25 setembro 2013

A beleza do vazio



Se você tem uma forma minimalista, pura,  concentrada no eixo de um espaço, tudo mais é o silêncio, então a forma passa a ser a única nota musical daquele silêncio, então ela tem um reverberação, ela tem uma força muito maior, é o silêncio do vazio. Isso tanto pra arte quanto pra música, para o que for.
Ouvia isso ontem na carona do meu amigo e artista plástico Eliezer Nobre. "Para, para, para!" Não titubeei, peguei o celular para gravar e pedi para ele repetir, não queria perder nada. O exemplo que ele deu das artes plásticas com a música tinha tudo a ver com o meu momento na literatura. É meu desejo possibilitar aos meus textos a chegada da beleza do vazio.
Ele seguiu em um ritmo em que só as nossas conversas são capazes de alcançar, tentando permitir apenas alguns silêncios para não ser incongruente. É, conversa de gente sensível precisa muito de silêncios. Ele trouxe o exemplo das mostras de decoração onde tudo é perfeito, caro e de última geração. O que falta? O silêncio. Disse dos desfiles de moda, a caricatura do excesso, o que falta? O vazio.
Logo me veio à mente o mestre em teatro Harildo Déda na frase núcleo de todo o seu ensinamento para a arte do ator: "Menos é mais!", do quanto é difícil limpar uma cena e fazer um personagem sem representar. E ele exemplifica bem a riqueza do simples com o genial "Poeminha do contra", de Mário Quintana: "Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho." Ou Clarice Lispector quando diz "Mas já que há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas."

Isso nos faz lembrar que assistir teatro sujo e caricatural é uma das piores torturas que existem, e que também é possível parar de respirar com uma pausa bem feita, no teatro e na dança. Já imaginou uma música sem pausa, uma vida sem pausa?
Portanto, sugiro o silêncio e o vazio agora. A omissão, o que não foi colocado, o espaço, o que não precisa ser dito, o subtexto, a vírgula, o ponto e as reticências. A imaginação, o não ser, o insípido e o inodoro, o branco, o imóvel, o ar, o céu sem a nuvem, o nada.
Para que o movimento e a forma apareçam com esplendor, para que as notas nos toquem, para que os aromas nos arrebatem, para que os sussurros nos chamem e para que as palavras cheguem, enfim, ao coração.

18 setembro 2013

Oásis



Quem já sentiu o amargor do revés do amor sabe
Como arde quando a alma chama o corpo para onde ele não pode voltar.
O que acontece quando uma pessoa só nos falta e o planeta fica deserto,
Quando há centenas de sorrisos à sua volta e nenhuma alegria,
Tantas lâmpadas acesas e nenhuma luz.
Quando todas as razões não explicam nada
E todas as músicas machucam.
Quando as noites são intermináveis
E o ar é insuficiente
Em uma saudade que não tem fim.

Vale a pena tudo isso só para,
Sorrir sozinha, do nada, à toa, algumas vezes?
Só para sentir o coração saltar com um bipe de telefone
E por instantes perceber tudo fazer sentido?
Só para saber o que é ser hipnotizada com um olhar
E se perder completamente em um sorriso?
Para encontrar no corpo de alguém
O seu encaixe perfeito?
Só pelo prazer fácil, natural e extremo?
Conhecer o que é ter mundo inteiro em um quarto,
A vida toda em um instante,
No silêncio do universo?

Quem souber que conte
Qual é o saldo dessa conta.
Se vale a pena ultrapassar
Essa linha de chegada ilusória
Tão perigosamente perfeita, este oásis,
Pra depois saber quanto foi.

O meu respeito aos que seguem com bravura,
Emendando os cacos das dores das paixões,
Buscando o foco depois dos tropeços
E aproveitando a beleza das jornadas.
O meu espanto a esses heróis dos acomodados,
Gladiadores de si mesmos,
Guiados pela esperança com sinais cada vez mais distantes,
Que ignoram o óbvio, o provável e o lógico,
E permitem a vida de verdade acontecer.


O beijo, de Gustav Klimt

12 setembro 2013

Boazinha uma p...!


 "- Ela é mansa, passa uma paz né?" ou "Você é sempre calma assim?" Outro dia ouvi de um: "- Eu não consigo falar palavrão perto desta mulher, ela me deixa sem graça!"

Ô coisa irritante! Os rótulos! Boazinha, educada, caridosa, atlética e bonita. Atenção, PERIGO! Ai de quem tentar fazer por merecer isso tudo, vira escravo. É como correr uma maratona iron man sem linha de chegada. Não vale a pena, há não ser que você tenha alguma pretensão política ou comercial com a sua imagem ou haja um sério interesse em comprar um apartamento de cobertura com vista pro mar no céu.
Isso porque estamos falando dos rótulos "bons", merecedores de muitas aspas. Imagine os rótulos negativos, esta redundância sem tamanho, tentar se libertar de um estigma, apagar um código de barras que tatuaram em você.
Ter um nível básico de ética é suficiente ser catalogada quase como um santo? Qual é o parâmetro? Desde quando honestidade e caráter são considerados elogios? É muito fácil ser fazer um trabalho social e malhar todos os dias quando não se precisa trabalhar. Eu sou forte como um touro, eu medito para controlar uma ansiedade imensa e só eu sei como gosto dos prazeres mundanos, eu adoro a vida! Esta sou eu, nós somos incrivelmente falíveis e é importante não nos enganarmos para não enganar ninguém.
Tudo bem, eu não carrego um grande repertório do baixo escalão das palavras, mas quem é íntimo já me viu esbravejar e falar o que for preciso pra desabafar. E tenho amigos que falam palavrões naturalmente, são divertidíssimos, e o mais importante, são autênticos! Além do que falar palavrão é uma arte, não é pra qualquer um.
Eu gostaria de ser mais espontânea e há quem diga que gostaria de ser "phyna” como eu (o termo assim, com o deboche que lhe é de direito). Como se o fato de ser tímida ou de falar palavrões agregasse alguma coisa.
O que não quer dizer que eu não possamos mudar se quisermos. Somos humanos e o mais fantástico dessa condição é justamente a sua complexidade. Nós não somos, nós estamos em contínuo processo de desequilíbrio e transformação, sob o aspecto físico, mental, emocional e espiritual, influenciados por inúmeros fatores genéticos, sociais e naturais.
Nós nos reinventamos o tempo todo! E usar a opinião dos outros para isso é opcional. É maravilhoso buscar por novas versões e para isso nada melhor do que o nosso próprio desconfiômetro! De vez em quando é válido nos desconstruirmos para ver se conseguimos montar algo mais legal.
Então como rotular? Como alguém pode saber quem somos agora, neste exato momento? Nem nós nos conhecemos direito, o que dizer dos outros!
E cuidado com as aparências. Elas são as cores e os formatos dos rótulos, não dizem nada sobre os produtos. Estes podem te decepcionar ou surpreender. Eu por exemplo, na próxima vez que ouvir que eu sou boazinha e mansinha e fofinha eu vou falar grosso e garanto, não não vai ser só:
- Boazinha uma p..., uma pinóia!



11 setembro 2013

Perguntas de minha criança


Qual é o limite de idade para:

Aprender a nadar,
Começar a tocar um instrumento,
Se apaixonar?
Aprender italiano e ir à Toscana praticar,
Sentar em um balcão de bar sozinha e pedir um dry martini,
Se perdoar e perdoar os outros,
Viajar sem destino?
Assumir uma preferência sexual,
Acompanhar o universo dos blogs, e-books e apps,
Cantar? Meditar?
Fazer um streaptease,
Pintar um quadro, um cômodo, um móvel, o sete?
Montar a cavalo,
Jogar xadrez,
Conversar com gente inteligente,
Voltar a namorar o seu marido?
Subir em um palco,
Subir em uma montanha,
Ler muitos livros,
Escrever o seu livro?
Dançar uma música na sala,
Chamar as amigas pra dormir em sua casa,
Começar a plantar, a cozinhar, a gargalhar, a dar banana para quem merece?
Brincar de adivinha, de nomes dos bichos que começam com "b",
Mergulhar no mar?
Qual é o limite de idade para conquistar um novo grande amigo?
Com quantos anos devemos parar de aprender e desistir de nos tornar mais interessantes?
Qual é o limite de idade de ser você?
Qual é a hora de começar a esperar pela morte?
Quando é que precisamos começar a reclamar, a ter medo, a culpar os outros, a se arrepender por nossas escolhas e a tomar remédios para depressão?
Com que idade precisamos acabar com os espelhos?
Alguém aí sabe dizer? Ainda não consigo entender alguns adultos.
Talvez você consiga me ensinar a envelhecer.
Quem sabe se todos combinarem que é assim que tem que ser eu vou acabar aceitando.
Posso abandonar o francês, a dieta e os sonhos.
Parar o meu filme e começar a assistir às novelas pra ter assunto.
Acreditar que a gente nasce só e morre só;
Aceitar que as pessoas precisam morrer antes de morrer;
E começar a parar de amar.




10 setembro 2013

Um exercício de fé – por uma conexão online com Deus


A oração sempre esteve por perto. Antes de dormir, quando não estava muito cansada, antes de comer, de vez em quando ela aparecia rápida e silenciosa, para pedir proteção para os filhos quando me separava deles e, de vez em quando, para alguém que pedia. Ah, e todas as vezes que o avião acelerava para decolar, essa eu não esquecia.
E corre a vida, as provações chegam e passam, sempre diferentes e sempre deixando os seus rastros. E depois da última eu parei para pensar mais profundamente sobre elas. Demorou para que eu percebesse que essas marcas não precisam ficar e se instalar em forma de amargura, decepção ou mágoa.
Até então, estava tão absorta e apegada ao problema, respirando-o, comendo-o, acordando cada vez mais cedo para rolar com ele na cama e o permitindo ficar girando à minha volta sem parar, aonde quer que eu fosse, que não dava para enxergar a saída.
O Sri Sri Ravi Shankar no livro “Deus ama diversão” diz  que não deveríamos ir a médicos quando estamos deprimidos. Ele orienta: “Ame a sua depressão.”  “Você já amou seus sentimentos mais baixos?” Nos recomenda irmos fundo até encararmos os nossos medos. Diz que, quando chegamos l,á tudo é muito, muito bonito.
Isso parece estranho, mas chegou para mim como uma sopinha quente no inverno. Eu fui até lá e encontrei o caminho para poder voltar. Nossa, como eu agradeço aos anjos que escrevem assim, aos que nos indicam estes livros e aos que sopram no ouvido a hora certa de abri-los.
E, assim, comecei a fazer uma pesquisa para uma tese sobre a ponte entre as provações e o desenvolvimento da espiritualidade orientada por Deus e Sua equipe. Encontrei nos livros que eu já tinha lido palavras novas, conceitos inéditos e ensinamentos preciosos que sempre estiveram ao meu alcance.
É, a fruta não cai  mesmo do pé sem estar madura.
E eu, que fui criada na Igreja Batista tradicional, batizada na católica, na dor mais forte conheci o Espiritismo e o Espiritualismo, constatei que as religiões cristãs são unânimes em recomendar a prática da oração e da meditação.
E foi através deste trecho do Evangelho segundo o Espiritismo que tudo se encaixou:
"A prece do cristão deve ser feita logo ao acordar, quando o Espírito retomou o domínio do corpo após o sono. Deve elevar-se em agradecimento aos pés da Majestade Divina com humildade, do fundo da alma, agradecendo todos os benefícios recebidos até aquele dia; pela noite transcorrida, durante a qual vos foi permitido, embora inconscientemente, ir até junto de vossos amigos, vossos guias, para renovar, ao contato com eles, vossas forças e confiança. A prece deve elevar-se humilde aos pés do Senhor, para Lhe confessar a vossa fraqueza, e suplicar amparo, indulgência e misericórdia.
Vossa prece deve conter o pedido das graças que tendes necessidade, mas das autênticas necessidades. É inútil pedir ao Senhor para encurtar vossas provas, para vos dar alegrias e riquezas. Rogai-lhe para vos conceder os bens mais preciosos: a paciência, a resignação e a fé. Pedi, antes de todas as coisas, vossa melhoria e vereis que imensidão de graças e de consolações se derramarão sobre vós."
Sabe quando depois de muito quebrar a cabeça você entende o assunto? Entendi porque eu estava acordando mais cedo, entendi qual é o meu lugar, a importância das provações e das preces, entendi tudo. O tempo que me foi concedido não era pra ficar remoendo o passado, mas, para eu abrir um campo para que Ele pudesse me encher de paz. Isso depende de uma ação! Nossa, de mais ninguém, depende de querermos de verdade, mais do que qualquer coisa, estar na presença de Deus. 
Desde então estou treinando como para uma maratona, leve e sutil, mas intensa e que exige determinação: Faço as respirações do curso "Arte de viver", rezo o terço pelas causas e pelas pessoas que me aparecem no momento, medito em uma afirmação escolhida na noite anterior,  e depois fico ali, quietinha, curtindo as cores que aparecem com os olhos fechados até sentir uma alegria imensa...
Isso dura mais ou menos uma hora, e acaba no momento em que o sol desponta de uma casa à esquerda de minha varanda. Esta é prática feita por mim para mim. Acho que cada um deve criar a sua, de acordo com as referências e as suas crenças.
O resultado segue comigo durante o dia em tudo que eu faço, isso reflete em todas as minhas palavras, ações e decisões. Sigo orando o tempo todo em doses homeopáticas. Mas já sei, o prazo de validade é de 24 horas, no dia seguinte é preciso reabastecer.
É um exercício como outro qualquer. Quando fazemos atividades físicas ganhamos condicionamento, consciência corporal e agilidade para as atividades. Ganhei com esta prática mais fôlego para as adversidades, mais discernimento para as decisões e mais resistência para os desafios. E, o melhor, uma maior conexão com o divino.
Eu tenho uma amiga que disse que isso é estar online com Deus, eu adorei. É isso, Ele chegou mais perto e me permitiu uma conexão, porque eu O chamei de verdade. E estou fazendo questão de Sua companhia o tempo todo. Porque eu adoro estar em comunhão com Ele e na presença dos Seus anjos, companhia melhor não há.
Assim inspirando profundamente me inspiro e escrevo. É necessário compartilhar o que temos de melhor.
Para encaixar as peças e para aceitar o que não está ainda ao nosso alcance. Para desenvolver a percepção, entender o propósito das pessoas e das provações em nossa vida para estar preparado para o que vier. Direto da Bíblia da minha avó, o que nos ensinou o mestre dos mestres, Jesus, e que com um grande júbilo acabo de comprovar:

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se vos- á.
Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.  
                                                                                                               Mateus 7:7-