06 março 2016
14 agosto 2015
MultiplicAção do Bem e Frutos de Mães - Como tudo começou pra mim.
Hoje, quando cheguei na creche, encontrei a Mirian diferente, estava com um sorriso um pouco maior. Quis logo entrar na arrumação do escritório, mas ela me pegou pela mão para ver as suas panelas. Tinha frango ensopado com legumes, arroz, feijão, e mamão cortado para a sobremesa. Nada fora do normal, se isso fosse pelo menos um pouco fácil para ela de conseguir. Mirian, que é a presidente da Creche Frutos de Mães, em Massaranduba, é herdeira da empreitada da mãe, que começou essa história ficando com os filhos das vizinhas mais pobres do que ela, na antiga Palafitas, há 28 anos. Mirian agora está cozinhando cinco refeições (quando tem), para 100 crianças, porque ela não pôde pagar o salário de R$500,00 que a cozinheira pediu. Na segunda-feira, ela me disse que eles estavam comendo soja há semanas, por falta de outra proteína e de feijão. Não havia bolachas ou pães, por isso a opção do café da manhã era sempre mingau, e às vezes tinha que pular os lanches, e ir direto pro almoço ou pra sopa. A doação que ela buscou da prefeitura essa semana foi composta de algumas mangas bem maduras e um monte de iogurtes a dois dias de vencer. Entregamos R$264,00 à Mirian, o que foi suficiente para garantir a complementação da alimentação da semana, e a receptividade sorridente da presidente.
Acho que todos pensam um pouco sobre isso, eu nunca entendi porque sempre tive tanto, uma vida, mais três filhos com saúde, fartura, amor, tempo e oportunidades, tudo com tão pouco esforço. Mas algo me dizia, e não foi ninguém, outro dia eu vi no livro de Lucas 12: 47 e 48, "Pedir-se-á muito àquele que muito recebeu, e prestará contas aquele a que foram confiadas muitas coisas.", mas eu já sabia. No começo tentava ajudar algumas pessoas, mas não era isso. Entrei em um grupo, o Voluntários de Coração, que faz eventos e ações em prol de instituições beneficentes de Salvador, no qual sou muito feliz com meus amigos há 8 anos, mas não foi suficiente. Juntei então outra galera e formamos o MultiplicAção do Bem, que tinha o intuito de fazer melhorias estruturais e administrativas pelo período de uma ano em cada instituição. Passamos um com a Creche Béu Machado, com um resultado, digamos, razoável. No ano passado fomos para a Frutos, e aí sim, foi feito um bocadinho mais, através de reformas. Havia problemas com o telhado, com a calha, com o esgoto, infiltrações, era uma doideira, quando chovia muita água entrava e pra sair era um sufoco. Resolvemos isso em parceria com o grupo do Voluntários e foi tão bom ficar lá, que esticamos por esse ano e reformamos a cozinha, vamos inaugurá-la no próximo dia 22 /08, e você é o nosso convidado!
Tinha acabado de chegar o mês de Agosto, era o dia 05. Por oito meses estávamos remoendo a decisão, olhando outras creches para mudarmos, fazendo outras coisas, eu estudando e lançando o livro, foco nenhum. Até que, a gosto de Deus, eu espero, resolvemos: vamos ficar na Frutos de Mães até que ela se torne sustentável. Afinal, ver que a chuva não traz mais transtornos é bom, mas não adianta muito se toda vez que vamos lá, encontramos o freezer vazio. Fui dizer na reunião que não tínhamos meta de saída dessa missão, e o grupo todo riu, lembrando da Dilma, que tinha acabado de se embananar com as metas dela. Espero que sejamos bem diferentes, no nosso caso não ter meta ou prazo é até bom. Quando se trata de MultiplicAção do Bem, sabemos mais ou menos como começar, mas como imaginar aonde isso vai nos levar?
Desde esse dia não durmo direito, pensando em possibilidades e escrevendo, fazendo sonhos virarem projetos. Coisa de mulher apaixonada. Já estamos nas redes sociais, e em breve vamos divulgar as formas de participar e multiplicar algumas sementes de solidariedade. Muito trabalho, justificadíssimo pelo segundo puxão pela mão da Mirian, dessa vez pra eu ver os meninos comendo, aquela centena de pratinhos com o mesmo tanto, com todos em silêncio, sem bagunça, ninguém diz que não gosta de feijão, ou de mamão. Até os de um ano de idade pegam na colher direitinho e satisfeitos. Quando olhei pra eles hoje, pros meus pequenos mestres, eu senti: até que enfim estava no lugar certo.
19 julho 2015
40NOW
Aproveitei o primeiro domingo pós férias pra ficar em casa e dar uma olhada em várias pendências, entre elas, um livro que ganhei no natal, o Guia de estilo 40FOREVER, da Ana Cecília Lacerda, Bebel Niemeyer e Maria Montenegro. Acho que demorei tanto por causa do "guia de estilo" no título, afinal quem tem estilo mesmo, não precisa de guia. Ou talvez, quem sabe, lá no fundo, pela outra parte, a que trata-se de um livro para as mulheres de 40 que querem ter 40 pra sempre. Não, nem venham dizer o contrário; que seja fácil mudar de década. É gratificante, é importante, é emocionante, é tudoante, menos fácil. Eu acabei de virar. Quer dizer, já tem uns três meses, digo, quatro, mas a ficha, assim como o metabolismo, vai ficando cada vez mais lenta.
O livro começa dando umas dicas de cremes, de maquiagem que até mereceram umas sublinhadas. Até que chegou nas roupas, onde uma das autoras disse que minissaia nem pensar para as mulheres de 40. Eita! Eu já vinha sentindo, me desfazendo aos poucos das bichinhas, deixando passar batido nas araras e olhando com mais atenção para o comprimento de tudo o que vestia, mas ver ali no quesito 27 do manual das quarentonas, foi duro. Sim, sofrem muito mais as vaidosas que procuraram a vida inteira alternativas mirabolantes e sacrificantes de modalidades de malhação das pernocas.
Há quem diga com propriedade um bom dane-se e vista o que dá na telha. Tudo bem, afinal cada vez eu percebo mais que as pessoas reparam menos na gente. A questão é, até quando vai a liberdade de fazer o que se quer, usar minissaia, e onde entra a não aceitação de um novo tempo, um novo corpo, e uma nova postura?
O não enfrentamento do processo de envelhecimento me parece bem mais aterrorizante do que o julgamento e a ridicularização dos outros. Foram 40 anos de minissaia por aí, será que não está bom? Olhar mais para o corte e a elegância do que para a forma que roupa nos dá, mostrando aqui ou apertando ali, acho que é uma boa troca.
Assim como trocar a euforia pela perseverança, a instabilidade pelo equilíbrio, a busca pelo auto preenchimento, a superstição pela fé, a força pela estratégia, a paixão pelo amor, e a resistência pela aceitação, entre tantas outras.
Trocas, mudanças de fases, evolução. Largando aqui pra ganhar ali. Até ficar velhinha e ficar "invisível", o que também não é de tudo ruim, tenho uma sábia tia que diz ser uma total libertação! Dos olhares, das cobranças, poder enfim largar pelo caminho o peso, o tempo e o preço que nos custa a vaidade. Já pensou nisso?
Pois bem, acho que vou seguir a leitura das senhoras colegas. Mesmo ainda discordando do título. Da mesma forma que não dá pra usar minissaia, também não dá pra ter quarenta pra sempre. Que venha a próxima década, com suas perdas e ganhos. Aliás, pode vir, mas sem pressa, ok? ;)
Com eira e beira - FLIP 2015
Faz tempo que não via algo tão interessante como a Flip, a Feira Literária Internacional de Parati. São palestras e debates com gente muito boa, intercalados pelo turismo charmoso que a cidade oferece. Além da programação oficial, de onde é possível assistir, de forma confortável e gratuita, às entrevistas, já que eles disponibilizam telões e cadeiras do lado de fora. Além das opções nas ruas da cidade, como os stands da Folha, do Sesc, e a Casa de Cultura.
Pra não fugir do meu jeito, é lógico que marquei umas bobeiras por não ter pesquisado melhor, como reservar um hotel afastado da cidade e não me inscrever online nas palestras e workshops maravilhosos que aconteceram. Corri pra procurar por qualquer pousada no centro histórico, pois um dos baratos de Parati é esquecer o carro, e foi difícil, mas consegui. Também chegamos na hora de início das apresentações e as perdemos porque não pegamos as senhas. Afinal, estávamos com crianças e não dava pra conciliar tudo. Tudo bem, se acabei de decidir que esse evento entrou no meu calendário como favorito, outras Flips virão!
Pegamos uma desculpa com as crianças e subimos em uma charrete para um passeio, puxada por um velho cavalo com o interessante nome de Kinder Ovo. Tratava-se, segundo o guia, de um animal, cheio de surpresas. Não entendi também até ele empacar diante de uns cabos elétricos que cruzavam a rua, cobertos por uma proteção, que parecia um quebra-molas. Sabe-se lá o que o Kinder pensou ser aquilo, já que Parati, com aqueles paralelepípedos enormes, não precisa de quebra-molas. O simpático guia fez o que pôde, mas o animal não quis conversa, deu a volta e foi por outra rua. Em uma dessas ruas, o guia nos mostrou os telhados com eiras e beiras nas casas, um acabamento que demonstrava o poder aquisitivo dos residentes. O que deu origem à expressão: "sem eira nem beira", sobre os não tão bons partidos para se casar.
Assim passei meus quatro dias, passeando pra ouvir gente inteligente e pensar coisas novas. Observando, curtindo e percebendo Parati, com um final de palestra aqui, o meio de outra ali, um grupo cantando na esquina, uma peça de teatro mais adiante, um almoço na praia, um vinho no friozinho à noite, e em ótima companhia, comendo uma tapioca em um dos cafés da cidade. Definitivamente, Parati nos faz sentir afortunados. Com eira, beira, e sobra.
Notaram o vestido? ;) |
26 maio 2015
25 maio 2015
A viagem do adolescer
Estava em um bate papo animado com umas amigas, quando aparece o assunto de filhos adolescentes. Uma delas me contou que certa vez ouviu de um amigo:
- Socorro! Suspeito seriamente que apareceu uma nave espacial em minha casa.
- Como assim? - Ela falou.
- Só pode ter sido, Camila!! Entraram aqui de madrugada, levaram meu filho e deixaram outro no lugar. Eu quero meu filho de volta!!!
Na hora eu ri muito. Primeiro, pela forma espirituosa com que ela contou. E depois, pela rápida identificação.
Ele conseguiu descrever o que acredito que a maioria dos pais passaram, inclusive os nossos. De repente o(a) nosso(a) filhinho(a) tão carinhoso(a) que nos perguntava tudo, nos oferecia desenhos, beijos e abraços sem limites, e fazia tanta questão de sua presença, dá o lugar (sem a nossa permissão, lógico) à um ser à beira de um ataque de nervos, que bate portas para sempre ficar sozinho(a) no quarto, e quer fazer, se vestir, e escolher tudo conforme o oposto do que você orienta.
Essa é a lição de número 178 para a valorização dos nossos pais quando nos tornamos um.
Aí haja leitura! Gosto do Stephen Covey, apesar de ter bastante resistência aos métodos globalizados para "o sucesso pessoal", e desconfiar bastante de quem chama carinho e cuidado de "depósitos na conta bancária emocional", credo. Porém, encontro algumas coisas bem boas nas entrelinhas dos seus manuais. No livro Os 7 hábitos das famílias altamente eficazes, ele diz que a maneira com que nós, pais, desempenhamos o nosso papel de mentor (com exemplo, empatia, partilha, valorização e orações e sacrifício, ufa!!) especialmente perante o filho que mais nos desafia, exerce um profundo impacto no nível de confiança da família inteira. É esse filho que testa a nossa capacidade de amar incondicionalmente. Quando o mostramos amor incondicional, os outros filhos também concluem que nosso amor por eles é incondicional.
Amor incondicional, esse tipo tão profundo e raro que brota naturalmente e vive renascendo nos corações de pais e mães. É o que fornece a paciência, a vontade de fazer o melhor possível em cada situação, e a serenidade de esperar o tempo necessário para o adolescer. Camila disse que outro dia encontrou o mesmo amigo e ela perguntou pelo ET, quer dizer, pelo adolescente:
- Ah, já destrocaram e devolveram o meu filho, graças!!!!
Ela riu feliz com a notícia, e eu também. Com a tranquilidade de quem já foi ET. Se essa viagem dolorosa chamada adolescência precisa ser feita, que os nossos filhos saibam que existe uma base amorosa para onde voltar. E que não demorem!!!
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