhor lugar do mundo pra se viver é onde nos sentimos felizes.

    Há braços,

    Lourdinha Lôbo

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  6. Lourdinha Lobo disse melhor o que eu quis dizer! Fiquei pensando o dia todo no quanto fui enxerido em entrar em seu blog, que aparentemente parece o de uma adolescente deslumbrada com o chamado "primeiro mundo", que de primeiro, no sentido de se apresentar como um "modelo" não tem nada, é o último, um país sem alma, com valores deturpados, verdadeiros ladrões exploradores, etc, etc. Como já me intrometi antes, vou te deixar uma dica, ainda que não tenha pedido: Sempre que escrever, vá fundo no que diz, procurando sempre ser crítica, mostrando os lados, os pontos de vista amplo. Não se engane que ninguém vai ficar procurando seus textos anteriores para saber o que você pensa. Escrever, ainda que seja um blog de confissões de uma vida pacata, é um exercício duro. Se deu a cara, tem que aprender a levar o tapa. No meu caso, que jamais pensei em bater em quem quer que seja, não é um tapa, mas é um abrir de olhos. Abra seus olhos para o mundo onde vive, os USA é de longe com o tal conforto que você enxerga, um pobre país rico! Obrigado por sua gentileza em me desejar boas vindas.

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  7. Jorge, a minha experiência com os EUA não vem de suposições ou de qualquer tipo de conceito idealista ou anarquista. Escrevo pelo que vivencio dia-a-dia neste país há um ano e meio e por ter uma grande família e bons amigos americanos que são exatamente o oposto de tudo a que você se refere.

    Aceito de bom grado a crítica para abordar os dois lados em cada texto, acho muito pertinente e estou aqui para aprender.

    Por isso, muito obrigada. Quanto a parecer uma adolescente deslumbrada para você, paciência. Apesar de ser bastante romântica e sonhadora, em nenhum momento tive a pretensão de achar que poderia agradar a todos.

    E assim, protegida pelo escudo do bom senso, por minha consciência e pelo meu indiscutível amor pela nossa pátria sigo escrevendo o que acredito e sim, estou preparada; que venham os tapas.

    E se vierem em formato de um "abrir de olhos", melhor ainda. Até!

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  8. Lourdinha, já viu que filha de peixe... (E por coincidência nós duas somos deste signo, rs)

    Muito obrigada por sua participação e pela elegância do seu comentário, eu adorei!

    Acho que algo que pode estar aumentando o ângulo deste contraste é o fato de que estou morando no estado mais rico dos EUA, a California, e vindo de um estado brasileiro que tem sofrido muito com os dois últimos mandatos da mesma gestão, a Bahia.

    Porém eu sei, reconheço e me orgulho muito de todos os avanços do Brasil, já estive algumas vezes no sul do país e em Gramado, no Canadá também. E consigo enxergar a qualidade de vida a que você se refere.

    E sim, graças a Deus eu sou feliz aqui e muito mais ainda na Bahia, para onde estarei retornando no próximo mês, com fé em Deus.

    Espero continuar contando com sua opinião sincera por aqui. Seja muito bem vinda!

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  9. Valéria,

    Só para te situar: fui aluna de Edilse, Eleusa e Elena. Também fui colega de Deise e tive de Susan e Claúdia, no Canadá, uma fraterna acolhida. Elas são amigas de uma amiga minha que morava em Toronto quando lá estive em viagem de férias.
    Venho utilizando o Face, um hora por dia, somente para resgatar pessoas que tiveram passagens importantes em minha vida. Está sendo super legal! Já encontre um monte de amigos(as) de infância e estou me deliciando com isso.
    Quanto à crítica que você faz ao atual governo da Bahia, formado por uma coligação de partidos de centro e esquerda, mas captaneada pelo Partido dos Trabalhadores, informo que sou fundadora do PT na Bahia, mas costumo receber críticas como contribuições, ainda que tenha de divergir das avaliações feitas, muitas vezes de forma equivocadas e injustas. Sempre fui uma INSURGENTE, quase ANARQUISTA, e, por isso, também faço sérias e contundentes críticas aos nossos governos (municipal, estadual e federal). Mas penso que não há como fazer comparativos com os governos que nos antecederam, nas três esferas. Estou absolutamente consciente da necessidade de fazermos avançar mais e mais as políticas sociais em nosso país, sobretudo com uma política de distribuição de riqueza e, muito especialmente, com a promoção do acesso à terra para todos os brasileiros e brasileiras que dela foram expulsos pelo invasores de colarinho branco. Nos últimos meses tenho me dedicado a estudar a questão agrária no Brasil e estou escandalizada com os fatos que somente agora tenho conhecimento.O fato que melhor evidencia o momento que vive o nosso país, guindado ao lugar de 6ª maior economia mundial, não me "enche os olhos", mas devemos reconhecer como mérito dos nossos atuais governantes. Eu quero muito mais que o FMI sendo nosso devedor. Quero o povo brasileiro vivendo em outro patamar de civilização, com dignidade e soberania.

    Há braços,

    Lourdinha

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  10. Lourdinha, eu dou uma boiada para não entrar em uma questão política, definitivamente não é a minha praia. Escrevo pelo que vivencio, leio e ouço falar sobre a gestão do atual governo baiano.
    E no final, na última linha, nós queremos a mesma coisa, o povo brasileiro vivendo em outro patamar de civilização. E ponto final.

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  11. Valéria,

    Só abordei a questão política por que me senti provocada (risos). A verdade é que sou apenas uma mulher LIBERTÁRIA que enveredou por um caminho sem volta e que não recomendo a ninguém, por que é muito mais penoso do que se possa imaginar. Meus filhos haverão de trilhar outros caminhos que não a política partidária para defender a Liberdade, que muitos resolveram apequenar e chamar de Democracia. O filho mais velho, que é médico, é tão libertário quanto a mãe, porém mais inteligente (risos).

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  12. Aff!!!! Muito orgulhosa da minha mammys Poliana tupiniquim!!! Respostas coerentes, educadas e sensatas aos palpiteiros de plantao. Existe muita gente amarga que, nao encontrando na vida real quem os escute, resolve destilar o odio de seus ressentidos coracoes no mundo virtual. O pessoal ta precisando relaxar, passar uma temporada na Disney ou em Sucupira, terra do queridissimo Odorico Paraguacu! kkk Como dizia meu amado Painho, "palpite de jegue e' gangalha". E tenho dito! ;-P

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  13. Cada vez mais consigo enxergar como tudo na vida tem dois lados, ou tres , ou varios... Na verdade eh o olhar de cada um, a historia de cada um , que vai construindo suas opinioes e vivendo a vida como o mundo se lhes apresenta. Mas contra fatos nao ha argumentos. Ha mais qualidade de vida na America do Norte que no Brasil ? FATO. Os baianos , e especificamente os soteropolitanos perderam a auto estima, o Estado mais alegre do pais perdeu a sua alegria. FATO.Galera, tem politico que rouba merreca de gente miseravel ! Atualmente nao tenho um pingo de orgulho de ser brasileira, menos ainda de ser baiana ( e olhe que eu sou ROMANTICA !) Rsrsrsrsrsrs. Feedback eh sempre bom. Comentarios pertinentes mas muito amargos foram feitos, me encantou o ultimo. Fica a dica : FAÇA MAIS , FALE MENOS, DOE MAIS, SE DEFENDA MENOS e deixem de buscar cabelo em ovo ! Bjo no coração.

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  14. Gente, vamos botar pra cima, bem pra cima! Esse blog, ao que me parece, não tem o objetivo de fomentar a discórdia! Viva a vida d@s que sabem vivê-la! Viva a INCRÍVEL falível!

    Há braços,

    Lourdinha

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  15. Gostei! :) Tinha que terminar assim, afinal esse é mesmo um blog da paz!
    Beijos para todas!

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A INCRÍVEL falível espera ansiosamente por um comentário seu: