Coisa boa é saber desde cedo o que se quer. Eu demorei horrores, o que me fez dar mil voltas pela vida, o que também não é de tudo ruim. Quando pequena estava bem inclinada a ser algo entre artista, dentista, professora e astronauta.
Já a minha filha não é assim. Ela tem um dom, que em inglês quer dizer gift, um presente. Agora pra gente chegou mais um período de mudança e com ele mais uma garage sale, uma oportunidade de vender a preço de banana para os vizinhos tudo o que não queremos mais.
Pode ser até bem barato, mas a garota não abre mão de cada centavo. Na última que fizemos na Bahia para reverter o dinheiro em leite em pó para uma creche, quando alguém pedia: "Ah, deu R$21,00, faz por R$20 pra facilitar o troco..." ela dizia: "Eu tenho troco!" já colocando a mão no caixa. E completava: "Lembre-se que vai virar leite para as crianças..." e acabava com o argumento.
Dar valor ao dinheiro, esse é o sinal número um do seu dom.
Segundo; ela é fera em melhorar a aparência do produto. Entrego uma caixa de roupas velhas e ela num passe de mágica de bom gosto transforma tudo em especial; seja colocando em cabides, dobrando direito, combinando as peças e enfeitando-as para chamar mais atenção.
Tem mais, já nasceu sabendo que a propaganda é a alma do negócio; a nossa briga maior é porque ela quer colocar cartazes desde quinze dias antes por toda a vizinhança. Eu restringi o seu raio de acesso a nossa casa mesmo e a figurinha não se fez de rogada; colocou nas portas da frente e de trás, prendeu um cartaz no balde de lixo no meio da rua, criou um evento no Facebook para convidar quem conhecia e tentou divulgar na escola com cartões, mas como é proibido ela investiu no boca a boca mesmo. E espalha anúncios coloridos com sua letra linda (é super perfeccionista) por toda a mercadoria.
Quarto; tem força e disposição para trabalhar. Enquanto a irmã se cansa nas primeiras duas horas ela fica até tarde no frio mesmo sem ter uma alma passando na porta, teimando comigo para não fechar. Não quer mais ir pra escola, comer e ver TV; ela só quer, só pensa em vender.
Quinto, sabe tudo de estratégia de vendas; monta intuitivamente o que no comércio chamamos de "bois de piranha", com caixas bem localizadas com produtos em oferta: Pay for two, get one for free!
E pra fechar, sabe atender e agradar aos clientes; a sua garagem é perfumada, usa papéis de seda coloridos nas sacolas (tudo usado, mas fica lindo), sorri e oferece balas (tem umas que sobraram do Halloween, eu já falei que podem estar velhas, mas às vezes ela não dá a menor bola para a minha consultoria).
E nessa brincadeira ela vende viu? No caso da garagem daqui ela fica com o dinheiro. E junta, não gastou nem um dólar do que fez no ano passado. Pensa aí, a pessoa já saber fazer dinheiro aos onze anos! Abrir uma porta de uma garagem sem um cent e fechar o dia com U$ 100, 200...
Eu fico inchada de orgulho. E aliviada também, acho que quando a gente sabe o que quer desde o começo, investe certo desde cedo e se adianta na vida. Ela tem uma programação, quer uma loja para trabalhar o quanto antes. E quem sou eu pra dizer não? Estou aqui pra abrir os caminhos da galera, quero que ela experimente sim e se gostar, que se desenvolva!
É o mínimo que posso fazer para reconhecer esse dom que é um presente da família do pai. É muito bacana saber que saiu de mim (esta criatura IF até hoje meio perdida) uma criança talentosa e decidida. Precisamos regar direito essas plantinhas para ver crescer árvores fortes. Ela é uma "Figueira" com genes aditivados, tem tudo para acontecer. Peço a Deus que a abençoe e que se for isso mesmo que ela quer, que então em sua vida ela venda muito! Essa cliente aqui já está na mão.
Valéria,
ResponderExcluirPenso que tendemos a nos sentir "alividas" quando percebemos que as nossas crias não têm as características que em elgum momento nos foram cobradas como necesárias para a nossa "sobrevivência" ou "progresso".
Recentemente experiementei esta sensação quando um filho, que é médico, para comprar um veículo, fez uma planilha com tantos cálculos, tantas indagações que num primeiro momento chegou a me dar medo. Ele contabilozou os valores dos veículos preferenciais, as facilidades e vantágens de financiamento de cada marca, o consumo de combustível, os custos das revisões, os custos médios das peças e acessórios mais importantes, o valor de revenda em períodos de 2 em dois anos, os valores dos seguros...
Quando vi a planilha que ele construiu me perguntei: com quem esse menino aprendeu isso, se eu sempre compro o que me dá prazer sem me importar com nada disso? Penso que, em geral, se bem orientadas, as nossas crias tendem a ser melhores que nós em tudo. A minha torcida é para que consigam também ser mais felizes, por que isso é o que realmente importa!
Há braços,
Lourdinha
Puxa, que coisa boa, Val! Essa menina vai longe! Ja estou vendo que daqui a pouco ela sera uma grande mulher de negocios! Ela transmite uma energia imensa, e os olhos brilham como se fossem duas estrelinhas, fazendo juz ao que ela eh: uma estrela a caminho do sucesso! Que bencao de Deus!!!
ResponderExcluirOh, mas que lindinho! É preciso mesmo valorizar os talentos dos nossos pequenos, tens uma empreendedora em casa, Val.
ResponderExcluirbjão!