Filho, me empresta seu Ipod?

Como já disse aqui, a minha mãe tem talento para a música. O dom pulou uma geração e foi bater no meu filho. Ele toca guitarra, aprendeu pela internet, me enlouqueceu até que comprei uma, daí resolvi investir e colocá-lo para ter umas aulas, o que está valendo muito a pena.

O seu ouvido é apurado não só para tocar mas também para selecionar o que ouvir. O Ipod dele é Incrível, eu sempre pego as músicas dele pra botar no meu.

Outro dia ele me arrastou para um show do ZZ Top e ontem fomos ver o Eric Clapton. Eu nem sei como ele fica sabendo disso, às vezes eu acho que ele tem um chip na cabeça conectado com a internet via wi-fi 24 hs.

E assim, no Gibson Amphitheatre, no meio de um público na média de 50 anos lá estava o meu garoto, compenetrado. Foi engraçado, nós chegamos mais cedo e estávamos comendo pipoca ansiosos, daí bem na hora de começar o show chegaram dois homens enormes e sentaram-se exatamente na nossa frente. Cá pra nós, tem horas que acho que estou em um  filme da IF... Só sei que ele foi mais pra frente, para o lado e se colocou precisamente no meio dos dois.

E não falou nem uma palavra, não cantou, não dançou nem fez balancinho com a perna. Só ouviu atentamente, parando de vez em quando para filmar pelo celular.

Fiquei olhando para ele com aquele som maravilhoso ao fundo, pensando na vida e no tempo. Outro dia eu o estava levando para parques e agora para shows. Pensei no lado bom de ter filho jovem, são só 20 anos entre nós dois e estávamos alí para ver alguém que despontou bem antes inclusive da minha geração.

O campeão é um garoto de quinze anos caseiro, tranquilo, que quase nunca me pede nada, daí quando ele pede eu faço mesmo. Viajei por mais de uma hora para levá-lo e voltei assim que terminou, depois da última palma da última música do bis, como ele queria. Em plena terça-feira, tendo que levar todo mundo pra escola no dia seguinte. E detalhe: no ápice de uma crise de rinite alérgica, posso assegurar que o que meu nariz pingou neste percurso daria pra encher um balde.

Mas cheguei feliz da vida. Primeiro porque ele disse no meio do caminho que me amava me fazendo cafuné.

E segundo porque eu sei que daqui a alguns dias ele não vai nem querer saber da minha companhia. Então deixa eu aproveitar a chance de sair com esse moço bonito enquanto eu posso, e de quebra assistir aos concertos dos maiores clássicos do rock da atualidade.