01 dezembro 2014

Meus dois vestibulandos


Depois do tempo mínimo necessário pra saber se o negócio tinha chance de vingar, estava na hora de contar pro filho da existência do novo namorado. Especialmente porque os dois moram na mesma cidade e eu estava sem ter como explicar as minhas desaparecidas. Imagina, logo a mãe.
Pensei em algo que eles tivessem em comum, esperei uma hora calma, enquanto ele lanchava, olhando pro celular, lógico, pra puxar o assunto:

- Filho, sabia que eu estou namorando?
- Hum - essa é a palavra que mais ouço nos nossos diálogos, não sei precisamente qual é o significado, mas pelo menos ela indica que ele me ouviu.
- Pois é, depois de tanto tempo né? Porque você sabe, não tá fácil. Primeiro eu pensei que fosse pela má qualidade dos homens, sabe?
- Hum.
- Lembra que eu comecei até a meditar e a orar pra mudar a frequência, melhorar a energia que eu estava emitindo?
Dessa vez não teve "Hum", só a mordida num biscoito de chocolate.
- Então, depois eu vi que não eram eles, eu é que estava ficando problemática...
- Pciso stdá! - ele disse, levantando.
- Hã?
- Preciso estudar Val!! - Ele me chama assim, vê se pode.
- Ah ta. Olha, ele vai fazer o mesmo vestibular que você no domingo!
Ele parou, engoliu sem beber o suco, e, pela primeira vez em dois dias, olhou pra mim.
- Quantos anos ele tem, Val? - dessa vez ele articulou. Fiquei até emocionada, fazia tanto tempo que ele não me fazia uma pergunta!
- 23, por que? Achou que fosse da sua idade? - Não resisti, ele ficou mais branco do que é.
- Brincadeiraaaaaaa!!!!! Ele tem 42, inventou agora fazer outra faculdade.
- Hum - Dessa vez com uma piscada de olhos demorada, um gole no suco, e eu quase pude ouvir um suspiro.

O alívio foi tamanho que ele até perguntou pra qual o curso, e depois da prova, como foi o resultado do digníssimo. Eu achei a maior graça da situação, torci dobrado no dia, quase copio e colo a mesma mensagem de boa sorte no zapzap. Acompanhei o resultado e para essa primeira fase, parece que os dois passaram. Coisa boa é estar cercada de homens inteligentes e nem um pouco acomodados.
E o melhor, espirituosos. Que bom, porque com bom humor fica bem mais fácil de levar o amor.


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